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Vida e Sociedade

Leone Rocha

leone.rocha@gmail.com

Felicidade Humana

Afinal de contas, é possível ser feliz?

Ao longo da história, inúmeros foram os sistemas religiosos, políticos, econômicos, sociais, que propuseram, sem grande sucesso até aqui, fórmulas para a felicidade humana

Colunistas  –  24/02/2023 11:25

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(Foto Ilustrativa)

Algumas mensagens religiosas orientando o melhor agir possuem preceitos e máximas que se repetem de forma quase universal, inclusive em doutrinas éticas e morais de cunho acadêmico

 

A ânsia do ser humano pela realização de seus objetivos constitui sua mais básica característica. Nosso primeiro ato ao nascer é chorar, a manifestação de uma insatisfação. Ao longo de centenas de milhares de anos de desenvolvimento da espécie humana, pouca coisa mudou quanto a esse fato. Ao longo da história, inúmeros foram os sistemas religiosos, políticos, econômicos, sociais, que propuseram, sem grande sucesso até aqui, fórmulas para a felicidade humana.

As doutrinas religiosas costumeiramente são as que mais propõem alternativas para a felicidade humana. Para o sociólogo alemão Max Weber (1864 - 1920), um dos pais da sociologia moderna, as grandes religiões que surgiram na história da humanidade contribuíram não somente no estabelecimento de formas de comunicação com o divino, mas na construção de mentalidades de interpretação da realidade que influenciaram todo o complexo civilizacional dos povos. Como exemplo, ele cita as relações entre a Ética Protestante e o desenvolvimento do capitalismo na Europa e o advento do confucionismo na China, que até hoje influência a doutrina econômica da segunda maior potência financeira do planeta.

Algumas mensagens religiosas orientando o melhor agir possuem preceitos e máximas que se repetem de forma quase universal, inclusive em doutrinas éticas e morais de cunho acadêmico. Como exemplo, cito a mais conhecida doutrina do globo: a d´O Cristo. Em sua máxima “carregue sua cruz e negue-se a si mesmo” existe todo um componente moral da qual podem ser retirados grandes ensinamentos. Mas vejamos essa máxima no aspecto filosófico.

Os filósofos idealistas alemães, de Fichte (1762 - 1814) a Hegel (1770 - 1831), foram os responsáveis por introduzir na filosofia ocidental o conceito de intersubjetividade, rompendo com o indivíduo isolado e não-social do também filósofo alemão Immanuel Kant (1724 - 1804). Na intersubjetividade o Eu interage com o Outro e realiza-se nessa relação. O ser humano somente pode realizar plenamente sua essência em relação com outro ser humano. Mas, afirmam esses filósofos, para relacionar-me com o outro tenho que abrir mão da totalidade de minha liberdade; tenho que me negar. O que parece algo ruim, para Hegel é uma necessidade: somente atravessando um momento dialético de negação é que meu Eu pode elevar-se a uma instância superior de individuação. Ou seja, para elevar-me enquanto ser humano, para evoluir, tenho que, obrigatoriamente passar por um processo de negação.

Acredito que o paralelo entre a filosofia idealista do século XIX e a moral cristã do negar-se a si mesmo possui evidência. E a comparação não termina no século XIX. A Luta por Reconhecimento é uma importante construção teórica contemporânea do Teórico Social alemão Axel Honneth (1949 -) que bebe da fonte de Hegel e da intersubjetividade e das formas de relação entre o Eu e o Outro.

Mas, e afinal de contas, é possível ser feliz? Acredito que, se tivermos nossa consciência tranquila e contarmos com o necessário para nossa sobrevivência material (um preceito espírita), sim. Levando em consideração que devemos adotar uma postura de que a vida é negação. É um eterno conformar-se com situações que fogem ao nosso controle. Uma vez que reconhecemos nossas limitações, sabemos nosso potencial e até onde podemos ir, sem se importar com padrões impostos pela sociedade, atentos ao que realmente nos importa, podemos desfrutar de uma vida tranquila, serena, o ideal estoico de felicidade. 

 

Por Leone Rocha  –  leone.rocha@gmail.com

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