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Mundo Virtual

Blogueiros: "Maddy Lee" e a atividade louca de administrar um blog

Carioca inquieto, louco por música, cultura e arte em todas as suas formas e manifestações é o convidado da coluna

Música  –  20/11/2012 17:26

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(Fotos: Divulgação)

“Só disponibilizo discos de bandas

e artistas que eu gosto de verdade”

“Loucos por Música” é a série com enfoque em blogs, blogueiros e colecionadores de qualquer formato: LP, CD, mp3. Tenho convidado blogueiros a participar, e me dá um grande prazer em publicar, para que os amigos que aqui vêm possam desfrutar das alegrias, emoções e um pouquinho da vida de quem está por trás de um trabalho de formiguinha. É tão importante, mas tão importante, que talvez nem tenha sido ainda notado. Essa incansável vontade de compartilhar música, de multiplicar ouvintes, desenterrar tesouros que até pouco tempo eram privilégio de poucos, trazendo para o universo de quem tiver um pouco de curiosidade, inúmeras raridades. Por diversas vezes, discos com pouquíssimos exemplares gravados, bandas obscuras, novidades que nem sempre chegam, pois a mídia é estranha e só aparece para o grande público o que trará de alguma forma retorno rápido. O gosto popular é ditado, comandado e nada é espontâneo. Engana-se quem achar que é. Viva a internet e viva o blogueiro, esse feroz guerreiro em prol da cultura.

Bem, a série estava sendo publicada toda quinta-feira, mas o retorno por parte dos blogueiros tem sido tão bom que decidi publicar as terças e quintas. Como existe um número absurdo de blogs e não conheço nem um décimo deles, gostaria de contar com a ajuda de vocês para encontrar. Então, se você conhece, administra, colabora ou participa de um, pode deixar um comentário ou enviar um e-mail pra mim.

Meu convidado de hoje é Marcello “Maddy Lee”, um carioca inquieto, louco por música, cultura e arte em todas as suas formas e manifestações. Atualmente morando nos Estados Unidos, mas já rodou o Brasil e o mundo no seu meio século de vida. Já exerceu as mais diversas profissões e agora trabalha com a venda de produtos de bandas e artistas estrangeiros, quando esses fazem shows no Brasil. Além de outras atividades menos prosaicas, como treinar os times de futebol infantil masculino e feminino na cidade onde mora, buscar aprender a tocar direito instrumentos musicais, viver a vida aproveitando as oportunidades, segundo o próprio, amar uma louca que diz que o ama e cuidar de um cachorro que é mais uma peça de decoração do que um amigo peludo...

Conversando com Marcello e, claro, que sendo ele dono de um dos melhores blogs que tenho conhecimento, não poderia ficar de fora desta série. Pedi e ele topou, vamos lá!

Marcello começa dizendo: “Atendendo ao convite da queridaça Márcia Brasil-il-il-il Tunes vou tentar responder umas perguntas sobre essa atividade louca que é administrar e levar em frente um blog dedicado à música e, também, sobre algumas coisas particulares relacionadas com a música. Boa viagem para nós...”

Márcia: Marcello, como e quando começou a escrever seu blog? Qual era o objetivo e esse objetivo permanece o mesmo ainda hoje?

Maddy Lee: Até o final de 2004 eu era muito afastado do mundo da informática. Pra piorar minha situação, eu morava nos cafundós de Judas, no meio da Floresta Amazônica. Mas essa situação acabou quando recebi um computador para me ajudar no meu trabalho. Nessa época eu comecei a baixar músicas através de torrents, e pelo Kazaa e eMule. Em 2005, com a ajuda e graças às dicas de um grande amigo, conheci uma comunidade no Orkut chamada Discografias (na qual entrava através de um perfil fake providenciado por esse amigo - risos). Nessa comunidade eu sempre via uma pessoa que tinha uma foto em b&p com cara de poucos amigos (risos) indicando um blog onde teria tais e tais discos para baixar. Esse blog se chamava Dead End e pertencia ao Hebag (o tal da foto em b&p), e foi aí que conheci a minha Disneylândia (risos).

