(Fotos: Divulgação/Wallace Feitosa)
"As artes são transparentes, não precisam de cor, produzem sombras porque são iluminadas"
"Sombras e transparências" é uma experiência única. A exposição, que tem a curadoria de Antonio Geraldo e texto de João Bosco Millen, pode ser visitada até domingo, 22, no Espaço das Artes Zélia Arbex, em Volta Redonda. Quem divide, soma e multiplica as emoções com os visitantes é Sergio Garloppa. O artista plástico, produtor artístico e cultural, multimídia, com atuação em diversos segmentos da arte, é carioca e morador de Volta Redonda há 18 anos. Presente e atuante nas manifestações culturais na cidade ao longo desses anos, autodidata sempre, mantém neste misto de exposição e instalação um diálogo constante com o espectador.
Confira a entrevista com Sergio Garloppa
Como e quando surgiu a ideia de "Sombras e transparências"?
Todo artista tem um pouco de Narciso, famoso personagem da mitologia grega, e sempre se vê refletido em sua obra. O espectador, por sua vez, tocado por ela de alguma forma, se identifica e se torna Narciso também! Neste momento mágico, artista, obra e espectador se tornam transparentes e viram luz! Testemunhas deste momento único, as sombras acabam por se revelar-se.
Isso foi exatamente o que senti ao visitar a exposição do fotógrafo Sebastião Salgado, quando presenciei um menino de talvez um pouco mais de 6 anos e muito ativo, ficar "transparente" diante de uma foto do Salgado. Durante todo o circuito da exposição, o menino corria, falava alto, fazia muito barulho, chegando mesmo a incomodar. Sua mãe chamava sua atenção toda hora. De repente, o menino silenciou e ficou observando uma das fotos, a menos de um metro de sua mãe. Ela, acostumada a sua agitação, sequer percebeu que ele estava ali, e começou a procurar o menino desesperadamente perguntando a todos se não tinham visto o Jr. Por um momento todos correram os olhos pelo ambiente procurando pelo menino, que permanecia ali, em silêncio, transparente e absorto. Foi quando percebi que serenamente sua sombra contemplava, embevecida, aquela foto.
Eu visitei a exposição e percebi que o conceito vai além de uma exposição "tradicional", beirando uma instalação. É essa a intenção?
Sim, é um misto de instalação e exposição, a forma como estão expostas as obras, os painéis, fazendo inclusive a galeria se tornar transparente, pois do lado de fora da galeria você consegue ver todas as obras sem precisar entrar ou seja a transparência é explicita, logo no começo tem a instalação
Tansparências
Um portal (penetrável) com fitas de plástico 0,20mm, pontilhado com algumas etiquetas redondas, prata, a proposta é que o espectador logo na entrada se toque com a transparência, tema proposto na exposição.
No Salão Transparente
Sete trabalhos sendo: cinco personalidades reconhecidas mundialmente e duas grandes obras de arte, que na visão do artista retrata um pouco a transparência ou nas atitudes ou na obra ou na importância para a humanidade. As obras feitas com plástico vinil e oxidação (ferrugem produzido por Bombril).
No Salão Outro Olhar
Neste salão composto por quatro obras do artista sendo: três quadros e uma instalação, os quadros da série Linhas e a instalação Banho de Cultura.
No Salão Sombras
Neste salão composto por quatro instalações do artista: O artista propõe um jogo lúdico e transparente, onde as obras falam por si,
• As obras Ao Vento e na Chuva e Sombras misturam as transparências, as sombras e linhas que permeiam a obra do artista, numa visão lúdica.
• A obra Bala Perdida é o resultado de uma pesquisa de dois anos acompanhando o noticiário dos jornais populares, o fato foi perdendo espaço até não ser mais importante como notícia, se banalizou.
• Sombras, Luz e Transparência, uma instalação construída durante a montagem, e pontua a exposição com alguns elementos que encontramos nas Sombras e Transparências.
Espelhos e Sombras
São sete trabalhos em papel nacarado emoldurados e sete sombras fixadas pelo chão, estes trabalhos mostram a transparência entre artista, obra e espectador, ficando como testemunha a sombra do expectador.
