(Foto: Divulgação)
Mais uma vez: Naomi Watts faz jus à sua indicação ao Oscar por este papel
"Um casal (Naomi Watts e Ewan McGregor) está aproveitando as férias de inverno na Tailândia junto com os três filhos pequenos. Mas na manhã de 26 de dezembro de 2004, enquanto desfrutavam das belezas do local após a noite de Natal, um tsunami de proporções devastadoras atinge a região, arrastando tudo o que encontra pela frente". Poderia ser a sinopse de um filme catástrofe qualquer, mas ao falar de "O impossível" não quero apenas analisar brevemente um filme catástrofe, mas sinto necessidade de entrar em outras questões que refletem um pouco mais da obra em questão do que o próprio gênero em que ela está enquadrada.
Os filmes baseados em fatos reais estabelecem uma relação diferente com o público do que os demais filmes ficcionais. Apesar do grau de realidade presente em uma obra ser dificilmente mensurado, a forma como o público se comporta ao assistir uma obra com este título é dissonante das outras relações que se estabelecem ao contemplar um filme. Algo próximo ao documentário, talvez, algo próximo ao "Big brother", mas sinto pessoalmente que meu envolvimento com a obra rotulada pelo título em questão é mais profundo do que o envolvimento com as demais ficções. Seria uma certa necessidade social de ter de acreditar na obra como realidade para aceitar se envolver? Deixando essa análise amadora de lado, mas utilizando dela para tematizar este texto, saí do cinema ao assistir ao filme de Naomi Watts (candidata ao Oscar por sua intensa interpretação) arrumando a roupa, verificando meus pertences, quase me secando, como se tivesse sobrevivido a um tsunami dentro da sala de cinema. Levei um lanchinho pra desfrutar durante a sessão, mas ao final, eu nem os demais acompanhantes do desastre na sala conseguimos colocar uma batata frita na boca.
Realidade inverossímil
A ideia de "possibilidade" neste caso já escancarada no título do filme oferece uma outra camada de análise para a obra. Alguns momentos são tão inverossímeis, mas ao mesmo tempo baseados em fatos reais tão recentes, que criam uma lacuna entre a realidade e aquilo que é crível. Em diversas cenas pensei: "Não, mas isso não pode ser verdade"... Mas foi verdade. O filme apresenta situações de tensão profunda, de suspense, de medo e de dor misturadas com possíveis milagres, o que causa um certo desconforto e retira a obra do lugar comum, tão presente nestes tempos de possíveis profecias do fim do mundo. Separados em dois grupos, a mãe e o filho mais velho enfrentam situações desesperadoras para se manterem vivos, enquanto o pai e as duas crianças menores não têm a menor ideia se os outros dois estão vivos. É quando eles começam a passar por uma trágica lição de vida, movida pela esperança do reencontro. E me deixa com uma frase na mente: "Às vezes, a própria realidade pode te surpreender de tão inverossímil".
E o diretor em questão não se prende nas armadilhas da realidade pra deixar de fazer um belo filme. Uma das sequências que mais me encantou foi um lapso de tempo da personagem principal retornando para os momentos mais tensos da tragédia, agora visto por nós com uma beleza estética próxima das propagandas de xampu: água límpida, cabelos esvoaçantes, e mesmo assim, extremamente sufocante.
Pode correr pro cinema
Não quero oferecer spoilers nessa análise, então se eu ainda não te convenci a correr pro cinema, te digo que este filme é do diretor espanhol Juan Bayona, de "O orfanato", um filme surpreendente de 2007. Te digo também que Naomi Watts faz jus à sua indicação ao Oscar por este papel. Te digo também que parte da figuração do filme foi realmente sobrevivente do tsunami de 2004, o que oferece mais uma camada de realidade pra obra. Te digo também que Geraldine Chaplin só aparece em uma cena, mas demonstra o quão forte uma atriz pode ser apenas com recurso do olhar.
Se você tem estômago sensível e não gosta de contemplar tragédias, não é este o filme recomendado. O filme é indicado para pessoas que curtem uma bela adrenalina no cinema, que gostam de testar o limite de sua tolerância ao terror alheio e que adoram assistir retrospectivas no fim do ano, só pra se emocionar novamente com tragédias passadas.
Quem é quem no filme
. Diretor: Juan Antonio Bayona
. Elenco: Naomi Watts, Ewan McGregor, Tom Holland (II), Soenke Möhring, Samuel Joslin, Oaklee Pendergast e Geraldine Chaplin
. Produção: Belén Atienza, Álvaro Augustín, Enrique López Lavigne, Ghislain Barrois
. Roteiro: Sergio G. Sánchez
. Fotografia: Óscar Faura
. Trilha sonora: Fernando Velázquez
. Duração: 107 minutos
. Ano: 2011
. País: Espanha/EUA
. Gênero: Drama
. Cor: Colorido
. Distribuidora: Paris Filmes
. Ano de produção: 2012
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