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Pitada de Melodrama

"Gonzaga, de pai pra filho": uma história universal

Filme tem certo didatismo, sim, alguns diálogos duvidosos, mas isso não impede o envolvimento com a história

Cinema  –  07/11/2012 15:16

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(Foto: Divulgação)

Destaque para as belas atuações e a excelente caracterização dos personagens

Breno Silveira repete em seu novo longa a fórmula descoberta em 2005 com “Dois filhos de Francisco”, uma cinebiografia musical com uma pitada de melodrama. E não é que dá certo novamente? Ao assistir “Gonzaga, de pai pra filho”, confesso que tive momentos saudosos recheados de lembranças de minha família. Ao chegar em casa, me deu uma grande vontade de ligar pro meu pai e ressaltar o quanto ele é importante. Só por isso, pra mim, já valeu o preço do ingresso. Não, eu não tive uma infância no Nordeste, nem sou o príncipe do baião, e muito menos tenho qualquer talento para música. Mas ao ver um filme que conta uma fatia da história de dois mitos, centrado na relação entre pai e filho, confesso que fiquei bem envolvido com toda aquela narrativa.

Eu sei que essa justificativa aí em cima não faz de um filme uma obra de arte imperdível. Apesar disso, resolvi deixar de lado nessa resenha alguns preceitos de dramaturgia, alguns chavões e alguns questionamentos da teledramaturgia no cinema. O filme tem certo didatismo, sim, alguns diálogos duvidosos, mas confesso que isso não impediu o meu envolvimento com a história. E sabe quando termina a sessão e a plateia está tão envolvida que acaba por aplaudir a obra? Isso aconteceu quando assisti, a plateia estava enérgica, reagindo ao filme.

Terceira dimensão

Não posso deixar de considerar a importância dos dois músicos para a cultura brasileira: Gonzagão foi uma das mais importantes figuras da música popular brasileira, levando a alegria dos forrós, assim como a pobreza e as injustiças do sertão nordestino para o resto do país, numa época em que a maioria das pessoas desconhecia o baião, o xote e o xaxado. Por outro lado, seu filho Gonzaguinha foi reconhecido pelo trabalho engajado e pelas belíssimas letras recheadas de envolvimento político. Ao confrontar suas discografias, o diretor Breno Silveira cria uma terceira dimensão de análise da obra, uma vez que as respectivas músicas criam um diálogo tão dissonante quanto a própria relação de pai e filho demonstrada. Resgatar um pouco da história desses dois mitos já seria uma louvável homenagem. Mas o filme não se prende apenas nesse quesito, ele também nos presenteia com uma deliciosa trilha sonora repleta de sucessos muito bem costurados na trama.

As cinebiografias de ídolos populares são comuns em salas de cinema de nosso país. De Xuxa a Waldick Soriano, muitos de nossos artistas já ganharam uma versão para o cinema. Agora o que me surpreende muito no roteiro de “Gonzaga” é a composição de uma história universal baseada em uma relação conflituosa de pai e filho que se utiliza dos artifícios biográficos desses dois ídolos para construir em nós, público, a identificação com o enredo. Isso cria uma aproximação do público com os personagens e nos permite um envolvimento profundo com a história, suscitando até aqueles calorosos aplausos ao fim da projeção descritos anteriormente.

Complicada relação

O filme começa com o encontro dos dois personagens, pai e filho, que têm entre si uma complicada relação já estabelecida pela distância, potencializada pelas personalidades fortes de ambos. Baseando-se em possíveis conversas realizadas entre os dois, a história parte para uma retrospectiva da vida do cantor e sanfoneiro Luiz Gonzaga.

Destaque para as belas atuações, a excelente caracterização dos personagens, o primoroso trabalho de direção de arte e a belíssima fotografia do filme.

Esse filme é indicado pra toda família, pra quem curte cinema brasileiro e música brasileira em sua melhor formação. Pra quem gosta de namorar no cinema também seria uma boa pedida, já que em diversos momentos nos deliciamos com os encontros e desencontros da trama. Não deixem de prestigiar esse trabalho, uma grande homenagem à vida e obra desses dois Gonzagas, um brinde à cultura brasileira.

Quem é quem no filme

. Diretor: Breno Silveira
. Elenco: Adelio Lima, Chambinho do Acordeon, Land Vieira, Julio Andrade, Giancarlo di Tomazzio, Alison Santos, Nanda Costa, Silvia Buarque, Luciano Quirino, Claudio Jaborandy, Cyria Coentro, Olivia Araújo, Zezé Motta, João Miguel
. Produção: Breno Silveira, Marcia Braga, Eliana Soárez
. Roteiro: Patricia Andrade
. Fotografia: Adrian Teijido
. Trilha sonora: Berna Ceppas
. Duração: 130 minutos
. Ano: 2012
. País: Brasil
. Gênero: Drama
. Cor: Colorido

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Por Thiago Pimentel  –  thiagopim@gmail.com

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