(Fotos: Divulgação)
"A internet facilita as pesquisas, mas o sabor da leitura ´ao vivo´ não perecerá jamais"
Adahir Gonçalves Barbosa nasceu em Piraí (RJ), em 24 de abril de 1936. A família, constituída nessa época dos pais e dez filhos, mudou-se para Pinheiral quando tinha 5 anos. Seu pai, Francisco Gonçalves Barbosa, era comerciante e sitiante. Sua mãe, Adelina Martins Barbosa, portuguesa, era dona de casa. Ambos primavam pelos exemplos de honestidade, apego à verdade e convívio gentil e harmonioso com a comunidade. Casou-se em 18 de julho de 1964 com Marly Soares Barbosa com quem teve três filhos: Ricardo Augusto Soares Barbosa, Alexandre Soares Barbosa e Marcelo Soares Barbosa, todos com formação superior. Cada um tem um casal de filhos, respectivamente Priscila, Renato, Alice, Miguel, Lucas e Luísa.
Relembra com saudade que desfrutou da dedicação e sabedoria das primeiras professoras, entre outras, Rosa Bruno Bastos e Marieta Carvalho, pois considera que são os professores as pessoas mais marcantes na vida de quem é grato pelas bases educacionais que recebe. Estudou o primário na Escola Pública Nº 9 e o correspondente ao ginasial da época no Colégio Agrícola Nilo Peçanha, atual Campus Nilo Peçanha do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, formando-se em operário agrícola e mestre agrícola. Prosseguiu os estudos na Escola Agrotécnica Diaulas Abreu, em Barbacena (MG), formando-se em técnico em pecuária (1956).
A seguir prestou vestibular e cursou veterinária na então Escola Nacional de Veterinária da Universidade Rural do Brasil, atual Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, formando-se em 1960 em quinto lugar. Fez diversos cursos avulsos, sobressaindo-se os referentes à reprodução animal e inseminação artificial. Ingressou em seu primeiro trabalho, em 1961, na antiga Fazenda Regional de Criação do Ministério da Agricultura. Foi efetivado no Governo de João Goulart e permaneceu no mesmo órgão até aposentar-se em 29 de novembro de 1990. Como destaques, trabalhou como chefe da Estação de Premunição de Pinheiral por 13 anos e prestou serviços em outros estados, como Bahia, Minas Gerais e Santa Catarina. Nesse último escreveu uma monografia denominada "Premunição - Premunição prática", publicada em 1975 pelo governo da época que lhe agradeceu com uma carta de elogios. Também foi professor temporário por dois anos na Escola Agrotécnica Nilo Peçanha (nome da época). Após aposentado prestou serviços municipais como administrador do Pronto-Socorro de Pinheiral e assessor da Secretaria Municipal de Agricultura.
Ações humanitárias, arte e cultura
Participou da fundação da Apae de Pinheiral, do Recanto dos Velhinhos Francisco Gonçalves Barbosa (Asilo), do Santos Social Clube e do Rotary Club de Pinheiral, participando das diretorias de todos, inclusive, exercendo a presidência dos dois últimos. Dentro dessas instituições colaborou com diversas ações humanitárias. Com certa vocação para desenho a mão livre desde a infância, lamentando não existirem os recursos na ocasião e na área para se aperfeiçoar, passou a pintar em telas amadoristicamente em princípios da década de 1960. Passou a ter aulas com a artista plástica e nutricionista Lúcia Werneck, frequentando o seu estúdio até e a presente data. Assim, participou de várias exposições organizadas por ela e pelos setores culturais municipais, especialmente nos aniversários da cidade, bem como fora do município, inclusive, em uma patrocinada pela Câmara Municipal de Volta Redonda.
Na área de literatura, aos 11 anos lia romances, especialmente os da "Coleção Terra, Mar e Ar". Adolescente, distinguiu-se em Barbacena ao tirar os primeiros lugares em concursos literários, inspirado pelo seu emérito professor de português Honório de Almeida Armond, o "Príncipe dos Poetas Mineiros". Dele, menciona uma frase célebre: "Todo orgulho humano pode ser metido dentro de uma caveira". Adahir Barbosa, além de singelos versos e artigos inseridos em pequenos jornais locais e da região, participou do Glan (Grêmio Literário de Autores Novos) de Volta Redonda, com contos e poesias, e das coletâneas organizadas por Jean Carlos Gomes ("Vozes de aço" e "Coletânea século XXI"). Também participou ativamente das duas "Coletâneas de Poesias de Pinheiral", organizadas pelo professor Paulo Roberto André Nogueira. Esporadicamente foi premiado e participou de outros livros, como "Seleção poética", organizado por Magali Oliveira - Santo Antônio de Pádua - 2010, e, recentemente, teve versos selecionados e publicados pela Vivara Editora (Concurso Nacional Novos Poetas 2013).
