(Foto: Divulgação)
Christoph Waltz consegue magnetizar o público em todas as suas sequências
Quando vi "Cães de Aluguel", tinha certeza de que aquela era a melhor obra que um diretor poderia produzir, e que daquelas mãos dali em diante só viriam filmes que assistiríamos em respeito ao diretor que o foi. Me enganei mais uma vez. Cada ano que passa, Tarantino nos brinda com uma obra genial. Assim foi com o emblemático "Pulp fiction", com a homenagem ao cinema oriental "Kill Bill", e com o polêmico "Bastardos inglórios", que, confesso, dei boas gargalhadas no cinema ao ver materializada a vingança de milhões e milhões de pessoas ao nazismo. Com "Django livre", Tarantino não foge à fórmula, mas nos fornece o que de melhor conseguiu desenvolver nesses 16 anos de carreira: A vingança em seu mais intenso estado, agora com a escravidão norte-americana no eixo central da câmera.
Tarantino consegue nos tirar do lugar confortável ocupado pela moral e pelos bons costumes e nos colocar de frente com nossos anseios mais irrealizáveis. Sempre recheados de referências, seus filmes nos fazem resgatar aquilo que já apontamos como o pior do cinema mundial, mas que após a lente de aumento do realizador estão para o cinema mundial como o lixo está para as obras de Vik Muniz. E com "Django" o diretor nos deliciou com as lembranças dos filmes de faroeste para nos fornecer um olhar fresco sobre uma das maiores barbáries de nossa história: a escravidão.
A trama - em busca de vingança
Dr. King Schultz, um caçador de recompensas alemão, está no encalço dos sanguinários irmãos Brittle, e seu único caminho à recompensa é Django, um escravo maltratado brutalmente por seus antigos proprietários. Heterodoxo, Schultz compra Django com a promessa de alforriá-lo assim que capturar os Brittle, mortos ou vivos. Nessa busca, descobrimos então a trágica história de amor de Django, e partimos com Brittle, em busca da vingança.
Polêmicas e perfeição
Repleto de polêmicas, o filme foi acusado de abrandar o tema da escravidão, e maquiar a história norte-americana com a estética apurada e o humor espirituoso de Tarantino. Sinceramente, acho que quem escreveu isso dormiu em uma parte do filme, nunca assistiu a um outro filme do diretor, ou então é daqueles que pensa que enquanto você está rindo você não está pensando... O diretor tem uma certa vocação ao reescrever a história à sua maneira, mas não ache que ele não está fazendo isso de propósito. A nossa história se torna só um conceito básico inicial para um roteiro extremamente bem amarrado, no ritmo de edição perfeito, denunciando os EUA como um país cuja constituição e identidade é baseada na brutalidade.
As atuações são primorosas, o filme é repleto de belas imagens, os diálogos extremamente bem cuidados. Destaque para a participação de Samuel L. Jackson, diferente de tudo o que já se viu do ator, e pra Christoph Waltz, que definitivamente consegue nos magnetizar em todas as suas sequências.
Participação explosiva
E Tarantino faz ainda uma pequena participação explosiva, que me fez gargalhar durante horas. Pra quem não sabe, o diretor é daqueles que sempre aparece em suas filmes fazendo um pequeno comentário, muitas vezes debochando da própria obra.
Bem, se você gosta de cinema, você com certeza já viu "Django livre". Se ainda não, pode ir tranquilo, garanto que você não vai se mexer na poltrona nas mais de duas horas de filme. Esse filme é indicado para os amantes de cinema, e para quem ainda não encontrou uma belíssima oportunidade de levar o velho marrento pai para um programa pai e filho. Nada melhor do que um resgate do western spaghetti com referências pop para mostrar que gerações distintas ainda possuem muitas coisas em comum.
Quem é quem no filme
. Título original: Django Unchained
. Direção: Quentin Tarantino
. Roteiro: Quentin Tarantino
. Elenco: Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Kerry Washington, Samuel L. Jackson, Walton Goggins e Dennis Christopher
. Gênero: Drama/faroeste
. Ano: 2012
. País: Estados Unidos
. Duração: 165 minutos