(Foto Ilustrativa)
“Você deve ser confiável para
as pessoas para quem você mente
Assim, quando elas virarem as costas para você
Você terá a chance de enfiar-lhes a faca”.
“Ninguém tem um amigo de verdade”.
(Pink Floyd, na canção “Dogs”, do Álbum “Animals”)
O vegetarianismo alerta para os malefícios que o consumo de alimentos derivados de animais podem causar ao organismo. Considero isso um fato, e deixar de consumir derivados de animais é uma meta que tenho para minha vida ao longo prazo. Circunstâncias objetivas ainda impossibilitam essa prática; mas um dia chego lá. Por hora, quero aqui tratar de um outro consumo, de uma outra carne que costumamos digerir cotidianamente e também é indigesta: ações e emoções negativas. Principalmente as emoções e comportamentos que surgem no trato com o Outro, como os julgamentos, inveja, maledicência, etc.
No livro “Quem Somos Nós”, escrito por William Arntz, Betsy Chasse e Mark Vicente, lançado no Brasil pela Editora Prestigio em 2007, inspirado no documentário homônimo de 2004, encontramos um paralelo entre física quântica, espiritualidade e o significado da vida que mostra a importância das emoções no comportamento humano. Podemos nos viciar em emoções e as emoções são as principais determinantes de nossas ações, juízos e condutas.
Assim, nós, seres sociais que somos, temos que conviver com o Outro em sociedade, uma fonte de emoções. O filósofo alemão Friedrich Hegel (1770 - 1831) na sua principal obra, “Fenomenologia do Espírito” (1807), trata da dialética “senhor versus escravo” na busca pelo reconhecimento. Quando duas consciências entram em conflito, um Eu e um Outro, inicia-se uma luta de vida e de morte. Aquele que vence torna-se o senhor e obtém o reconhecimento do escravo. Contudo, Hegel mostra que ao final do processo o senhor depende do reconhecimento do escravo, enquanto este emancipa-se pelo trabalho. Essa dialética “senhor versus escravo” reproduz-se em cada pequeno âmbito da existência social humana.
Na vida cotidiana, na relação com Outro, diversos são os sentimentos negativos que temos que lidar e digerir. Quanto prazer sentimos ao julgar um amigo que anda com o comportamento diferente do nosso. O simples fato de alguém comporta-se diferentemente do nosso jeito de ser parece ser uma negação de nós mesmos. Sentimos prazer em negar, julgar, diminuir um Outro diferente de nós. A dualidade do ser social humano consiste no fato de que o Outro pode tanto nos afirmar quanto nos negar. O Outro pode nos reconhecer bem como pode deslegitimar nossa existência. E a inveja? Quando um amigo está melhor do que nós, sentimos aquela autocompaixão por nós mesmos, aquela autocomiseração, aquele ganho secundário qual colo de mãe de criança quando cai e machuca o joelho. E o divertido sport de falar mal do Outro? Como instâncias de julgamento, vestimos nossa toga e comemos a carne emocional, o gozo da opressão.
Assim seguimos na nossa selva de pedra. Sorvendo as emoções negativas, alimentando os vícios morais que flagelam nossa existência que poderia ser bem mais leve. Resta àqueles que queiram sair desse modus operandi procurar uma dieta pelo autoexame, autoconhecimento. Não lembrando que, infelizmente, existem os carnívoros emocionais inveterados que sobrevivem à base dessa dieta. Paciência.