No Dead End não havia textos, só álbuns para baixar e o Hebag sequer respondia aos comentários. Mas como sou um chato insistente (risos), ele acabou cedendo e comecei a fazer umas pequenas colaborações, enviando links de álbuns que eu havia upado, para ele postar no blog. Através dos comentários no Dead End, conheci a Janis, que montara um blog muito bacana, chamado Delirium Dust, com o qual eu me identifiquei imediatamente, e que era voltado quase que especificamente para o rock progressivo. Através dos comentários, nós travamos uma amizade e logo eu comecei a mandar discos pra ela postar e acabei me tornando um colaborador fixo. Com o tempo, a Janis começou a ficar mais e mais ocupada, sem tempo para o blog e, assim, me tornei o único a postar por lá.

Em meados de 2007 eu recebi uma daquelas famigeradas notificações da dupla Blogger & DMCA, solicitando que eu apagasse umas postagens. Desde esse primeiro contato, a coisa foi se tornando constante, com várias notificações do mesmo tipo. Logo vi que o blog estava visado e pensei em uma alternativa: um novo blog, um pouco diferente, onde eu pudesse disponibilizar discos de vários gêneros musicais, de acordo com o meu gosto muito eclético, e assim nasceu O Pântano Elétrico.

O objetivo inicial era um tipo de agradecimento a todos aqueles que tinham compartilhado seus discos na internet, seja por torrents, blogs ou qualquer outra forma, e, também, para espalhar pela rede a arte e a cultura, através da música. Além disso, era também uma ótima maneira de trocar ideias e opiniões sobre música. Eu vislumbrava ali uma coisa meio anárquica, uma forma de compartilhar com amigos e desconhecidos os discos que eu tanto gostava, da mesma forma com que sempre presenteei meus amigos com gravações em fitas cassete, porém numa escala muito maior. É claro que, com o tempo, o blog acabou se tornando um vício... (risos)

Márcia: Quando começou já era “O Pântano Elétrico” e por que escolheu esse nome?

Maddy Le: Como eu disse anteriormente, no início era o Delirium Dust, aliás, um ótimo nome, mas quando quis montar o blog novo, procurei algo que soasse bacana (ao menos na minha cabeça) e que tivesse uma conotação meio psicodélica, mas sem ser muito óbvia - eu não queria que o nome do blog tivesse qualquer referência com música, pra fugir de possíveis perseguições do Blogger. Na verdade, eu planejava escrever em inglês e o nome seria The Electric Swamp, mas logo vi que para eu poder escrever mais à vontade (já que eu não consigo escrever pouco... - risos) e, também, para ter uma identidade mais própria, eu teria que mudar, assim optei pela versão em português. O nome me veio meio que por influência de ficção científica, quadrinhos e todo esse tipo de cultura mezzo pop/mezzo underground. Tanto que a imagem inicial do meu perfil era o Monstro do Pântano. Mas, na verdade, isso já tem tanto tempo e, vendo agora em retrospecto, não tenho a mínima ideia do por que desse nome esquisito (risos).

Márcia: Visito com certa frequência seu blog, que considero um dos melhores que conheço. Como escolhe os álbuns para postagem? Suas escolhas são aleatórias?

Maddy Lee: Valeu pelo elogio! Meu ego estratosférico ficou mega satisfeito! (risos) Não tenho muitos critérios para fazer a postagem. A regra básica, talvez a única, é que só disponibilizo ali discos de bandas e artistas que eu gosto de verdade. Às vezes estou escutando um som e penso que seria legal compartilhar com a galera; às vezes vem da sugestão de alguém, ou pode ser também que eu tenha uma história bacana para compartilhar; em outras vezes é por simplesmente eu ter um disco que nunca vi postado ou porque esse mesmo disco já foi postado anteriormente em qualquer outro blog, mas o link expirou ou foi deletado, todo o tipo de situações; não tem muita regra, já fiz até postagem porque tinha sonhado, literalmente, com aquilo! (risos)

