Escritores e blogueiros estão voltando a enviar seus textos através de newsletters para seus leitores. Cada vez mais distraídos pelo excesso de informação das mídias sociais, oferecer a assinatura por e-mail volta a ser uma boa opção para reconquistar a atenção e a fidelidade dos leitores. Depois de quase 20 anos, essa modalidade é retomada como o conteúdo em si, diferente do uso que as empresas hoje costumam fazer dele, normalmente como um meio para uma ação de seu leitor, seja a divulgação de um produto ou conteúdo externo.
Em 1998, direto do túnel do tempo
Uma das primeiras newsletters de que se tem notícia na internet brasileira foi o Cardoso Online, lançada em 5 de outubro de 1998, uma época em que ainda não havia blogs ou qualquer outro meio mais simples de um autor se publicar na rede. Facebook, Twitter e outros não eram sequer uma possibilidade.
A ideia do criador do Cardoso Online, André Czornobai (o Cardoso) foi enviar semanalmente um e-mail a assinantes com textos de diversos autores amigos seus. Teve 278 edições (veja todas aqui) e lançou escritores como Daniel Galera, Daniel Pellizzari e Clara Averbuck.
Outro exemplo notável de newsletter que, com o advento dos blogs e afins, teve seu fim foi o SpamZine, de Alexandre Inagaki.
Finalmente, a partir de meados dos anos 2000, os blogs se tornaram cada vez mais populares no Brasil. Escritores, autores dos mais diversos estilos e blogueiros (palavra que na época era um neologismo), conquistaram um público fiel que enchia suas caixas de comentários com participações pertinentes e debates ricos e interessantes. Os blogs eram também de diálogo entre os próprios blogueiros. A troca de links era frequente e eram comum calorosos debates em artigos que levavam os leitores de um site ao outro.
Cinco autores, cinco newsletters
Com o surgimento das mídias sociais isso mudou. Segundo o jornalista autor Alessandro Martins, isso não é bom nem ruim em si, significando apenas uma mudança de dinâmica da circulação das informações.
- Mas diversos autores começaram a se sentir órfãos daquela participação toda que havia - diz Martins.
Para ele, é bom que qualquer pessoa possa emitir suas opiniões, publicar links e imagens em uma mídia social. É muito mais fácil do que criar e manter um blog e não exige o mesmo tipo de comprometimento, tanto técnico como também com a veracidade e a qualidade da informação.
- Porém, os leitores se dispersaram. É comum você ler um artigo e, pouco depois, nem lembrar do endereço do blog em que você o leu.
Alessandro Martins desde 2008 vive exclusivamente de seus blogs Livros e Afins, Iniciante na Bolsa, Casas Pequenas e outros. Mas decidiu há um ano lançar sua newsletter, a Íntimo e Careca. Ela é enviada a 6 mil leitores todos os domingos pela manhã.
Com pouco mais de 50 edições, tem cerca de 30 assinantes pagantes (o pagamento não é obrigatório) a R$ 10 mensais. Nas cartas semanais, ele simplesmente escreve sobre sua vida e suas observações sobre o mundo em crônicas confessionais escritas com a leveza que as manhãs de domingo pedem, como se estivesse conversando com seu leitor.
- Espero substituir os blogs pela newsletter em menos de cinco anos, vivendo do que ela me traz direta e indiretamente, e reduzir drasticamente minha participação direta nas mídias sociais - fala Martins.
Compartilhando o processo criativo
A escritora Olivia Maia (autora de livros como A Última Expedição, Segunda Mão e Jamais o Inexistente Sorriso) também adotou a newsletter como meio de comunicação com seus leitores.
Para ela, a grande sacada da newsletter (clique aqui para assinar) é o fato de o leitor precisar assinar para começar a receber.
- É um comprometimento: ele está permitindo que o escritor frequente a sua caixa de entrada, um espaço que sempre verifica duas, três ou mais vezes por dia - argumenta Olivia Maia.
Diferentemente de um endereço de um blog qualquer que, para ser acessado, depende-se de que o link surja no Facebook ou no Twitter ou de que o visitante digite a URL na barra de endereços.
Olivia, em sua newsletter, além de contar suas aventuras de viagem, aproveita para compartilhar com esse leitor mais próximo o seu processo criativo, contando para eles os dilemas de seus relacionamentos com os personagens e narrativas.
Participações mais generosas
do que nas caixas de comentário
O escritor Alex Castro também usa a newsletter (assine aqui) para divulgar suas ideias e seus textos. O meio de comunicação também é uma eficiente forma de divulgar seus cursos. Como o material que envia é similar àquele tratado em seus encontros As Prisões, a newsletter é uma ferramenta muito eficaz de divulgação.
- Para mim, como produtor de conteúdo, poucas coisas têm me dado tanto prazer quanto o meu newsletter - enfatiza Castro.
- Ao contrário das caixas de comentários, que estimulam a agressividade e onde muitas vezes os comentaristas ficam se mostrando uns aos outros tentando ganhar a discussão, as newsletters promovem um contato ao mesmo tempo mais próximo e mais generoso, especialmente em relação ao feedback.
Só pagando
O blogueiro Rodrigo Ghedin está mantendo uma experiência única: para receber a sua carta semanal o leitor precisa pagar US$ 3 por mês. Ele é editor de O Manual do Usuário e já escreveu em blogs importantes de tecnologia como o Gizmodo, TechTudo e MeioBit. Também se rendeu à eficiência de comunicação da newsletter. Para ele, além de pagar os custos de redação, pesquisa e envio, o conteúdo pago garante um comprometimento ainda maior entre autor e leitor, além daquele que as newsletter naturalmente têm.
Só para os íntimos
Uma das newsletters mais originais atualmente é mantida pelo autor Bruno Cuconato. Estudando em Paris, ele envia periodicamente notícias sobre sua estada usando um jeito muito peculiar de escrever e grafar as palavras.
- Escolhi a newsletter, ou simplesmente carta, como nós news-carteiros gostamos de pensar, por ser um meio mais íntimo e mais reservado de contar pra pessoas amigas e pra família como está sendo meu intercâmbio em Paris. Um blog seria obrigatoriamente público, o Facebook não permite um contato profundo o suficiente, e mandar cartas pelos Correios seria muito caro!
Independentemente das intenções do escritor, mais pessoas além de seus parentes e amigos o leem, apesar de sequer ter uma página pessoal: a assinatura deve ser feita no próprio serviço que ele usa para enviar seus e-mails.
Como criar sua newsletter
Você pode enviar a partir de seu próprio e-mail, mas isso dificulta a inscrição dos leitores e limita a quantidade de mensagens que você pode enviar a cada vez.
O ideal é usar alguns serviços disponíveis na internet. Um dos mais populares é o Mailchimp. Até 2 mil destinatários ele é gratuito e a partir daí as taxas vão ficando altas.
Para números maiores de destinatários, o ideal é o Sendy, que usa os serviços de web da Amazon. Embora seja complicado para instalar (precisa ficar residente no servidor do usuário), tenha menos recursos do que o Mailchimp e outros serviços de envio, ele reduz bastante os custos com envio, sendo até 100 vezes mais barato.
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Contatos
(o contato pode ser feito por e-mail; você deve imaginar que não se tratam de pessoas que verificam suas caixas de entrada apenas uma vez por dia):
Alessandro Martins - alessandro@alessandromartins.com
Olivia Maia - oli.maia@gmail.com
Alex Castro - lll.alexcastro@gmail.com
Rodrigo Ghedin - ghedin@gmail.com
Bruno Cuconato - bcclaro@gmail.com
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