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Blogueiros: Romeu Corsino desvenda as grandes obras de rock progressivo

Formado em direito, trabalha na Justiça Federal; também é músico e participou de várias bandas

Música  –  26/11/2012 22:52

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(Fotos: Divulgação)

"Faço uma análise das letras

ao longo do instrumental"

Para não ser repetitiva e ficar falando sempre do meu prazer em postar sobre blogs, blogueiros e colecionadores, abro a série "Loucos por Música" com a apresentação do meu convidado de hoje, que é Romeu Corsino, 25 anos, formado em direito, trabalha na Justiça Federal. Desde os 12 anos tem contato com o rock progressivo. Também é músico e participou de várias bandas, de classic rock ao rock progressivo, tocando baixo, guitarra, flauta e cantando. Revelou que, no entanto, sua melhor experiência foi tentar desvendar as grandes obras de rock progressivo através de suas resenhas. Quando percebeu que havia um feedback, ou seja, que havia pessoas interessadas em saber sobre esses álbuns, sentiu a importância do seu trabalho. Embora não tenha uma regularidade de postagens, devido ao tempo tomado pelo trabalho e estudos, todos os dias visita o blog para reler algum texto ou eventualmente atualizá-los. É, de fato, um trabalho prazeroso.

Márcia: Romeu, como e quando começou a escrever seu blog? Qual era o objetivo e esse objetivo permanece o mesmo ainda hoje? 

Romeu: A ideia do Prog Resenhas é esclarecer a mensagem central dos grandes clássicos do rock progressivo. É uma análise das letras ao longo do instrumental. O projeto teve início em julho de 2008 e permanece na ativa, sem perder o objetivo inicial.

Márcia: Quando começou já era “Prog Resenhas” e por que escolheu esse nome?

Romeu: Sim, desde o início o nome foi Prog Resenhas. O nome "prog", como abreviação de progressivo, é muito utilizado entre os fãs. Então eu queria esse termo. Pensei em algo como "progabout", como um trocadilho da música "Roundabout", do Yes, uma das mais conhecidas canções entre os fãs. Porém, seria interessante um nome em português, pois as resenhas seriam escritas em português. Então ficou Prog Resenhas.

Márcia: Como escolhe os álbuns para suas postagem? Suas escolhas são aleatórias?

Romeu: Nesse momento eu me coloco no lugar do leitor e me pergunto sobre qual álbum eu gostaria de ler. Algumas vezes eu me deparo com álbuns que eu nunca ouvi antes. Ao mesmo tempo em que se torna um desafio decifrá-los, acaba sendo satisfatório depois de decifrados. Portanto, as escolhas são aleatórias dentro do contexto do rock progressivo e seus subgêneros.

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"Os blogs voltados para a música desempenham o papel
de difusão da cultura de diferentes lugares e de diferentes épocas"

Márcia: Seu blog é um pouco diferente da maioria dos dedicados à música, nele você faz somente resenhas, por quê?

Romeu: Porque infelizmente eu não vejo muita fonte de pesquisa na internet relacionada tão-somente aos álbuns de rock progressivo. É comum os leitores buscarem conteúdo em sites como o Wikipédia, mas, por não se tratarem de sites especializados no assunto, as informações são genéricas e até mesmo equivocadas em alguns casos.

Márcia: Você acredita que de alguma forma ao publicar um álbum em mp3 para download esteja prejudicando as bandas, falando de direitos autorais?

Romeu: No caso específico das bandas de rock progressivo, não vejo esse tema como uma questão prejudicial. Isso porque o auge das bandas de rock progressivo se deu na primeira metade dos anos 70. No entanto, no atual cenário musical, o rock progressivo é quase desconhecido. Compartilhar o material das bandas clássicas do prog não apenas impede a "morte" do gênero, como também atrai o interesse dos jovens pelo estilo musical.

Márcia: Qual é a importância de um blog dedicado à música na internet?