Já nem sei há quanto tempo comecei, mas tenho priorizado postar n’O Pântano Elétrico a discografia completa de bandas e artistas; isso se dá por alguns motivos bem pessoais. Por exemplo, quando eu baixo alguma coisa que me surpreende, logo procuro por outros trabalhos do mesmo artista ou banda; se o conjunto da obra me satisfizer, logo quero passar pra galera. Como muitas vezes, para eu achar a discografia completa é um trabalho duro, tendo que vasculhar a rede, procurar em diversos blogs, torrents etc., eu acho que é muito mais legal encontrar logo a coisa toda num só lugar, o que é muito raro; então, esse é outro dos motivos: facilitar a vida da galera que está procurando por outros discos além daquele que conheceu de alguma forma.

Márcia: Já teve algum tipo de problema com gravadoras ou bandas ou teve álbuns deletados de provedores?

Maddy Lee: Caramba! Com a DMCA e o Blogger foram milhares de vezes. Já me foi solicitado apagar postagens inteiras e já tive postagens deletadas sem qualquer aviso. O mais irônico disso tudo é que em 90% das vezes foram justamente relacionados a discos de artistas consagrados, que já nem precisam tanto da grana da venda de discos (bem, nesse quesito, a coisa mudou drasticamente nos últimos anos, afinal, já nem existem mais tantas lojas de discos por aí, além das virtuais, é claro). Ter links deletados é uma constante com que aprendi a conviver. Seja por motivos de direito$ autorai$ ou por, simplesmente, ter ficado tanto tempo inativo, sem ninguém baixar, que o provedor acabou deletando, ou porque o provedor faliu, fechou, quebrou ou coisas do gênero, como já aconteceu várias vezes por aí, principalmente no início deste ano, com a queda do Megaupload e a consequente queda de vários outros provedores e servidores.

Agora, quanto a artistas, nunca tive problema, pelo contrário. Já recebi e-mails e recados em comentários solicitando que disponibilizasse álbuns e, até, outros agradecendo por ter feito uma postagem sobre suas bandas. Vou te dar um exemplo do qual fiquei até mesmo emocionado: eu tinha postado, no Delirium Dust, o disco “Velha gravura”, do Quaterna Réquiem, que considero o melhor disco de uma banda brasileira de música progressiva (música mesmo, porque o som deles não é rock, rock mesmo).

O baterista Cláudio Dantas deixou um recado lá na caixa de comentários, agradecendo pelas palavras que escrevi e por divulgar a banda; ele foi extremamente gentil e atencioso, um verdadeiro cavalheiro. Um artista admirável. Tanto que, depois disso, eu me senti meio constrangido por estar disponibilizando gratuitamente o fruto do trabalho de uma banda que tem que ralar muito mais do que os artistas em geral, por causa do seu gênero pra lá de específico e de difícil acesso aos meios “normais” de divulgação e mídia. Eu queria disponibilizar o outro disco deles, “Quasímodo”, fiquei sem graça e resolvi pedir autorização ao Cláudio Dantas e a resposta não poderia ter sido mais simpática. Pena que pouco depois disso o blog inteiro foi deletado... Há pouco tempo atrás eu comprei o disco novo do Quaterna Réquiem, o totalmente excelente “O arquiteto”, e estou só dando um tempo pra que se possa vendê-los bem nas poucas (e boas) lojas do ramo pra fazer uma postagem da discografia completa do QR lá no blog.

Márcia: Você acredita que de alguma forma esteja prejudicando alguém com suas postagens, falando de direitos autorais?

Maddy Lee: Na boa, que direitos autorais são esses? Na maioria dos casos são bandas e artistas praticamente desconhecidos; às vezes até são discos que estão perdidos há muito tempo, que os artistas já morreram ou nem artistas são mais. No caso aqui do Brasil, que os direitos autorais são administrados por um órgão decadente e provavelmente (porque não tenho provas concretas pra provar se sim ou não) corrupto como ECAD, então, chega a ser ridículo falar sobre isso.

