(Foto: Reprodução/Facebook)
Tragédia mexeu com o sentimento do país
O assunto do momento é o incêndio que tirou a vida de centenas de jovens universitários na cidade de Santa Maria. Uma tragédia que mexeu com o sentimento do país. Choramos nossos jovens mortos e começamos a nos perguntar por qual motivo aquilo aconteceu e o que fazer para que aquilo não aconteça mais. Nos perguntamos sobre o poder público que libera o funcionamento de casas sem as devidas condições de funcionamento e segurança. Nos perguntamos sobre os donos dessas casas que colocam o lucro à frente da segurança de seus clientes. São inúmeras perguntas que precisam de respostas e de atenção.
O caso repercutiu muito no mundo todo. E alguns dos responsáveis pela tragédia foram presos. E em outras cidades pelo Brasil afora começaram a fiscalizar casas semelhantes. Boates e casas de shows estão sendo fechadas até se adequarem. Em Volta Redonda não está sendo diferente. A fiscalização começou e casas foram fechadas. OK, isso tá certo. Tem que fiscalizar e tem que fechar mesmo. Mas notem que grifei a palavra começou. Começou por quê? Tinha que rolar sempre essa fiscalização. Tinha que rolar sempre o alvará de funcionamento depois que a casa estivesse em totais condições de segurança, higiene e bom funcionamento. Mas isso não aconteceu. E agora, depois de uma tragédia, o poder público começa a fazer a fiscalização e a fechar estabelecimentos. Tarde demais, não acham?
Algumas questões que precisam ser levantadas
Até que as casas se adéquem, como ficam os funcionários? Como ficam os artistas que ali se apresentam? Quem paga os salários, os cachês etc. etc. etc.?
E os estabelecimentos públicos? Estão sendo fiscalizados? Trabalhei por mais de 15 anos como professor nas redes estadual e municipal e nunca vi um treinamento ou simulação de incêndio. Participei de pesquisa de saúde dos profissionais e nela pesquisei também o espaço físico e questões de segurança. Constatei que em muitas delas os extintores de incêndio não estão em locais adequados, e não existe ninguém que saiba utilizá-los em caso de incêndio. Serão realizadas visitas de fiscalização nas escolas também? Sugiro que o façam, e o mais rápido possível. E, por favor, não fechem as escolas para que elas se adéquem.
Outros lugares precisam ser fiscalizados
Os supermercados da cidade. Não me recordo de ver equipamentos, como extintores e mangueiras. E se acontecer um incêndio será que dá para sair com aquela quantidade de caixas no caminho?
Também não me recordo de equipamentos de segurança nos mercados populares. Se eu estiver errado me avisem, mas acho que em nenhum deles tem esses equipamentos e é o próprio poder público que os abriu e os fiscaliza.
Para além disso, queria levantar outra bola
Chorei em ver as famílias chorando, em ver o desespero dos que conseguiram sair e ajudavam a quebrar paredes. Chorei ao ver a solidariedade do povo brasileiro. Mas chorei também em lembrar que centenas de outros jovens morrem todos os dias sem que o poder público tome nenhuma providência. E escrevi um poema. Li na quarta-feira no Sarau Poesia em Volta, logo após fazer um minuto de silêncio pela morte dos jovens de Santa Maria. Para que lembremos que nossos jovens estão morrendo e ninguém faz nada.
eu choro os mortos
de todos os dias
nos morros cariocas
nas ruas da minha aldeia
nas ocupações
nos incêndios criminosos
nas favelas paulistas
eu choro os explorados
as menininhas prostitutas
das praias do nordeste
os craqueiros que se esparramam
e já brotam até na minha terra
choro os meninos soldadinhos
que levam chumbo da polícia
enquanto seus generais patrões
brincam em festas
com escravas brancas prostitutas
e carreiras brancas sobre espelhos
choro a vida podre da babilônia
e o viadinho morto a porradas
choro deslizamentos e enchentes
levando o nada da gente pobre
que se enfia em morros
e beiras de rios
choro toda injustiça
exploração
choro
mas não me calo
deixo que apareçam na poesia
que esparramo pelo caminho
e é pra esses por quem choro
que agora oro
laboro
Jah, me ajude nesta hora
me dê forças e sabedoria
pra vencer a batalha