(Foto Ilustrativa)
Será que queremos pessoas vassalas,
que aceitam qualquer medida sem contestar?
Publiquei outro dia o texto “Ensino público: escolas ou prisões?”, comentando sobre os modelos arquitetônicos utilizados e até mesmo as condições em que são tratados os alunos dentro dessas instituições. E eis que uma notícia chamou muito a atenção de todos: “Alunos do Rio Branco são suspensos após protesto contra câmeras na sala”.
Essa escola é uma tradicional instituição de São Paulo que conta com mais de 1,3 mil alunos, entre os ensinos fundamental e médio, ocupa a 42ª posição no Enem no seu estado e, pasmem, cobra valores de R$ 1.883,00 a R$ 1.978,00 para alunos do ensino médio. Só para compararmos, isso é mais do que a média salarial brasileira de 2011 - R$ 1.625,46 - registrada pelo IBGE.
O que me alarmou não foi só o fato em si, da instalação das câmeras, que se torna uma ferramenta coerciva contra os alunos, mas também contra os professores, mas, fundamentalmente, a prática autoritária e arbitrária da direção da escola, que, ao ser questionada pelos alunos, não se manifestou e ao ser surpreendida por um ato pacífico de protesto (alunos se sentaram no pátio e se recusaram a entrar em sala de aula esperando uma posição da direção) suspendeu a todos.
Em que país estamos vivendo? Voltamos à ditadura e ninguém me avisou? Como uma pessoa que toma esse tipo de atitude pode ser diretora de uma escola? Onde está o manejo de classe dessa pessoa? Alguém que não tem coragem de se posicionar diante de um grupo de adolescentes, como pode querer dar o direcionamento do futuro deles? Onde ficaram os professores, que como educadores deveriam estar ao lado de seus alunos, para coibir arroubos ditatoriais como esses?
A sala de aula deve ser um local de ebulição de ideias, de mediação entre alunos, e o conhecimento, aberto a debates e provocações que tenham como direcionamento a construção e o desenvolvimento do conhecimento e do caráter. Temos que analisar friamente a situação, vamos recorrer ao projeto político pedagógico, ver que tipo de ser humano queremos formar. Será que queremos pessoas vassalas, que aceitam qualquer medida sem contestar? Ou queremos seres pensantes que não vão aceitar passivamente qualquer medida arbitrária?
Pais, mães e responsáveis, vamos pensar bem o que queremos para nossos filhos, sejam alunos de escolas públicas ou particulares, sempre teremos boas e más instituições, cabe a nós escolhermos, com responsabilidade e carinho, pois é o futuro de nossas crianças que está em jogo.
> Felipe Falcão é pedagogo formado pela Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), com pós-graduação em educação especial e orientação educacional