Vou te dar um exemplo bizarro: eu tinha um blog paralelo, onde eu me dedicava a coisas diversas, muito além da música, como escrever meus pensamentos, crônicas, contos; dava dicas de filmes, livros, discos, exposições, viagens e mais um monte de coisas (eu tinha um pseudônimo, Carmello Café, e o blog se chamava Zona do Café). Pois bem, lá eu postei umas músicas que um amigo tinha gravado em uma demo, com autorização dele, aliás, com todo o aval e a pedido dele (risos); mas não é que recebi uma notificação para deletar o link que disponibilizava a tal demo?! Só rindo mesmo...

Quem prejudica os artistas são as próprias gravadoras que os pagam com uma porcentagem irrisória das vendas, vendem as almas dos artistas ao diabo, promovem artistas ruins em troca de interesses e muito dinheiro sujo etc., e por aí vai, numa espiral ascendente e decadente infinita. Os artistas ganham muito mais com seus shows e isso não depende de uma gravadora, mas, sim, de uma boa equipe de empresariamento e produção, de um bom sistema de divulgação e facilidades para produção e realização desses espetáculos, além de incentivos fiscais, culturais etc. Eu tenho pra mim que esse povo todo das gravadoras, que vêm sendo administradas pelas mesmas velhas múmias parasitas e retrógradas de sempre, deveria mudar o foco: em vez de ter milhares de escritórios ao redor do mundo, deveriam abrir casas de shows que facilitassem o acesso dos artistas ao povo; assim todos sairiam ganhando, inclusive a economia e a cultura.

Márcia: Qual é a importância de um blog dedicado à música?

Maddy Lee: Perpetuar a arte. Compartilhar. Divulgar a arte. Debater. Mostrar que existe diversidade cultural e que devemos, sempre, celebrá-la. É o meio de uma única pessoa, como eu, você e tantos blogueiros como nós, de ser a semente de algo que pode infestar o mundo, acabando com as barreiras que nos são impostas diariamente. É meio utópico, mas está acontecendo. Trabalho de formiguinha. De outro modo, como alguém na Finlândia, no Cazaquistão ou na Groenlândia (risos) teria condições de conhecer bandas como a já citada Quaterna Réquiem e até mesmo outras menos desconhecidas que temos aqui no Brasil ou na Indonésia ou Ilhas Feroe?

Márcia: A maioria dos internautas não deixa comentários de agradecimento, mas quando querem reclamar ou pedir sabem usar os comentários, isso te irrita?

Maddy Lee: Isso já me incomodou; hoje em dia não mais. A verdade é que nesses sete anos de blog poucas foram as vezes que um comentário realmente me agradou ou gerou um bom debate. Eu mesmo meio que desisti de comentar em outros blogs, coisa que eu fazia com muito mais frequência e prazer.

Eu já pensei que ter um reconhecimento pelo trabalho, pelo esforço de fazer o que fazemos de modo tão generoso e altruísta, através de um agradecimento ou um elogio, fosse uma coisa natural, mas o mundo mudou, as pessoas mudaram, tudo para pior; então, eu nem faço mais tanta questão de ter comentários, mas, quando os tenho, eu os celebro e respondo, sempre, com o máximo de simpatia e cordialidade que posso dispor.

Por outro lado, recebo muitas visitas de estrangeiros e a língua é sempre uma barreira; nesse caso é até compreensível; ponho-me na situação de agradecer a um húngaro, que escreve seu blog na sua própria língua, o que eu posso fazer?! (risos) Deixar um “thank you” é quase uma afronta! (risos) Prefiro me abster.

Hoje em dia eu só comento com frequência no blog do meu amigo Edson, o Gravetos & Berlotas, e esporadicamente em outros blogs, quando vejo algo surpreendente, ou com que me identifico de alguma forma, ou se tiver algo a acrescentar ou alguma história a contar, mas, principalmente, quando tenho tempo livre, que é uma coisa que é meio escassa por aqui.

Márcia: Faz ideia de quantos álbuns já publicou no Pântano?

