(Foto Ilustrativa)
Salas estão lotadas, escolas com problemas
estruturais e obras são de fachada
Hoje quero falar diretamente aos professores da rede municipal de Volta Redonda, aqueles que, assim como eu, pegam todos os dias no serviço acreditando em dias melhores e que há muito se sentem desprestigiados e até humilhados com a paulatina desvalorização do nosso salário e condições degradantes de trabalho. São salas lotadas, escolas com problemas estruturais e obras de fachada, que não deveriam mais enganar ninguém.
O dia da eleição está chegando e não venho aqui para pedir voto a nenhum candidato, venho aqui cobrar de nós professores (me incluo nesse grupo, por também ser professor) a vergonha na cara que está nos faltando há tanto tempo, a dignidade que tentam nos roubar, a chama que deveria nos motivar todos os dias para trabalhar.
Estamos há mais de uma década sem reajuste, com uma defasagem brutal em nossos salários, um PCC que só sai no jornal, mas que nunca é posto em prática, e sabe o que fizemos nesse tempo todo: formamos mais de uma geração de eleitores. Façam as contas, vejam quantos alunos passaram por nossas mãos nesses anos todos e que hoje têm o poder do voto na ponta dos dedos. O que fizemos por eles? Ensinamos a ler e escrever? Ensinamos as operações matemáticas? Será que os ensinamos a pensar? Eles hoje poderiam ser nossos aliados na nossa luta por mudanças, hoje poderíamos estar orgulhosos, sabendo que são pessoas conscientes e que vão votar com responsabilidade, mas será que isso vai acontecer?
Sei que posso parecer alarmista, porém, mais uma geração está sendo formada nas nossas escolas, tendo a impressão de que tudo está bem e de que todas as situações que ocorrem são normais, pois não veem nos seus principais modelos (nós professores) a vontade de lutar, de mudar e de buscar algo melhor. Pergunto a todos, alguém se lembra de quando foi a mais recente paralisação dos professores de Volta Redonda? E a mais recente greve? Ninguém se lembra, não só por já ter sido há muito tempo, mas principalmente pela falta de mobilização dos professores. Como podemos querer que os alunos que passaram por nós sejam combativos e cidadãos críticos, se nunca demos esses exemplos a eles?
Gostaria de pedir a todos que fizessem uma pequena autocrítica, que refletissem ao fim desse texto, sobre o que estão fazendo por vocês mesmos e pela sociedade. Que cidade você quer para você, que cidade quer para os seus filhos? Não podemos deixar que tirem de nós o que temos de mais importante, que é a nossa dignidade. Somos homens e mulheres que ao optar por essa profissão assumimos o dever de transformar o mundo. Vamos acreditar no poder que está em nossas mãos, no brilho do nosso olhar, na força de nossa voz e na forma que conduzimos nossas vidas. Nós podemos e, se quisermos, nós faremos.
> Felipe Falcão é pedagogo formado pela Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), com pós-graduação em educação especial e orientação educacional