(Fotos: Divulgação)
"Tocar nas ruas de São Paulo ou Rio é a mesma coisa
que tocar em qualquer grande capital do mundo, tem gente de todo tipo"
Quando havia lançado apenas um disco, a banda já tinha participado das seletivas para o Mada, um dos maiores festivais nacionais, chegando, inclusive, na final. Agora, com o segundo álbum, a banda ganha destaque na imprensa especializada, como a "Revista Rolling Stone", além de aparecer em alguns sites, incluindo o disco “A música da alma” na lista dos 30 melhores álbuns nacionais ou a música “Making love” entre as 50 melhores do ano. É claro que com a tecnologia, os recursos técnicos, os softwares acessíveis permitem a possibilidade de se experimentar, produzir e distribuir a música, mas isso tudo vira apenas um detalhe, se o grupo não tiver uma coisa chamada talento. E isso o Amplexos tem. Convidamos Guga, o guitarrista e vocalista da banda, para um bate-papo no "Submundo".
O disco "A música da alma" foi gravado ao vivo em um estúdio de Volta Redonda e foi mixado por Buguinha Dub, que já trabalhou com grupos como Nação Zumbi, Mundo Livre S.A. Como foi o contato com ele e como rolou o convite?
Gravamos o disco no Caos e Vitrola, em Volta Redonda, estúdio do produtor Jorge Luiz Almeida, e o contato com Buguinha foi pouco antes do processo de gravação. já sabíamos a sonoridade que queríamos pro disco, ouvimos muita música jamaicana, King Tubby e Lee Perry principalmente, e o Buguinha é autoridade máxima nessa parada aqui no brasil. O primeiro cara que pensamos pra ajudar a gente fazendo a mixagem e adicionando esses dubs foi ele. Fizemos o contato pela internet, depois fomos a um show que ele tava trabalhando no Rio e trocamos ideia, mostramos as músicas, nos entendemos muito bem. A partir daí foi só emoção, ele fazia as mix e mandava pra gente, música a música, foi uma bela sintonia.
Segundo CD da banda Amplexos conquistou a crítica especializada em 2012
Percebe-se uma diferença na sonoridade dos dois discos lançados pela banda. Hoje é muito visível que a banda experimentou elementos de afro-beat, reggae, música brasileira e rock. A que se deve essa mudança?
Deve-se principalmente à nossa mudança e evolução pessoal mesmo. Experimentamos muitas coisas que na época do primeiro disco não conhecíamos, aprendemos muito com essas experiências e vivemos de uma forma um pouco diferente hoje. A música acompanhou essa evolução.
Houve um movimento iniciado por pessoas que gostam do primeiro trabalho para que vocês fizessem um show apenas com músicas do primeiro disco. A repercussão foi tão grande que o show aconteceu e com ótima presença do público. Partindo desse princípio, você não acha que as músicas do primeiro álbum não poderiam estar juntas no show do disco novo e que elas também são tão importantes quanto as novas?
Partindo desse princípio, sim. Mas se formos pensar em repercussão, as músicas novas já atingiram muito mais gente, e lançamos o disco há pouco mais de um mês... Por isso mesmo, por serem tão novas, a gente quer tocá-las, quer que mais gente ainda conheça essa mensagem. E, sinceramente, não tenho visto mais ninguém pedindo as músicas antigas, mesmo aqui em Volta Redonda, onde elas circularam mais. Ainda vai rolar, certamente, a gente tem vontade de tocar umas coisas do primeiro disco e vai tocar, mas por enquanto estamos muito focados na missão da "Música da alma".
Este ano a banda teve a oportunidade de dividir palco com guitarrista Oghene Kologbo, considerado um representante fiel do afrobeat. Como foi o contato com ele e o que a banda pode aprender com essa troca de experiência?