Romeu: Os blogs voltados para a música desempenham o papel de difusão da cultura de diferentes lugares e de diferentes épocas. Em boa parte dos álbuns do fim dos anos 60, por exemplo, há críticas pesadas à guerra. Foi o período em que estava em curso a Guerra do Vietnã e as consequências dessa guerra, e de outras como a 2ª Mundial, tiveram grande repercussão entre os jovens. Esses jovens escreveram suas críticas e imortalizaram as letras através de seus álbuns para que os futuros jovens tivessem acesso a essa cultura.

Márcia: Sua coleção aconteceu por acaso ou desde o início você já sabia que era um colecionador?

Romeu: Minha coleção de álbuns resume-se à minha vontade de desvendar a mensagem que os músicos tentam passar. É como se você sentisse a necessidade de ver outros quadros de Picasso para entender o primeiro. A mesma coisa acontece com a música. Eu sinto a necessidade de conhecer o trabalho completo da banda para buscar entender o motivo que levou o artista a criar determinada letra. E ainda assim, acabo chegando a várias conclusões. Por isso trato o rock progressivo como arte: é sempre passível de novas interpretações com o passar do tempo.

Márcia: Quando começou a colecionar?

Romeu: Comecei a colecionar os CDs de rock progressivo aos 12 anos. O primeiro deles foi "Thick as a brick" do Jethro Tull, dado pela minha mãe ( e ela me disse que escolheu esse porque achou bacana o jornal na capa!). No entanto, com a facilidade de conseguir o material através da internet aliado à falta de espaço físico em casa, decidi me desfazer dos CDs e armazenar os álbuns em mp3.

Márcia: Sua coleção é de LPs, CDs, mp3 ou tudo junto?

Romeu: Antes de me desfazer da minha coleção, eu contava com alguns LPs e bastante CDs. Atualmente, só possuo mp3.

Márcia: Sua coleção é só de rock ou outros gêneros podem entrar?

Romeu: É fundamental ouvir outros gêneros musicais, principalmente em se tratando de fãs de rock progressivo. Digo isso porque o rock progressivo é um gênero com influências da música clássica, do rocknroll, do jazz, do blues, do folk, da música psicodélica etc. Ou seja, por ser bastante eclético, é muito comum que os fãs escutem outros gêneros.

Márcia: Qual o LP/CD ou mp3 que considera o mais raro de sua coleção?

Romeu: Talvez seja o único álbum solo do baixista e vocalista do Triumvirat, o Helmut Kôllen. O nome do álbum é "You wont see me" de 1976. Esse álbum tem uma história curiosa. Helmut tinha acabado suas gravações e foi ouvi-las no som do seu carro dentro da garagem de sua casa. Porém, com o carro ligado, o monóxido de carbono foi tal que ao sair do carro ele acabou morrendo asfixiado. O título do álbum é de certa forma irônico.

Márcia: E qual deles seria o mais estranho dentro da coleção?

Romeu: Acredito que seja o "Love beach" do ELP. O rock progressivo é reconhecidamente um gênero de músicas sérias. O ELP, no entanto, sempre teve a peculiaridade de tocar uma faixa descontraída mesmo nos álbuns mais sérios. Porém, esse álbum foi uma quebra total com o rock progressivo. Não bastasse o título, os três integrantes aparecem na capa do álbum super alegres numa praia e com roupas de gosto duvidoso.

Márcia: Qual álbum deu mais trabalho para encontrar?

Romeu: A discografia do Rick Wakeman conta com algumas centenas de álbuns. Eventualmente eu tive dificuldades para encontrar um ou outro álbum dessa discografia.

Márcia: Ainda tem uma lista grande de discos que procura?

Romeu: Sim, diariamente estou conhecendo novas bandas e meu interesse em novos materiais cada vez mais aumenta. Infelizmente a indústria fonográfica impede o compartilhamento de boa parte dos materiais postados em blogs. Por sorte, há outros meios de adquiri-los.

Márcia: Como costuma achar seus objetos de desejo?

Romeu: Hoje em dia eu uso muito os trackers, que são grupos fechados de compartilhamento de torrents. A grande vantagem de um torrent é que não há como a indústria fonográfica impedir que você compartilhe parte de uma obra protegida por direito autoral.