Grande apreço pela história e filosofia
Adahir Barbosa demonstra grande apreço pela história e pela filosofia, considerando-as essenciais para os seus trabalhos literários, tendo em vista que as lições e os conhecimentos auferidos através dessas matérias dão às pessoas as bases essenciais para a melhoria do convívio humano, mostrando os melhores caminhos a serem trilhados. Julga que, queiramos ou não, o homem, latu sensu, é um animal político e precisa entender o meio em que vive, as causas e os efeitos dos fatos históricos e tudo que envolve o comportamento humano. Assim, necessita de conhecimentos básicos de sociologia, psicologia e antropologia para entender melhor os seus semelhantes. Não é douto em nenhuma dessas matérias, mas defende o conhecimento como fator básico para tornar o ser humano melhor e mais feliz através da verdadeira justiça social e econômica. Julga que a amorcracia (neologismo) é o melhor caminho, mas prevendo que, se um dia essa ideia merecer alguma importância, vai ser deturpada e usada para o mal como, infelizmente, tem ocorrido com várias ideologias.
Aprecia não só a pintura e a poesia, mas todas as sete artes tradicionais: arquitetura, escultura, pintura, música, dança, poesia e cinema, considerando que nelas está embutido o teatro e a literatura em geral.
- O ser humano precisa de lazer, cultura e paz de espírito para apreciar os dons artísticos e a natureza - diz.
Claro que percebe que há variáveis de qualidade, tudo precisando não de censura, mas de seleção:
- Pois onde há trigo há joio e onde há luxo há também lixo... Inevitável! Mas, democraticamente, há que se respeitar o gosto de cada um.
Autoditada, não dá importância a estilos e escolas
Adahir casou-se em 18 de julho de 1964 com Marly Soares Barbosa com quem teve três filhos
Considerando-se autodidata, não dá importância a estilos e escolas artísticas ou literárias. Acha que uma boa obra deve agradar aos olhos ou marcar uma página da história e do saber, para que as pessoas possam sentir, apreciar e sorver alguma coisa de útil, especialmente para se tornar um ser humano melhor. Assim, para ele, a poesia e a prosa devem transmitir lições de vida, exemplos e virtudes para o aprimoramento do caráter, além do simplesmente divertir, o que é primordial para dar sabor à produção intelectual.
Os primeiros livros que o impressionaram, lidos ainda na infância, foram "O fio da navalha", de William Somerset Maughan, e a "Como fazer amigos e influenciar pessoas", de Dale Carnegie. O primeiro, por colocar a nu os conflitos de um ex-combatente em busca da elevação espiritual, e o segundo por pregar a harmonia nas relações humanas, tendo como base a melhoria pessoal depois transferida sem falsidades para o próximo, tudo recheado com bons exemplos de pessoas que marcaram a história.
Esclareceu que recentemente tem lido (ou relido) alguns clássicos, como "O príncipe" (Maquiavel - injustamente chamado de "maquiavélico" - afirmou), "A utopia" (Thomas More), "Assim falou Zaratustra" (Nietzshe) e obras de outros filósofos, como algumas coisas de Rousseau, Marx, Max Weber e outros. Foi muito estimulado com a leitura de "O mundo de Sofia", de Jostein Gardner, e se divertiu muito com os livros sobre o que é "politicamente incorreto", como o "Guia politicamente incorreto da filosofia", de Luiz Felipe Condé. Acha que Augusto Cury deve ser apreciado pelo conjunto de sua extensa obra e especialmente pelo livro "Pais brilhantes - Professores fascinantes".
Aprecia a ficção científica pela cativante
fantasia que encerra, orgulhoso de ter um
vizinho famoso, o escritor Jorge Luiz Calife
Sobre pintura e escultura, admira os clássicos pela perfeição de suas obras, embora alguns achem que foram superadas pela fotografia... Sobre pintura moderna, acha que só é importante quando mostra alguma coisa e faz pensar quando se vislumbra algo misterioso entre os traços ou quando se trata do novo surrealismo - o simples jogar tinta sobre uma tela até macaco de novela faz. Admira Portinari e vários artistas regionais, como Tânia Corsini, Antonio Miranda, Vilma Carvalho, Malu Almeida, e muitos outros, como a sua professora Lúcia Werneck e Marcília Campbell, ambas com vários alunos talentosos. Aliás, considera Pinheiral, proporcionalmente, um grande celeiro de poetas e artistas plásticos. Já pintou alguns quadros com paisagens pinheiralenses, inclusive, o Casarão dos Breves, berço de Pinheiral, lamentavelmente arruinado. Enfim, acha que poesia e música fazem um casamento perfeito, tendo como irmãos a pintura e a escultura (esta, infelizmente, pouco cultivada entre nós, pelo que sabe).