Maddy Lee: Não! E tenho até medo de pensar nisso! (risos) Mas só pra ter uma ideia, entre O Pântano Elétrico e o Plano Z (meu outro blog mais “low profile”), só neste ano de 2012, de fevereiro pra cá, quando comecei a usar o provedor Mirror Creator, já tenho até agora 458 álbuns upados. Só da discografia do Porcupine Tree foram mais de 50 links (porque são vários discos duplos ou triplos) e na postagem “Progs Italianos de Um Só Disco” eu disponibilizei nada menos que 101 discos! Sabe quantos comentaram nessa “épica” postagem? 14 pessoas! Imagine só, se eu me incomodasse com a baixa quantidade dos comentários, já era pra eu ter fechado as portas nessa postagem! (risos)

Márcia: Acredita que haja competição entre certos blogs?

Maddy Lee: Não sei te dizer. Sinceramente, não me importo com isso. Na verdade, nesse sentido, eu não tenho nenhum espírito de competitividade; sou muito mais aberto para a colaboração. Já nem sei pra quantos iniciantes eu dei dicas de como fazer o blog, como upar, postar etc. Até com os mais chegados é muito comum trocarmos links entre nós previamente, antes de publicarmos a postagem, e até fazemos postagens conjuntas, colaborações, todo esse tipo de coisas. Mas te digo uma coisa: constantemente vejo blogs que eu morro de vontade de deletar! (risos) São blogs que não acrescentam nada, postam só mais do mesmo, utilizam links que outros uparam sem ao menos agradecer ou fazer alguma referência, e/ou o pior tipo, aquele que rouba o texto de outro blog e não dá qualquer crédito e até acredita que foi ele mesmo que se deu ao trabalho de escrever aquele texto. 

Márcia: Sua coleção aconteceu por acaso ou desde o início você já sabia que era um colecionador? Quando começou a colecionar? Sua coleção é de LPs, CDs ou mp3?

Maddy Lee: Essa é uma pergunta complexa. Antes de eu nascer meu pai já colecionava LPs; em certa época ele era o maior colecionador brasileiro de gravações de peças do Beethoven; tenho cinco irmãos mais velhos, todos vidrados em música, então eu cresci nesse ambiente de sempre ter alguns discos pelos cantos da casa. Não me lembro exatamente quando comecei a minha própria coleção, mas eu era bem moleque, tipo uns 6 anos; eu tinha uns compactos dos Beatles, “Raindrops keep fallin’ on my head”, “Jack the Knife”, essas coisas. A coisa ficou mais séria na época em que começaram a lançar no Brasil os discos de bandas como Black Sabbath, Led Zeppelin, Deep Purple, Yes, Genesis, EL&P, no começo dos anos 70. Depois, já com uns 12, 13 anos, toda moeda que eu economizava era pra comprar discos. Com o tempo a coleção não parou de crescer; no auge, eu cheguei a ter um número meio exagerado de LPs, algo em torno de 21 mil LPs. O máximo de CDs que eu consegui juntar foi algo em torno de uns 2 mil, quando comecei a comprar discos nesse formato, a partir dos anos 90. Além disso, eu tinha também muitas fitas cassete, porque eu gravava cada disco que eu comprava e preferia escutar a fita pra não gastar o disco.

Infelizmente, tudo o que sobrou da minha coleção são uns poucos LPs, CDs e fitas, porque eu tive três grandes perdas nesse tempo todo. A primeira, quando deixei minhas coisas na casa dos meus pais e fui morar em outro lugar, perdi uma grande parte comida por cupins, por causa de uma infestação que teve lá e só se foi reparar tarde demais. Depois, certa parte da coleção, que eu dividia com um dos meus irmãos, foi jogada fora pela ex-esposa dele, quando eles se separaram (bem, o nome dela foi parar na boca de vários sapos... risos). Finalmente, quando eu me mudei para uma casa própria, com todas as minhas coisas, depois de um tempo, acabei perdendo tudo o que eu tinha em um incêndio. A partir de então, desisti de colecionar, comprei pouquíssimos discos, nenhum LP, só CD, mas com o “advento” da internet e do compartilhamento de arquivos, acabei baixando quase tudo o que eu já tive - é claro que sinto falta das capas, do cheiro do disco novo, da qualidade do som etc., mas pelo menos as músicas eu posso escutar. Hoje em dia, tenho algo em torno de 1,2 mil CDs cheios de mp3, mais uns 800 DVDs, também cheios de mp3, 2 HDs externos de 1 giga cada, lotados, e tudo o que está no HD do meu PC e do meu notebook; não é pouca coisa não! (risos)

Márcia: Sua coleção é só de rock ou outros gêneros podem entrar?

