(Fotos: Divulgação)
"Eu também filava livros de vovô e tios, considerados
proibidos, por exemplo, um compêndio de mitologia grega"
A "XIV Antologia Poética de Diversos Autores 2013" é o resultado do XII Concurso Nacional PoeArt de Literatura 2013, que teve a participação de diversos escritores de vários estados brasileiros. A comissão avaliadora destacou os dez trabalhos melhor classificados, em duas categorias, conforme o regulamento do concurso:
Soneto: "Modernidade", de Amilton Maciel Monteiro; "Objetivo e metas", de Newton de Souza Nazareth; "Nesta incapacidade de sonhar", de Rosa Regis; "Estaleiro III"; de William Lagos; e "A sertaneja", de Zilda de Oliveira Freitas.
Verso Livre: "Tentei", de Denivaldo Piaia; "Dentro de mim", de Núbia Cavalcanti dos Santos; "Ode à amizade", de Renato Barozzi Cassimiro; "Sede de justiça", de Roberto Leal Correia; e "Receita poética", de Sabrina Andrade Felicíssimo.
Antologia reúne escritores de 13 estados
Esta antologia reúne escritores de 13 estados brasileiros - AL, BA, CE, GO, MG, MS, PA, PE, PR, RJ, RN, RS, SP e mais o DF, divididos em três modalidades de participação: Dez Primeiros Colocados, Poetas Selecionados e Convidados.
Em função de reunir mais de 50 poetas, decidimos fazer uma singela homenagem a dois grandes poetas, artistas e seres humanos que com seus exemplos de vidas e suas obras contagiam, conquistam e engrandecem o cenário artístico/poético que vivemos e participamos, pelo elo de irmandade que nos une, apesar das distâncias de cada um que compõem essa obra. "Homenagem Regional" ao poeta Adahir Gonçalves Barbosa (entrevista já publicada na coluna), e a "Homenagem Nacional" à poeta Clevane Pessoa de Araújo Lopes...
Obrigado a todos que, direta ou indiretamente, nos dão atenção, carinho e o grande apoio para que esse trabalho poético social possa ser realizado com sucesso.
Boa leitura e até a próxima!
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Uma artista de multifacetas e além das Gerais...
Clevane Pessoa de Araújo, ao nascer, surpreendeu seu pai, que queria um filho, que se chamaria Cleber. Não havia ultrassonografia ainda. Quando nasceu, ele escreveu vários nomes iniciando-se com "Cle". Ele e a mulher optaram por Clevane, por ser "diferente". Tem quatro irmãos e irmã...
Filha de Lourival Pessoa da Silva e Terezinha do Menino Jesus da Silva. Nasceu dia 16 de julho de 1947, em São José de Mipibu (RN). Os pais moravam em Natal, onde foi gestada. A mãe, adolescente, foi levada a dar à luz em casa dos pais.
Radicada em Minas desde os 6 anos, morou em vários estados, cidades e capitais do Brasil. Estudou desenho com Clério de Souza, o Pimpinela, presidente da SBAAP em JF.
Cursou psicologia até o 8º período, no CES (Centro de Ensino Superior), em Juiz de Fora... Com as núpcias, graduou-se na Fumec, em Belo Horizonte...
Foram dois casamentos. O primeiro, com o jornalista e poeta Messias da Rocha, colega de redação, na "Gazeta Comercial", em Juiz de Fora, com quem teve Cleanton Alessandro Pessoa Rocha (Allez Pessoa - baixista e desenhista). O segundo, com o Engenheiro Civil Eduardo Lopes da Silva, com quem teve Gabriel Pessoa Lopes. Tem uma neta, Luana Iasmin, filha de Gabriel. As noras são Karina Campos e Juciléia Botelho.
Filha de boa contadora de histórias
e declamadora, iniciou-a cedo
"Fontes de inspiração foram todas possíveis, já que
basicamente tudo é passível de ser lido e interpretado"
Quando seus pais moraram na Amazônia, em Japurá, fronteira com a Colômbia (rio à frente, mata atrás) sua mãe queria distraí-la e começou a ensinar-lhe silabação. Tinha 3 anos e adorou "ler" e escrever. Aí não parou mais. Sua mãe era boa contadora de histórias e declamadora, então, iniciou-a cedo, fazia-a decorar versos e declamá-los com ela ou sozinha. Por essa ocasião, tinha sua mana Cleone, a mãe engravidou de Luiz Máximo, que foi dado à luz em Manaus, em casa de umas professoras. Espantadas com o fato de ela ler e escrever, deixavam-na frequentar a primeira série, pois tinham escola em casa (primário). Sua mãe contava que de tudo ela fazia um poemazinho. Seu avô Luiz Máximo de Araújo, paraibano, era jornalista e poeta e a ensinou a metrificar a rimar, aos 7 anos - qual numa atividade lúdica, que ela adorava. Aos 10, publicou poemas em jornais, mas tendo passado muitos anos clinicando, somente publicou o primeiro livro: "Sombras feitas de luz", pela Plurarts-Editora, de Wagner Torres, em 2000, e "Asas de água", na mesma editora, em 2002.
