Publicada: 29/03/2017 (18:51:10) . Atualizada: 09/04/2017 (11:52:49)
(Fotos: Divulgação)
Série original é infinitamente melhor; americana vale seu tempo, a partir da terceira temporada
Fui convidada pelo Instituto Iniciativa Cultural de São Paulo, para dar uma entrevista sobre a série “Forbrydelsen” ou “The Killing”, como parte de uma pesquisa acadêmica financiada pelo governo dinamarquês, intitulada “Danish TV Drama Series”, que visa compreender a recepção dessas séries por públicos da Alemanha, EUA, Japão, Turquia e Brasil. Fica aqui meu agradecimento à professora e presidente do Instituto, Alessandra Meleiro.
Aproveitei a ocasião para ver as duas. “The Killing” é uma versão americana da série dinamarquesa “Forbrydelsen”. Assisti primeiramente a original, que esteve no catálogo da Netflix até fevereiro deste ano. Infelizmente só disponibilizaram duas das três temporadas no site de streamig. Mas ainda assim deu para ter uma ampla noção da produção que obteve sucesso em vários países, inclusive no Brasil, onde foi exibida pelo canal fechado Globosat HD em 2012.
Uma mulher complexa e atormentada
Sobre “Forbrydelsen”, minha opinião é de que é uma série de nível excelente com um elenco irrepreensível, desde a protagonista, até os personagens secundários e recorrentes. É um drama policial com bem mais do que uma detetive problemática, que passa dos limites e burla as regras sem medir consequências, para atingir seus objetivos. Sarah Lund (Sofie Gråbøl) é uma mulher complexa e atormentada, além de qualquer personagem feminina de série policial que você já tenha visto. Chega a ser extremamente antipática, irritante e intolerável, mas ao mesmo tempo envolvente e enigmática, dentro de um mundo só dela, excessivamente egoísta e solitário.
Nem mesmo seu filho adolescente consegue quebrar essa redoma. O que provoca um abismo no relacionamento e convivência dos dois, sob total responsabilidade de Sarah, que não consegue ceder ou retroceder para mudar. Dentro desse drama entre mãe e filho, acontecem as tramas principal e paralelas, centradas num crime e os impactos causados durante a investigação. Sofie Gråbøl é uma atriz dinamarquesa de 48 anos com enorme talento. Em “Forbrydelsen” mostrou um domínio da personagem impressionante.
Diferenças entre a original e a americana
Em sua primeira temporada, os produtores escorregaram no número de episódios. Desenvolveram a primeira parte em 20, onde poderia ter sido 15. Pecaram em cenas longas com explicações - silenciosas ou não - e muitos desdobramentos desnecessários. Nesses momentos o que salva e segura a atenção são as interpretações com intenso comprometimento. Já na segunda temporada foram apresentados dez episódios. O que foi a medida perfeita. A terceira teve nove. O ponto mais importante de “Forbrydelsen” são os roteiros inteligentes, com uma abordagem política muito bem desenvolvida e clara. Esse é o diferencial entre a original e a versão americana.
Em “The Killing”, nos deparamos com uma história que começa com ares de repetição, até nos diálogos, mas que vai mudando aos poucos, até se soltar por completo do que vemos em “Forbrydelsen”. Na versão americana tivemos mudanças tão contundentes em personagens e roteiro, que é bondade dos produtores afirmarem que uma produção se baseou na outra. Ao contrário de “Forbrydelsen”, embora não tenha episódios além do necessário, os produtores de “The Killing” cometeram o mesmo erro, alongando a trama em torno do assassinato de Rosie Larsen (versão americana) e Nana Birk Larsen (versão dinamarquesa).
Total descontrole emocional
A personagem central, Sarah Linden (Mireille Eines), tem semelhança com Sarah Lund (Sofie Gråbøl), mas a Sarah americana tem um descontrole emocional que a Sarah dinamarquesa nem passa perto. Sem dúvida seu maior drama é a incapacidade de ser a mãe que seu filho está sempre a esperar. Para mim, a interpretação de Mireille deixa a desejar nas duas primeiras temporadas. Aliás, a impressão é de que se está vendo outra série ao começar a terceira, que foi uma negociação da Netflix em parceria com a Fox. É impressionante a guinada que acontece no roteiro e nos personagens. A quarta e última foi produzida e exibida pela Netflix. “The Killing” foi salva do cancelamento por duas vezes. Não é difícil deduzir porquê... Mas o pior para mim foi o final da série. Completamente açucarado e fora do contexto.
Embora Mireille Enos seja a protagonista, na verdade o destaque fica por conta de Joel Kinnaman, que interpreta o parceiro de Sarah, Stephen Holder. O ator sueco, radicado nos EUA, rouba a cena. A dupla de detetives atua em Seattle num cenário chuvoso e depressivo, onde seus dramas pessoais ficam ainda mais pesados. Diferenças à parte, a conclusão é que “Forbrydelsen” é infinitamente melhor e as duas produções inovaram no formato, ao explorar um crime durante toda uma temporada. Se você quiser conferir “The Killing”, vale seu tempo, principalmente a partir da terceira temporada. A série está disponível na Netflix. Até a próxima!
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