Fomos ao show do Tony Allen no Circo Voador, chapamos completamente no show e no Kologbo, que ficou pelo Brasil. O cara é um missionário, roda o mundo ensinando o afrobeat para a nova geração, e foi isso que ele fez e tem feito também aqui. Ele gostou da gente, do nosso estilo. E nós ouvimos muito Fela Kuti durante o processo do disco, tocar com o Kologbo (que esteve em mais de 30 discos do Fela, desde o começo dos anos 70) foi um aprendizado gigantesco de música e mais ainda de vida. Tudo o que ele fala e vive confirma o que a gente diz, o que a gente faz e acredita.
Outro projeto que a banda participou foi o Tributo ao Raça Negra, intitulado “Jeito Felindie”, onde diversas bandas independentes fizeram releituras do famoso grupo de pagode. Como rolou esse convite e como foi a escolha da música? O pagode também está entre os estilos de música que vocês ouvem?
O convite veio do Jorge Wagner, idealizador do projeto. Ele é jornalista e já conhecia o nosso som pelo EP "Manifesta", a gente já tinha alguma aproximação de amigos em comum, e aí ele fez o convite. A música a gente escolheu em meio a uma lista de músicas do Raça Negra que ele mesmo fez. Na banda tem um monte de pagodeiro, geral já ouviu muito e ouve ainda Raça Negra, é uma influência sim.
Capa: Banda está no disco Tributo ao Raça Negra, disponível para download
O álbum só está disponível para download ou também será lançado em formato físico?
O "Jeito Felindie"? Só download por enquanto, mas acho que ainda sai o físico. O nosso álbum "A música da alma" tem no nosso site pra download grátis e também o físico.
Contracapa: Guga diz que Raça Negra é uma das influências da banda
Você sabe o que os integrantes do Raça Negra acharam da ideia do tributo? Sabe se eles ouviram e se eles gostaram?
O Luis Carlos gostou da ideia, chegou a dizer que quer fazer um álbum com composições de artistas novos, achei legal. Mas não sei o que eles acharam depois de pronto.
A banda tem realizado apresentações em espaços públicos no Rio de Janeiro e também aqui em Volta Redonda. Como e quando surgiu essa ideia de ocupação de espaços públicos?
Surgiu depois que fizemos um show com o Kologbo nos Arcos da Lapa. Percebemos que a nossa música pode atingir qualquer pessoa, em qualquer situação, de diferentes idades e tudo mais. Ao mesmo tempo, foi um jeito de chegar diretamente a pessoas que jamais teriam a oportunidade de ver a gente na internet, em alguma casa de show etc. Temos o equipamento, viajamos muito durante o ano todo com shows em espaços fechados, e sempre levamos o equipamento pra também chegar nas ruas, em diferentes pessoas, conhecendo "outros lados" das cidades. Tocar nas ruas de São Paulo ou Rio é a mesma coisa que tocar em qualquer grande capital do mundo, tem gente de todo tipo.
Como você vê os espaços para uma banda independente divulgar o seu trabalho na cidade e na região?
São bons, faço parte de um grupo de artistas inquietos, que nunca se acomodou com nada e sempre foi atrás de forma independente, começamos há alguns anos e a coisa foi acontecendo, aumentando, tomando uma forma, a gente mesmo foi crescendo pra fora daqui e dando moral pra quem chegava. Hoje a cena é plural, tem bandas de variados estilos, movimentos acontecendo não só na música, mas na poesia, teatro, cinema - e muita gente de uma geração novíssima. É lindão de ver, estamos tentando nos aproximar dessa molecada pra passar um pouco da nossa experiência, trocar e aprender também. O espaço tem, se não tem a gente cria. Nós, que estamos aí há um tempão, estamos fazendo isso, tocando nas ruas... A molecada, então, tem que aproveitar e fazer também. E ainda tem a internet, que eles dominam bem mais do que a gente.
> XTRAS
# Baixe “Jeito Felindie - Tributo ao Raça Negra” aqui
Assista ao clipe de "Quando te encontrei", música regravada pelo Amplexos para o tributo “Jeito Felindie”, dirigido por Rabú Gonzales