(Fotos: Divulgação/Jana Machado - Lottus Produções Fotográficas)
"Com o tempo comecei a ver falhas em comportamentos de várias hastes
no que dizemos produção artística em Volta Redonda, mas creio que a
maturidade venha com o tempo para todo mundo e as coisas se acertam"
Rodrigo Hallvys está numa fase de "ficar nos bastidores" durante a maior parte do tempo. O motivo? O ator e diretor, que é de Volta Redonda, dirige atualmente a sua própria produtora (a RH Soluções Artísticas), no Rio de Janeiro. "Estou aberto aos trabalhos sem deixar de filtrá-los", diz, enfatizando que está mais calado mesmo. Hallvys é conhecido na Cidade do Aço por trabalhos realizados no Grupo Estudarte. Graduado em teatro e com oficinas e workshops no currículo, agora abre a proposta para vertentes distintas e está produzindo material para atores também em Volta Redonda, onde mantém fortes laços. Conseguimos que o artista deixasse a introspecção de lado por alguns momentos nesta entrevista ao OLHO VIVO.
Veja um vídeo produzido pela RH Soluções Artísticas
Confira a entrevista com Rodrigo Hallvys
"O que mais pesa é a saudade das pessoas que sempre me
deram as mãos, tanto em Volta Redonda quanto na região"
Como foi a decisão de voltar a morar e trabalhar no Rio? Foi um processo longo e como isso aconteceu na prática?
Quando eu retornei a Volta Redonda, em meados de 2002, o planejamento era para ficar fixo durante apenas seis meses, mas também criar algo para produzir na cidade. Contudo, as coisas aconteceram de outra forma e fiquei durante anos. A decisão já estava tomada, mas o processo foi lento. Eu queria voltar para o Rio com mais estrutura, mais conhecimento, mais amadurecido, mais técnica... E isso levou um tempo para ficar do jeito que precisava.
Ao voltar para o Rio, você já tinha a sua linha de trabalho pronta? Ou seja, onde e como atuar?
Fiquei dois anos vivendo entre Rio e Volta Redonda, por conta da faculdade em Barra do Piraí e do Estudarte. Só terminei de trazer minha mudança para o Rio quando concluí a faculdade. Nesse período eu precisava descansar a minha cabeça quanto à área artística. Eu estava esgotado por vários motivos somados. Então fiquei oito meses trabalhando com logística administrativa, que é algo que também gosto pela organização e burocracia, pois me apetecem. Saí do trabalho de logística em um dia e, no dia seguinte, recebi um convite para voltar a trabalhar com arte. Entendi isso como um sinal do Universo. Contudo, não considero ter "uma" linha de trabalho como saudável. Se o artista não procura experimentar várias linhas e em desenvolver várias ele só vai saber produzir de uma maneira. Acaba se limitando de alguma forma e fechando algumas portas até para o seu sustento.
Agora você tem a sua empresa de produção de arte, certo? Como e em que ela atua?
Produzimos casting e equipes de produção para eventos, shows, congressos. Preparamos atores, desde a concepção e construção de um trabalho até o comportamento no mercado. Fornecemos e preparamos materiais para eles, como books e videobooks para os que precisarem se cadastrar em emissoras e produtoras de cinema. Esse material é preparado por uma equipe de roteiristas e cineastas. Preparamos alguns atores para um concurso em teatro e cinco deles foram indicados às premiações, recebendo alguns dos prêmios e acabei sendo indicado também no quesito direção. Preparamos alguns outros para audição de uma releitura de "Chicago" e todos eles foram aprovados. Fiquei satisfeito quando me ligaram dando a notícia. E um dos novos trabalhos que estamos prestando é com preparação e produção de animais para novelas também.
Qual o trabalho mais recente realizado por você (sua empresa) aí no Rio?
Foi o Festival de Esquetes Estudantis de Vargens, em dezembro. É algo um tanto semelhante ao que fazíamos com o Estudarte. Porém, mais simples ainda.
Você já havia morado no Rio, depois retornou a Volta Redonda, onde realizou inúmeros trabalhos. O que ficou desse período, dessa vivência artística em Volta Redonda?