Maddy Lee: Márcia, vou te dizer, eu sou um cara muito volúvel! (risos) Ou, como um amigo costuma dizer, sou muito promíscuo musicalmente. Não tenho preconceitos. Tendo a música uma qualidade inerente e me emocionando, pode ser qualquer ritmo, estilo, gênero, nacionalidade que eu curto. Desde o blues mais raiz, de voz e violão, gravado precariamente, ao mais novo lançamento de música pré-vanguarda experimental digital (risos); se eu curtir, tá valendo. Até nesse tal dubstep eu já achei coisas interessantes; mas é claro que funk carioca, breganejo universOtário, pagodinho, axé, pop rasteiro e todo esse tipo de escumalha não tem vez comigo. A curiosidade me move. Só conhecendo as coisas ruins é que podemos falar mal delas com propriedade, não é mesmo? (risos)

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"Quem prejudica os artistas são as próprias gravadoras
que os pagam com uma porcentagem irrisória das vendas"

Márcia: Qual o LP/CD ou mp3 que considera o mais raro de sua coleção?

Maddy Lee: Eu já possuí algumas raridades, tipo “Thick as a brick”, do Jethro Tull, no formato original, que a capa é um jornal; “Billion dollar babies”, do Alice Cooper, que vinha com uma nota de US$ 1.000.000.000,00, com a cara do dito cujo; todos do Rush com capa que abria, com letras; um dos discos do Cosmic Jokers, que teve uma prensagem ridiculamente pequena, em vinil amarelo; o do Museo Rosenbach, original; já nem lembro mais, mas muita coisa alemã de prog e krautrock, italianos. Muitos eu usava como moeda de troca, tinha uns que eu nem curtia, mas servia mesmo pra esse fim - comprava uma dessas raridades e depois o trocava por uns 15 discos com músicas bem mais legais. (risos) Hoje em dia, de tudo o que me restou, ainda tenho o primeiro EP do Marillion, “Market square heroes”, em vinil, comprado por um amigo na época do lançamento (1982) em Portugal - aliás, essa é uma boa história: pedi pra esse meu amigo, que tinha ido passar férias em Portugal, comprar para mim o livro “Silmarillion”, que até então não havia sido lançado no Brasil, e eu já era fã do Tolkien naquela época; pois bem, ele o achou numa loja em Lisboa, onde também se vendia discos e estavam lançando esse EP do Marillion; como ele também curtia rock progressivo e gostou do que ouviu e, principalmente, por causa da coincidência do nome da banda e do livro, ele resolveu trazer o disco pra mim. Provavelmente fomos uns dos primeiros brasileiros a conhecer a banda por uma mais do que feliz obra do acaso.

Márcia: E qual deles seria o mais estranho dentro da coleção?

Maddy Lee: Não vou lembrar com exatidão porque não o tenho aqui comigo agora, mas é um CD com a gravação de músicas tradicionais judaicas cantadas por uma tribo de negros africanos convertidos ao judaísmo, com os versos traduzidos para o dialeto deles. Tudo à capella, com o ritmo do coração da África, lindíssimo. E estranho... (risos)

Márcia: Qual álbum deu mais trabalho para encontrar?