A leitura, claro, levou-a a uma precocidade maior em relação à faixa etária, queria saber de tudo e tinha ótima memória, mas, diz, nunca foi do tipo gênio. Lia tudo, dos livros infantis a romances, didáticos a gibis, que, na época eram muito criticados para crianças - mas seu pai, ledor como ela, deixava-a ler à vontade, fazendo-a interpretar tirinhas, verificava se realmente entendia charges...
"Eu também filava livros de vovô e tios, considerados proibidos, por exemplo, um compêndio de mitologia grega, aos 9 anos, imagens de estátuas nuas como, de vovô, conta", ou livros de Jorge Amado. Aos 5 anos, morando na Ilha de Fernando de Noronha (onde cursava mais uma vez o primeiro ano primário, por ter entre 5 e 6 anos, mesmo aprovada sempre) adorava o compêndio de medicina, com atlas de anatomia, de seus pais. E quando veio para Minas Gerais, de navio até o Rio Janeiro, em 1952, avistou na partida, do convés, seu tio Rubens Pessoa, mano caçula de seu pai, no cais, de bicicleta, acenando, que subiu ao navio e lhe entregou gibis, uma festa para ela e seu genitor. Passaram a viagem lendo.
Era tímida, e muitas vezes escondia o que sabia, ouvindo gente grande dizer inverdades.
Suas "fontes de inspiração foram todas possíveis, já que basicamente tudo é passível de ser lido e interpretado. Palavras simplesmente fluem de uma forma necessária para um conteúdo expresso, elas me guiam a um epílogo, a uma chave de ouro, mas às vezes, deixo no ar uma interrogação, para que o leitor crie seu próprio final"...
Transitando por vários gêneros
Um conto, por exemplo, nasce a seu ver, de tudo - uma vitrine de vidro com bonés à venda, em Tripuí, um "Pesque e Pague", em que ficou escrevendo sem parar, enquanto seu marido pescava. O primeiro poema publicado, aos 10, foi escrito na aula de aritmética, do Colégio Santa Catarina, em Juiz de Fora, pois não queria olhar o rosto da professora, que cometera uma injustiça com ela e uma colega. Então, refugiou-se na cena do nascimento de Cristo e a poetizou. Uns dois anos depois o declamou num evento, em Alfenas - MG - para um bispo da cidade, que então lhe enviou um buquê de rosas vermelhas que ganhara. E depois, num bom tempo, viu-se correndo salas de escolas, para declamar poemas, muito acanhada, mas acostumada a fazer o que lhe pediam. As professoras pediam que alunos escutassem, pois "é assim que se declama". Ela temia ser antipatizada, claro. E tremia. Mas a sua voz, bem treinada por sua mamãe, saía límpida e dramática...
Citar autores é sempre temerário, ela que ama tantos. Então, aponta dois: Carlos Drummond de Andrade, por causa de "Poesia até agora", que ganhou de um juiz, em Itajubá, e que a impactou pela liberdade de expressão. Quando CDA morreu, ministrou várias palestras sobre sua biografia e a sensualidade dos livros, em especial, o póstumo erótico... O segundo, pela extrema simplicidade com que escreve sobre o mais complexo tema e a profundidade com que descreve o mais simples deles: Manoel de Barros. Citaria uma plêiade de poetas mais, pela singularidade.
Poema do meu agora
(Clevane Pessoa)
Não esperem que eu seja chamada
e atravesse as névoas leves
de um tempo denso ou não.
Não se recordem de mim apenas
depois que eu ultrapassar
mil portais.
Estejam perto de mim agora,
próximos ao meu hálito da alma,
meu prana, meus sentimentos.
Lembrem-se de mim
enquanto estou aqui, ainda
– embora árvore antiga, de pé
que ainda pode dançar na Luz,
em busca da PAZ...
harmonizada com o vento...