(Fotos: Divulgação)
Beyoncé foi uma das atrações ontem, 13, no primeiro dia do festival em sua edição 2013
Na minha opinião existem festivais bem mais interessantes, que trazem mais novidades e que têm o propósito muito mais fiel ao rock do que o Rock in Rio. O Lollapalooza, o Monsters of Rock são exemplos bem claros de fidelidade ao rock e seus subgêneros. Mas não tem como negar a força da marca Rock in Rio. O evento idealizado pelo publicitário e empresário Roberto Medina tinha por objetivo comemorar a liberdade, num momento em que o Brasil vivia a expectativa de uma transição para a democracia, depois de mais de 20 anos de repressão.
Hoje, esse festival diferente de muitos outros tem um apelo mais popular e fica no imaginário das pessoas. Semana passada, uma repórter de uma TV local me ligou toda empolgada porque queria fazer uma matéria sobre o Rock in Rio, queria saber se eu estava fazendo excursão, como estava a expectativa pra ir no evento etc. Simplesmente respondi, "Não, eu não vou" e indiquei uma pessoa que ia. Mas ficou me parecendo que estava fazendo algo errado, um crime, o fato de eu não ir ao evento.
Outra situação que presenciei foi no início do ano: "Este ano vamos fazer um grande festival na cidade, até porque tem Rock in Rio, né? Vamos aproveitar esse apelo, vamos fazer algo nesse nível...". Algumas pessoas acham que o Rock in Rio é o máximo do que um evento pode ser, veem como uma referência, mas não tem noção do que falam.
Ivan Lins na primeira edição do maior festival de música do mundo
Não vou desmerecer aqui o evento, porque ele teve (e tem) sim sua importância, foi o primeiro grande festival realizado no país trazendo atrações internacionais e as principais bandas que estavam surgindo com o boom do rock nacional. Foi também considerado o maior evento do mundo desde sua primeira edição.
O erro pode estar no nome
O Rock in Rio não é e nunca foi um evento de rock! É um grande evento de música, que tem em sua programação diversos estilos que agradam desde o público teen ao público mais velho. Desde o pop ao heavy metal. É difícil as pessoas perceberem isso? Porque não entendo o espanto das pessoas até hoje sobre o line up do Rock in Rio. A cada edição realizada o que se vê são centenas de pessoas reclamando da programação, mas também milhares de pessoas comprando e esgotando os ingressos em poucos dias. Acho que talvez o nome Rock in Rio, apesar da marca forte, seja o maior erro do evento. Digo isso porque desde a primeira edição o evento não traz só o rock na sua programação e já há algum tempo ele não acontece só no Rio. Ter um evento como nome Rock in Rio Lisboa e Rock in Rio Madri, soa no mínimo muito estranho. Quem sabe não rola um Rock In Rio Volta Redonda no Forró da Branca um dia? Se a ideia for confundir o evento pelo nome, seria perfeito!
Querem falar de line-up? Vamos falar de line-up!
Não estou aqui pra defender ou criticar o evento em si. Estou aqui pra mostrar pras pessoas que reclamam do evento, de toda sua concepção, que ele sempre foi desse jeito. E que a cada edição essas reclamações surgem, mas nunca param pra ver o line-up das edições anteriores. Todo mundo tem o direito de reclamar, mas estão fazendo isso como se o evento tivesse mudado o foco, o seu objetivo. E olha que tinha dias que havia uma mistura muito "pior", digamos assim.
Ter por exemplo, no dia 11 de janeiro de 1985, Ney Matogrosso, Erasmo Carlos, Baby Consuelo e Pepeu Gomes com os internacionais Whitesnake, Iron Maiden e Queen, ou no dia 19 de janeiro de 1985, ter Baby Consuelo e Pepeu Gomes, Whitesnake, Ozzy Osbourne, Scorpions e AC/DC, é uma prova de que não era só o rock que estava presente, né? Isso só pra citar dois dias da primeira edição do festival. E pra clarear a memória ou para informar a quem critica e desconhece a história do festival e a pluralidade de estilos no evento, nomes como Ivan Lins, Elba Ramalho, Gilberto Gil, Moraes Moreira e Alceu Valença também se apresentaram nessa mesma edição ao lado de nomes do rock nacional e mundial.
Na segunda edição, em 91, tivemos nomes como Jimmy Cliff, Roupa Nova, Run DMC, New Kids On The Block, Information Society, Debbie Gibson, A-Ha, Dee-Lite, Lisa Stansfield, George Michael, Alceu Valença (de novo), Elba Ramalho (de novo), Ed Motta, Moraes Moreira (de novo) e Pepeu Gomes (de novo). Todos esses citados não são "rock", mas estiveram na segunda edição. Nessa edição teve uma noite destinada totalmente ao rock, que tinha Sepultura, Megadeth, Queensrÿche, Judas Priest, Guns N Roses e Lobão (que também é rock, mas não pesado quanto os outros). Este último foi impedido de executar seu show devido ao público ávido por um som mais pesado. Creio que o erro foi ter escalado Lobão próximo do show do Sepultura. Mas até numa noite destinada ao rock, um artista de rock foi impedido de tocar no evento. Vai entender o público...
Só pra completar a lista de artistas que não são "rock" que foram escalados nas edições (contando apenas com o palco principal, sem citar os palcos alternativos porque senão a lista vai aumentar consideravelmente), destaco:
Rock in Rio III - Orquestra Sinfônica Brasileira, Milton Nascimento, Daniela Mercury, Carlinhos Brown (que levou muita garrafa de água na cabeça), Sandy & Junior, Five, Britney Spears, N Sync. Rock in Rio IV - Claudia Leitte, Katy Perry, Rihanna, Janelle Monáe, Ke$ha, Jamiroquai, Stevie Wonder, Marcelo D2, Ivete Sangalo, Shakira. A edição desse ano tem Ivete Sangalo, Beyoncè, David Guetta, Justin Timberlake, Jessie J e Alicia Keys.
> Se quiserem ver o line-up das edições anteriores tem aqui.
Pra finalizar
Enfim, tem muita gente querendo brincar de promotor de eventos e idealizar o Rock in Rio dos seus sonhos, mas esquece que o evento tem um fim comercial e de repente a banda de rock que você acha boa, não dê um retorno tão bom quanto por exemplo um show da Beyonce. O público pensa em atrações, em shows que lhe dê prazer em assistir. Os produtores pensam em atrações, em shows que lhe deem retorno financeiro. Não necessariamente trabalham só pelo gosto pessoal. Enquanto ingressos para eventos nesse formato se esgotarem com antecedência, não haverá motivos para mudanças, afinal, ingressos esgotados é sinal de sucesso de público e de bilheteria no evento. Pra que mexer no que "está dando certo"? Se coloque também nos lugares dos produtores, mas como uma pessoa que está investindo dinheiro, e não somente com sua capacidade de criar um line up dos sonhos.