Maddy Lee: O do Museo Rosenbach, talvez - acabei pagando uma grana absurda nesse disco, lá pelo final dos anos 70, começo dos 80. O LP split das bandas La Statale 17 e Emphasis (eu não sosseguei até comprá-lo de um italiano maluco que vivia no interior de MG); a primeira edição do primeiro do Grobschnitt; os dois primeiros do Faust. Agora tudo isso é uma moleza de encontrar em mp3. A versão japonesa do “Yessongs” também não foi fácil - essa versão tinha desenhos extras do Roger Dean, encarte com fotos, também diagramadas e com arte final do Roger Dean, letras (em inglês e também naquelas algaravias japonesas), datas da turnê, vinil de primeira qualidade etc., um luxo só, bem exagerado, como o Yes. (risos)

Mas teve um que eu tive em LP, um dos que viraram fumaça, que perdi a chance de comprá-lo quando o achei em CD, por não ter dinheiro no momento (estava voltando da praia, no São Conrado Fashion Mall), e que fiquei procurando que nem um doido; eu pedia pra todo amigo que ia pra fora do país pra ver se achava e nada. E nem é assim um disco tããããão raro, nem tão excelente, mas que eu curto muito tem um sentimento cheio de boas lembranças relacionadas às músicas desse disco, esse tipo de coisas. É o “Guitar & son”, do guitarrista Pete Haycock. Quem me presenteou com a versão em mp3 desse disco foi o sumido Hebag, mas veio com uma das faixas na versão ao vivo, de outro disco; depois, e eu já não me lembro muito bem, ou o Edson me presenteou com o disco completo ou eu acabei achando em algum blog. Foram aí bem uns 20 anos pra ter, finalmente, esse disquinho, mas, mesmo assim, em mp3, porque CD, mesmo, nunca vi, deve ter saído de catálogo e quem o tem não se desfaz.

Márcia: Ainda tem uma lista grande de discos que procura?

Maddy Lee: Enorme! Todos os discos que ainda não foram lançados! (risos) Na boa, já estou satisfeito, tenho mais discos pra escutar do que em meu tempo de vida poderei dispor.

Márcia: Como costuma achar seus objetos de desejo?

Maddy Lee: Hoje em dia é mais obra do acaso ou, então, eu apelo para o Google. No caso do CD físico, há bem pouco tempo atrás eu estive no Rio, na Tijuca, onde moram meus pais, e dei uma passada na Scheherazade, um núcleo de incansável resistência do meio, e achei alguns discos que não pude deixar de comprar: o novo do Quaterna Réquiem (“O arquiteto”), o do Água Brava (por uma razão puramente sentimental), lançado também há pouco tempo, e quatro da banda Ankh, que acabei postando n’O Pântano Elétrico.

Márcia: Sua coleção é compartilhada no seu blog?

Maddy Lee: Acho que já ripei e compartilhei todos os discos que eu tenho; ao menos os que mereciam ser postados no blog. É só dar uma olhada lá.

Márcia: Pode citar algumas das raridades que tem em sua coleção?

Maddy Lee: Acho que já respondi essa pergunta...

Márcia: Sei que pedir uma lista de dez álbuns que considere fundamentais é sacanagem, mas pode fazer uma listinha comentada.

Maddy Lee: Acho que eu vou fugir dessa... É que não consigo mesmo fazer uma lista tão pequena! (risos) Dez, só?! Não dá mesmo! Pô, só do Rush tem uns cinco ou seis, o mesmo do Led Zeppelin, e ainda tem Beatles, Black Sabbath, Mutantes, Björk, U2, Radiohead, Muse...

Caso queira acompanhar a série “Loucos por Música”, os já publicados são:

> Luciana Aum do blog ProgRockVintage

> Cristian Farias do blog Eu Escuto

> Luiz Fernando Rodrigues dos blogs Envoyez-la e Eu Escuto

> Bruno Costa do blog Eu Ovo

Por Márcia Tunes  –  marciatunes@gmail.com

7 Comentários

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  • Diego Camargo

    Ah o Maddy, uma beleza poder ler um pouco sobre ele. Um dos poucos amigos virtuais que duram por anos, desde 2006 ou algo assim rs

  • Edson dAquino

    Falaêêêêêê, spacey broDim!!!!
    Mandou bem, mandou muuuuiiiito bem! Sem mistérios pra mim pq tamo sempre junto e mixturado em esbórnias brenfoetílicomusicais, mas é sempre uma delícia lê-lo-o, hehehe.
    []ões nos cuecas e }{ões...na Marcinha

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