Márcia: Sua coleção é compartilhada no seu blog?

Romeu: Não, pois o compartilhamento de música não é foco do meu blog, mas sim o compartilhamento de ideias. Todavia, por me sentir no papel de difundir a cultura musical dos amantes do rock progressivo, eu disponibilizo a discografia das bandas resenhadas em links que ficam em locais não muito visitados do blog, exclusivamente para não chamar a atenção da fiscalização.

Márcia: Pode citar algumas das raridades que tem em sua coleção?

Romeu: Existe uma infinidade de bandas desconhecidas no rock progressivo, sendo seus álbuns, portanto, raros. No entanto, mesmo as bandas conhecidas possuem alguns trabalhos não muito conhecidos. Por exemplo, Pink Floyd com toda sua fama, muitos fãs desconhecem os álbuns solo do Richard Wright e do Nick Mason, motivo pelo qual eu os considero raros. O mesmo acontece com álbuns solos de membros de outras bandas famosas como Mike Rutherford (Genesis), Bill Bruford (Yes) ou Colin Bass (Camel).

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Márcia: Sei que pedir uma lista de dez álbuns que considere fundamentais é sacanagem, mas pode fazer uma listinha comentada.

Romeu:

1. In the Court of the Crimson King (King Crimson)
Esse álbum é especial não apenas por sua mensagem, mas por ser o primeiro álbum conceitual do rock progressivo, embora haja divergências quanto a esse mérito.

2. Thick as a Brick (Jethro Tull)
Esse álbum veio em resposta aos críticos que insistiam em rotular o álbum anterior, "Aqualung", como conceitual. A banda quis mostrar o que eles de fato entendiam como álbum conceitual e essa eu considero a melhor resposta à mídia no rock progressivo.

3. Tales from Topographic Oceans (Yes)
Esse álbum foi o trabalho mais ousado e desafiador da banda e eu acho que isso é o objetivo do rock progressivo: utilizar-se do experimentalismo para inovar os conceitos musicais tradicionalmente construídos e preservados.

4. The Dark Side of the Moon (Pink Floyd)
Esse álbum conseguiu a façanha de criticar a sociedade capitalista e ao mesmo tempo ser um dos mais vendidos de todos os tempos da indústria fonográfica. É um marco.

5. Nursery Cryme (Genesis)
Embora não seja um álbum conceitual, eu o considero o álbum mais rico de temas aleatórios.

6. The Snow Goose (Camel)
Uma das mais belas interpretações instrumental de uma obra literária.

7. Wish You Were Here (Pink Floyd)
Esse álbum representa uma das mais bonitas homenagens no rock progressivo. É inteiramente dedicado ao ex-líder da banda Syd Barrett, cuja história por si já é instigante.

8. Misplaced Childhood (Marillion)
Nesse álbum, o vocalista Fish expõe a fundo seus traumas e ressentimentos. Em minha opinião é o álbum mais introspectivo do rock progressivo.

9. El Profeta (Armando Tirelli)
Esse álbum é a melhor homenagem já feita ao filósofo libanês Khalil Gibran de que já tive notícia.

10. Depois do Fim (Bacamarte)
É um álbum de uma banda brasileira e é considerado um dos maiores álbuns do rock progressivo sinfônico. É por isso que está nesse top 10.

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Caso queira acompanhar a série “Loucos por Música”, os já publicados são:

> Luciana Aum do blog ProgRockVintage

> Cristian Farias do blog Eu Escuto

> Luiz Fernando Rodrigues dos blogs Envoyez-la e Eu Escuto

> Bruno Costa do blog Eu Ovo

> Marcello “Maddy Lee” do blog Pântano Elétrico

> Renato Menez do blog Stay Rock

Por Márcia Tunes  –  marciatunes@gmail.com

1 Comentário

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  • joao marcos fabbri

    também sou apaixonado por rock progressivo, concordo com tudo que foi dito, acompanho o blog, parabéns ótima entrevista.