"A arte sempre me surpreende
e a todo instante me ensina algo"
Quantas obras compõem a exposição, quais os tamanhos, os materiais utilizados, as técnicas...
São 23 obras, diversos tamanhos e vários materiais, Bombril, plástico vinil transparente, branco e preto, etiquetas, recorte de jornal e técnicas diversas oxidação (ferrugem), colagem, pintura, bordado etc...
Como foi o processo de criação, em quanto tempo os trabalhos ficaram prontos?
As obras oxidadas foram feitas durante a montagem da exposição. E algumas obras eu já tinha prontas, são as que compõem o Salão Outro Olhar e a Tela Bala Perdida.
Que análise você faz do atual cenário das artes plásticas em Volta Redonda?
O cenário atual é muito promissor, acho que os conceitos estão mudando tanto na visão do artista, como na do público que quer mais, tem mais informação e exige mais do artista.
Sua arte tem como base a emoção, a técnica, a mensagem, ou tudo junto e misturado?
Acho que a emoção e a mensagem (mesmo que subliminar) são o fio condutor da obra, depois que decido pela técnica, que acaba misturando tudo.
O artista plástico é essencialmente estético em seu trabalho ou mantém um diálogo com o social e o político?
Eu não consigo desassociar o social e político das artes, a estética, como o significado já diz, é meramente estético e tem que estar inserido de alguma forma no social e no político, é nisso que acredito.
Você vê renovação nos artistas plásticos da região? Estão surgindo novos talentos ou estamos meio estagnados nesse processo?
Sim, com certeza o mercado se renova ou rebusca velhos artistas com novos olhares, a todo instante, acho que o volume de informação, de exposição, de intervenções tem proporcionado o surgimento de novos talentos.
Existe espaço para todo tipo de artes plásticas na região? Ou os ditos "alternativos" ainda enfrentam preconceitos e barreiras no mercado?
Sim, acredito nisso, novos espaços estão surgindo, nova forma de fazer e expor arte, as ruas, novas mídias e suportes, contribuem para fomentar o mercado, as barreiras e os preconceitos existem e estão aí para serem quebrados e é isso que a arte atual vem fazendo.
O que vem por aí? Projetos futuros.
Realmente não sei ainda, estou lambendo a cria, gostei muito do resultado da exposição, acho que mostra um Sergio Garloppa um pouco desconhecido de algumas pessoas, e acho que contribuo com esse momento que vive as artes em Volta Redonda, porém espero poder levar essa exposição a outros lugares, mas a cabeça não para, tenho coisas em mente para novos trabalhos.
A exposição, por João Bosco Millen
"Sombras e transparências", do artista plástico e produtor cultural Sergio Garloppa, tem um misto de instalação e exposição, a mostra é composta por algumas obras em stencil, quadros com papel e linhas, e algumas instalações, são peças inéditas que transpõem toda a criatividade do artista. A instalação "Cultura Privada" que depois de fazer parte da exposição "Atelier Aberto II", realizada em outubro de 2012, está também presente na mostra.
Para produzir as telas, Sergio Garloppa explica que utilizou técnicas de oxidação (ferrugem produzido com Bombril) sobre plástico transparente, linhas sobre papel e colagem sobre tela, plásticos transparentes e fragmentos de poesia.
Com uma linguagem moderna e contemporânea, a exposição propõe um olhar transparente para arte. A obra e o espectador se fundem, tornando-se transparentes, restando somente à sombra pra registrar esse momento de magia.
A ideia é trazer uma reflexão atual sobre a transparência nas atitudes, nas ações, uma transparência lúcida, de gente de verdade, sem retoques, sem artifícios. Transparência nas artes, transparência na vida, transparência na política e que cobremos do poder público mais eficiência na gestão, transparência e controle do dinheiro público. O povo tem fome de verdade e está sequioso de transparência. Os políticos precisam mudar a cara, a ideia, a vontade, os objetivos. Precisam ter transparência, agilidade e comprometimento com a sociedade.
Serviço
> Sombras e transparências - A exposição tem a curadoria de Antonio Geraldo e texto de João Bosco Millen. Visitação: até 22 de setembro, das 10 às 19h, no Espaço das Artes Zélia Arbex. Rua 14, s/n. Vila Santa Cecília, Volta Redonda.