(Foto: Divulgação)

Ben Affleck é Tony Mendez; ator dirigiu o

longa que ganhou o Oscar de melhor filme

 

O mundo não acredita mais na velha história de que o EUA se tornou o maior império capitalista através de gestos de gentileza e tolerância. Essa fama de "bom moço" já foi negada até pelo senso comum, pós guerra do Vietnã e a recente queda do World Trade Center. Mas de tempos em tempos surge um filme para resgatar o idealismo norte-americano, aquela ideia de que o país foi amplamente violentado no passado, o que gerou pequenas medidas de correção. 

Um desses casos é o filme de 2001 "Pearl Harbor", que aborda o ataque japonês da base militar norte-americana, e ignora as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, uma "pequena" medida de correção como na citação anterior. Agora temos o recém premiado com o Oscar de melhor filme "Argo" (já exibido na região), dirigido pelo ator também diretor Ben Affleck, que deixa no ar uma certa dúvida dos propósitos por trás da câmera. O fato é que os americanos estão passando por um momento de crise que necessita de um resgate nacionalista, e a assinatura do Oscar entregue pela primeira dama para "Argo" surge como uma bela oportunidade para isso. 

Um pé atrás 

Por esse fato, fiquei com um pé atrás com esse filme, sem retirar desse os pilares artísticos no qual foi construído. É ambientado no Irã no ano de 1979, com a chegada ao poder do aiatolá Khomeini. Como o antigo Xá (governante local) ganhou asilo político nos Estados Unidos, que haviam apoiado seu governo de opressão ao povo iraniano, há nas ruas de Teerã diversos protestos contra os americanos. Um deles acontece em frente à embaixada do país, que acaba invadida. Seis diplomatas americanos conseguem escapar do local pouco antes da invasão, indo se refugiar na casa do embaixador canadense. Lá, eles vivem durante meses, sob sigilo absoluto, enquanto a CIA busca um meio de retirá-los do país em segurança. 

A melhor opção é apresentada por Tony Mendez (Ben Affleck), um especialista que sugere que uma produção de Hollywood seja utilizada como fachada para a operação. A ideia é criar um filme falso, a ficção científica "Argo", que usaria as paisagens desérticas do Irã como locação. O projeto segue adiante com a ajuda do produtor Lester Siegel (Alan Arkin) e do maquiador John Chambers (John Goodman), que conhecem profundamente o funcionamento de Hollywood. 

Veja o trailer legendado de "Argo"

Diretor desequilibra tudo 

Os problemas surgem na abordagem do diretor, que desequilibra completamente o filme ao relatar os fatos que dizem respeito ao lado norte-americano da história com profunda precisão e o lado iraniano com nenhum cuidado, às vezes até bem etnocêntrico. O fato de os EUA oferecer abrigo e bancar a repressiva ditadura do Xá, por exemplo, fato que originou toda a indignação que culmina na violência aos diplomatas, só é comentado nos créditos iniciais, exatamente naquele momento que você ainda está embarcando na história, não muito atento aos detalhes. E em diversas cenas que vemos os iranianos agindo só são exibidas sequências de profunda violência, como se esses fossem cachorros raivosos com atitudes injustificáveis. 

Não posso deixar de considerar a excelência da pesquisa de fotografia, arte e figurino, que conseguem nos dar uma profunda ambientação dos anos 80, talvez o único elemento que justifique artisticamente o prêmio de melhor filme. Nos demais elementos o filme não foge ao lugar comum, não nos fornece uma narrativa inigualável, uma montagem arrebatadora, ou mesmo atuações esplendorosas. Nos oferece um bom filme, bem escrito e bem feito, mas não digno do mais relevante prêmio da indústria cinematográfica norte-americana. O filme é indicado para as pessoas que não perdem uma história baseada em fatos reais, mesmo que o grau de realidade presente na obra seja completamente discutível. 

Quem é quem no filme 

. Título: Argo
. Lançamento: 2012
. Direção: Ben Affleck
. Roteiro: Chris Terrio
. Elenco: Ben Affleck, Bryan Cranston, John Goodman
. Gênero: Suspense, drama
. País: EUA