Um abismo sem fim
Adahir Barbosa acha que a humanidade precisa mudar para melhor, pois, aparentemente, está caminhando para um abismo sem fim: superpopulação, violência extrema, a ignorância campeando, exploração econômica, ganância, desastres ecológicos, desamor, corrupções, mentiras... Acha que a solução está no banimento da ignorância e aperfeiçoamento das instituições públicas, os governos interferindo especialmente para direcionar a economia (mas sem fazer o papel de empresário corrupto e incompetente), garantir saúde e educação de qualidade, evitar a desigualdade social, os trustes, a corrupção, o crime e outras mazelas.
A seu ver, as drogas são, atualmente, o plano inclinado que está levando muitos jovens para um abismo sem volta. A solução: educação de berço, educação intelectual, tecnológica e profissional em um mundo ecologicamente conservado. Às vezes se sente desanimado com tantos vícios e comportamentos inadequados, com tanta ignorância, devastações ecológicas e desonestidades, pelo que julga as utopias de um mundo melhor completamente irreais. Ao mesmo tempo, vendo exemplos de pessoas tão abnegadas e sinceras, acha que alguma coisa vai melhorar. As "lutas" vitoriosas para melhorar as coisas sempre partiram de pessoas pacíficas ou que prestaram grandes serviços humanitários: Gandhi, Martin Luther King. Mandela, Sabin, Fleming, Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Pasteur, Paul Harris e muitos outros verdadeiros heróis da humanidade que não pregaram a violência e a desunião das pessoas.
Contra certos exageros que levam ao escracho
Enfim, a cultura e a arte podem contribuir enormemente para melhorar a humanidade, mas banidas de certos exageros que levam ao escracho, ao desrespeito, às banalidades e a interpretações errôneas do que é liberdade, do que é responsável, do que é correto. Mas sem a vã censura, é claro, mas sem expor os que não desejam ter seus conceitos de moral e ética invadidos e pisoteados. Por exemplo: se um filme, um livro ou uma peça teatral possuem ingredientes degradantes que isso seja esclarecido e só acesse quem o quiser fazer livre e esclarecidamente. Na prática isso não acontece, diz Adahir: a internet e outros meios de comunicação são excelentes se bem usados, mas alguns estão roubando precocemente a inocência das crianças, levando aos problemas de gravidez precoce, à violência, à desonestidade, ao uso desenfreado de drogas e outros males. Assim, a humanidade caminha para a franca degeneração. O mundo pode ser mais divertido, porém mais respeitoso (“o seu direito de dar socos termina onde começa o meu nariz...”). Sobre ideologias, acha que muitas vezes são mal interpretadas e usadas malignamente; ninguém deve aceitar assertivas sem ver o outro lado, sem entender as lições da História, o modo filosófico das pessoas conviverem, as causas e consequências de tudo que aconteceu e acontece ainda em nossos tempos.
Pedindo desculpas por não se lembrar do nome dos autores, diz que os pensamentos mais certeiros que conhece sobre Deus são estes: "Não adianta você admitir que Deus exista se age como se Ele não existisse" e "Creio no Deus que fez os homens, mas não consigo acreditar no Deus que os homens fizeram". Ele se diz praticamente agnóstico: acha que ninguém sabe com certeza a origem do mundo e como é Deus, embora seja inimaginável uma criatura sem criador.
- As religiões são tantas que parece até que estamos vivendo contos da carochinha; algumas têm o dinheiro como o supremo Deus. O amor é tudo. E se confunde com a caridade cristã e tudo se encerra em Coríntios 1-13: ... "O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade..." etc.
Livros "de papel" nesta era da informatização
Acha que jamais serão relegados, postos de lado simplesmente. São mais cômodos para ler e fáceis de consultar, apesar dos “tablets de leitura e os avanços tecnológicos. A internet facilita as pesquisas, mas o sabor da leitura "ao vivo" não perecerá jamais.
- Tudo o que foi dito demonstra o que acho de importante e o que às vezes me frustra. Teria de ocupar mais umas 20 laudas para dizer tudo o que penso ou tudo que anseio, mas seria chato - afirma Adahir, sempre almejando que a humanidade se eleve através do conhecimento, da verdadeira justiça e da melhoria das relações humanas.
Termina informando que o seu sonho atual é escrever um livro ameno e acessível sobre cidadania, comportamentos e os caminhos do conhecimento que sublimam a humanidade.