(Foto: Magela Bastos)
"Algumas exposições que passam pelo Zélia Arbex,
como a do Playmobil; pra mim, aquilo foi estranhíssimo"
Performance com Zaqueu Pedroza e Rita Cataldo. Uma instalação. Um espelho d´água no chão com 2m x 2m. Alguns elementos oxidando, ou seja, os trabalhos sendo formados com o tempo que a exposição ficar no Espaço das Artes Zélia Arbex, em Volta Redonda. Tudo isso aconteceu ontem à noite, 13, na abertura de "Antonio Geraldo - 20 anos com terra, minérios e pigmentos naturais". Obras de tamanhos variados, as maiores são de 2,20m x 1,90m. Os materiais? Oxidação, terras, minérios e fuligem (mato queimado). A visitação pode ser feita apenas até o dia 20 de março.
Confira a entrevista com Antonio Geraldo
O que você preparou para essa exposição comemorativa aos seus 20 anos de arte? Esses trabalhos foram feitos pensando nessa exposição específica? Ou são trabalhos fazendo uma retrospectiva da sua carreira?
Essa exposição seria na Olaria NovaDutra, dentro de um forno, e foi adiada para cumprir agenda doZélia Arbex. A maioria são trabalhos novos, feitos na olaria, aproveitando as sucatas de ferro de lá, as fuligens foram feitas no ateliê, tem alguns poucos trabalhos antigos.
Nesses seus 20 anos, que análise você faz da sua evolução como artista e ser humano? Foi um processo difícil e como você trabalhou isso internamente?
Com certeza essa evolução acontece e sinto. Foi a arte que me levou a ler mais, ser crítico com certas questões. Realmente não sei como seria se não tivesse entrado neste universo. Sou autodidata, comecei minha primeira exposição aos 35 anos (trabalhei na CSN, depois Fundação CSN, mas fui pegar minério deles lá), uma fase que já deveria ter definições profissionais. Então me parece que a arte nos quadros e com o material que eu uso é que se apropriaram da minha vida. Quando fui em Itabirito (MG) pegar terra, por um instante passou pela minha cabeça estar ficando louco. Esse pensamento não ficou na minha cabeça nem um segundo, me firmei e foi ótimo. Alguns anjos terrestres colaboraram, como quando fui em uma mineradora sem marcar nada, simplesmente cheguei (poderia ser barrado na portaria), me receberam com café. O chefão chamou um geólogo para me acompanhar (tinha levado sacos de arroz e fita crepe) e em uma camionete fomos na mina. Eu pedia para parar e enchia os sacos, isso não durou mais do que uma hora. Levaram todas as terras para onde estava hospedado (táxi para a rodoviária, ônibus Itabirito/Belo Horizonte, rodoviária Volta Redonda, em casa à noite). De manhã vi aquela quantidade enorme de terras... E agora? Isso foi em junho 1993. Em novembro, fiz minha primeira exposição pelo Gacemss (Grêmio Artístico e Cultural Edmundo de Macedo Soares e Silva). Com certeza os preconceitos, os temores familiares aconteceram. Mas eu nunca percebi.
(Fotos: Divulgação)
Você é uma referência quando se fala em arte criativa na região. Era esse o seu objetivo desde o início? Como as coisas foram acontecendo?
Tentaram me colocar no esquema, mas fui por outras vias. Gosto muito do que eu faço. Quanto ao objetivo, não sabemos o que iria acontecer nem como estaríamos hoje, são inúmeros fatores. Acho muitas pessoas criativas, deve ser coisas de neurônios, mas o meio que elas vivem dá condições para sermos criativos, nada divino, nada vindo de céu. As coisas vão acontecendo no decorrer da vida (imagina se saio agora e um carro me pega).
A exposição, infelizmente, ficará pouco tempo no Zélia Arbex. Ela vai para outros locais depois?
Infelizmente, o prazo está sendo curto no caso do Zélia Arbex, precisam se organizar para cumprir o calendário das exposições. Estão resolvendo isso com proposta de artista em dupla, o que não acho nada legal. Outra coisa que eu acho um problema para o calendário anual são algumas exposições que passam por lá, como a do Playmobil. Pra mim, aquilo foi estranhíssimo. Já vi exposição de fotos de uma igreja, Projeto Vida e outras que não têm a ver com a galeria. Essa galeria foi solicitada ao governo municipal para atender uma produção artística e essas exposições apertam o calendário anual.
Espero que a minha exposição vá para outros lugares. Sim, tem pessoas envolvidas com o Escritório de Arte Roberto, do Rio de Janeiro, que é parceiro.
(Foto: Cleumer Guimarães Spinola)
Abertura: Zaqueu Pedroza e Rita Cataldo performaram sobre um espelho d´água no chão
Como você analisa o cenário atual das artes plásticas, principalmente em Volta Redonda? Acompanha os novos artistas? Temos boas revelações?
Temos duas vertentes aqui, muitas coisas tradicionais e muitas modernas. Daniel Vieira, Mazza, Petronio lurian, Zaqueu, são os que eu tenho mais contato e atualmente temos alguns produtores culturais e até curadores. Eu acho que temos que nos unir. Pra quem produz ficar mais fácil nas realizações dos eventos. Uma exposição, por exemplo, com outros profissionais envolvidos, o evento fica perfeito. Outra coisa são os artistas ocultos, aqueles que não conhecemos ainda, aqueles que têm certas dificuldades pra mostrar seus trabalhos.
Como estamos de espaços voltados às artes plásticas? Temos poucas galerias? Qual o caminho para mostrar a um número maior de pessoas a arte?
As galerias estão OK, temos Gacemss, Fundação CSN e Arbex. As políticas para entrar que são um problema.
Suas pesquisas não param e você sempre tem coisas novas a mostrar. A pesquisa e o exercício constante da arte são os caminhos para evoluir sempre?
Com certeza é no fazer que achamos as soluções. Anteriormente disse que nada cai do céu, tem uma exceção. Foi em uma determinada época do ano, quando tem queimadas, que veio a ideia de trabalhar com fuligem, peguei um matinho que caiu do céu no meu ateliê e fiquei pensando como fixá-lo, passei dois anos pra fazer a primeira experiência, que não deu certo. Mas em seguida achei a solução. Usar um mata-borrão. Depois vieram outras maneiras de fazer a mesma coisa (fazer arte é encontrar soluções para os problemas que criamos).
Projetos? O que vem por aí?
Projeto novo é pensar na exposição dentro de um forno na Olaria NovaDutra, somos parceiros há mais de dez anos. Essa exposição aconteceria lá, mas para cumprir agenda da galeria fiquei aqui mesmo. Outra coisa é que estou me inteirando mais para queima em alta temperatura, pra isso estou indo para Cunha (SP), capital nacional da cerâmica. De repente, levar essa exposição para outras cidades.
Serviço
> Antonio Geraldo - 20 anos com terra, minérios e pigmentos naturais - Até o dia 20 de março, das 10às 17h, no Espaço das Artes Zélia Arbex. Curador: Otávio Guerra. Rua 14, Vila Santa Cecília, Volta Redonda. Acompanhe as novidades no Facebook do artista.