(Foto Ilustrativa)
Bertold Brecht: "Dizem violentas as águas do rio, mas não as margens que o oprimem"
Um elefante incomoda muita gente! Dois elefantes incomodam muito mais! dois elefantes, três, quatro, cinco... Lá vai o povo pra rua! "Não é Turquia! Não é a Grécia! É o Brasil saindo da inércia!".
Pois foram incomodados e serão ainda mais, as manifestações não vão parar por aí! Tem dúvidas? Eu não! Tá achando que é só o preço da passagem? Eu não: as manifestações são só gotas de água numa tsunami de insatisfações. Insatisfação com os preços do transporte, moradia, alimentação. Com a violência, com a criminalização da pobreza e dos movimentos sociais. Com o lazer caro ou inexistente para os pobres. Com o trânsito caótico e a corrupção generalizada. E a tsunami vem ganhando força, tamanho, porque não há ali só estudantes: operários, repórteres, professores, desempregados, gays, maconheiros, mulheres, negros, índios, sem teto, sem terra estão indo para as ruas também. Juntos ou separados, mas sempre pelo mesmo motivo: insatisfação! Com governantes que não os representam e com a onda conservadora e fundamentalista que assola o país e emperra liberdade e conquistas de direitos individuais e das minorias.
Reação conservadora é a mesma utilizada por fascistas
Simpatizantes de regimes ditatoriais totalitários tentam gerar o pânico com boatos, agentes infiltrados, policiais quebrando e arrebentando para fazer crer que são os manifestantes quem fazem o quebra-quebra. Aqui em Volta Redonda fizeram isso na greve de 9 de novembro de 1988, quando depois de invadir a usina militares saíram pela Vila quebrando carros, vidros do Cine 9 de Abril, Clube dos Funcionários e ateando fogo nas barraquinhas dos artesãos (Eduardo Coutinho denuncia isso no documentário "Memorial da greve").
E a mídia, a imprensa, o Aparelho Ideológico do Estado, se regala! Tome capa de jornal, chamada do noticiário, especial do "Globo Repórter" estampando em letras garrafais: "Vândalos nas ruas!". E aí tome uns bobos a repetir o argumento: "Eles quebram tudo então perdem a razão", "Polícia é pra garantir a ordem e proteger patrimônio público", "Vagabundos não podem parar o trânsito", "Estudantes filhinhos de papai têm dinheiro pra pagar passagem"! Desta vez eles só não usam um argumento: o partido tal quer impedir a governabilidade. Não usam porque desta vez o movimento não é dirigido por partidos (mas seria legítimo se o fosse).
A luta é por um país mais decente
Mas a verdade é esta: Não são os preços da passagem o motivo, e não são os manifestantes os vândalos. A luta é por um país mais decente. E a violência não é adotada pela maioria. Mas é bom lembrar Bertold Brecht: "Dizem violentas as águas do rio, mas não as margens que o oprimem". Ir para as ruas em protesto, é, nestes tempos, lutar pela sobrevivência, pelo direito de amar, de dispor do próprio corpo e ingerir a substância que quiser. Ninguém aguenta mais. Ninguém aguenta Cabral, Haddad e outros jogando a culpa em manifestantes que enfrentam policiais treinados e despreparados (Mal orientados? Mal intencionados?) munidos de balas, bombas, spray de pimenta, cassetetes e cães, com gritos, jets de tinta e pedras.
O fato é que isso tudo não acaba aqui. As manifestações continuarão. Vem aí a Copa das Confederações, Jornada Mundial da Juventude, Copa do Mundo e Olimpíadas. Quer vitrine maior para denunciar ao mundo que o Brasil está sendo governado por fascistas?