Gratidão e carinho por muita gente. Só com o Estudarte foram sete festivais. Muitas pessoas que não tinham ligação direta com os envolvidos no grupo passaram a acompanhar o nosso trabalho. Depois que ingressei na faculdade de teatro a coisa melhorou muito, porque tive oportunidade de rever os erros que eu cometia em direção e pude aprimorar o trabalho para corrigi-los.
Não há como comparar o movimento artístico entre as duas cidades? Ou há? O que pode ser mudado para intensificar a produção artística em Volta Redonda?
Comparar movimento é uma questão delicada e precisamos ter um determinado tato, pois cada movimento se organiza de acordo com a realidade que existe em sua vivência. E as realidades entre as cidades são discrepantes demais. Posso comparar a realidade, mas não tenho como dizer um caminho absoluto, afinal, não vivo em todos. Com o tempo comecei a ver falhas em comportamentos de várias "hastes" no que dizemos produção artística em Volta Redonda, mas creio que a maturidade venha com o tempo para todo mundo e as coisas se acertam. Pelo menos, creio ter vindo para mim e tenho certeza de que daqui uns anos ainda serei bem diferente de agora. Para intensificarmos temos que analisar e reanalisar o próprio trabalho constantemente e buscar caminhos de desenvolvimento e sustentabilidade. Afinal, investimos para viver e sobreviver de nossas carreiras.
Você sente que os artistas locais amadureceram em seus trabalhos? O que mais chamou a sua atenção nesse período em que você ficou em Volta Redonda?
Seria errado generalizar. Cada artista é um ser. Faz as coisas no seu próprio tempo e se desenvolve de acordo com seu próprio ritmo. Vi muitos amadurecendo, outros nem tanto. Aprendi com muitos e me decepcionei com vários. O que mais me chamou a atenção foi a fragilidade de ego de alguns e a falta de ética que acaba sendo desencadeada. Isso foi tão forte que precisei me policiar para não cometer os mesmos erros que os outros. Até cheguei a "pisar na jaca" durante um período, quando mais novo. Porém, quando percebi, procurei consertar e até me afastei de determinadas situações. Aprendi a ouvir mais e falar menos sobre muitas coisas e, principalmente, cuidar do meu trabalho e não ficar vigiando ou metralhando o que não me diz respeito.
"Aprendi a ouvir mais e falar menos sobre muitas coisas e,
principalmente, cuidar do meu trabalho e não ficar vigiando
ou metralhando o que não me diz respeito"
Tudo na vida tem seus pontos positivos e negativos. Morar e trabalhar no Rio não seria diferente. Como você lida com isso?
No Rio a informação artística chega a você de forma mais acessível sim. Você vive de bilheteria sim. Você tem opção de viver de comercial ou experimental sim. E até tem oportunidade de fazer as duas coisas. Afinal, você tem que saber quais são as "suas artes". Você é obrigado a melhorar seu trabalho para conseguir mantê-lo porque há uma concorrência enorme. Sem contar quando você perde algum trabalho para alguém que não tem um grande preparo. É uma realidade que fui aprendendo a lidar. Mas o que mais pesa é a saudade das pessoas que sempre me deram as mãos, tanto em Volta Redonda quanto na região. Saudade machuca e é um ponto não muito positivo em alguns momentos.
Com a experiência adquirida nos trabalhos da sua empresa aí no Rio você pensa de alguma forma trazê-la para Volta Redonda?
A ideia de montar uma produtora veio em 2002, retornando a Volta Redonda. Imagina o desastre que seria. Eu estava muito imaturo e despreparado naquela época. Ainda bem que não aconteceu (risos). Mas já estamos começando a preparar algo sim. Fizemos parceria com o estúdio Lottus Produções Fotográficas, em Volta Redonda, para produzir books especializados para atores da região, que pretendam chegar com material de qualidade no objetivo de cadastros em emissoras de TV e produtoras de cinema. Também estamos abertos para montar casting e equipes de produção para eventos e publicidade na região. E pretendemos aumentar o número de palestras. Com o tempo as coisas se acertam.
Projetos, o que vem por aí?
Hum (pensa). Ainda não sei o que vem pela frente, mas assim que souber eu volto para contar (risos).
Serviço
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