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Vida e Sociedade

Leone Rocha

leone.rocha@gmail.com

Equívoco

Mentalidade colonizada

O principal erro de uma mente colonizada é querer esquecer sua condição e querer tornar-se um colonizador, igualar-se a ele, reproduzindo assim a opressão

Colunistas  –  10/05/2023 23:06

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(Foto Ilustrativa)

Muitas vezes caio no erro de comparar-me com pesquisadores de outro nível, de outras regiões, de outros países. É isso que chamo de erro de uma mente colonizada.

 

Vivemos num mundo profundamente ocidentalizado, eurocentrado. As Américas, a África, Oceania, parte da Ásia, foram colônias da Europa. A China e o Japão, civilizações milenares que não sofreram processos de colonização, passam, há anos, por movimentos de ocidentalização. O Ocidente e seus valores dominaram a economia e a cultura mundiais, e os Estados Unidos e a Europa tornaram-se os grandes centros propulsores do que há de mais relevante nesses termos. Devemos lembrar, claro, o avanço da China e, com a recente visita do Brasil a esse país e o alinhamento entre os BRICS, uma possível nova ordem internacional surgindo. Mas os parâmetros culturais, econômicos e políticos, que, em sua maior parte, foram estabelecidos pelo Ocidente, dificilmente serão superados. Podem mudar o peso dos atores no cenário internacional, mas os elementos que compõem e constituem esse cenário ainda serão os mesmos por muito tempo.

Como efeito dessa influência, nós, aqui no Brasil, uma nação não ocidental, nos posicionamos, em grande medida, qual uma antiga colônia quando trata-se de consumo de certos bens e serviços, principalmente serviços de alto valor agregado, tecnológicos e, também, culturais, vindo das nações ocidentais. O quanto de cultura exterior consumimos em detrimento da cultura interna? O quanto de cultura exterior valorizamos em detrimento da cultura nacional? Esse é um segundo ponto, e iniciativas como o Portal OLHO VIVO, proporcionadas por pessoas como o jornalista Cláudio Alcântara, ao divulgar a cultura local, regional e nacional, quebram com essa dinâmica colonialista, num ato emancipatória de autonomia e zelo com a cultura de nosso país. O espaço que o Portal proporciona a escritores iniciantes, sem experiência comprovada, com possibilidade de visibilidade nacional, é digno de um verdadeiro heroísmo literário.

Contudo, nosso consumo de bens culturais exteriores ainda é significativo, tal qual o de uma nação colonizada, repito. Isso pode criar um efeito sobre nossa mente de produtores, levando a comparar nossas produções, nossa capacidade de criação, inventividade, produtividade, com as nações do eixo, com as nações ocidentais, colonizadoras. Eu penso no meu caso. Eu sou da periferia (Amapá) da periferia (região Norte) de um país periférico (Brasil). Muitas vezes caio no erro de comparar-me com pesquisadores de outro nível, de outras regiões, de outros países. É isso que chamo de erro de uma mente colonizada.

O principal erro de uma mente colonizada é querer esquecer sua condição e querer tornar-se um colonizador, igualar-se a ele, reproduzindo assim a opressão numa tentativa equivocada de livrar-se dela. Um colonizado não pode esquecer suas raízes, suas qualidades. Não pode esquecer, acima de tudo, que ele não faz parte da destruição da natureza e do clima que os colonizadores perpetraram; que ele não faz parte da herança do genocídio de negros e índios. Um colonizado deve lembrar que tem muito a contribuir com o futuro do planeta e que, no atual momento, é justamente do colonizado que estamos precisando mais. 

 

Por Leone Rocha  –  leone.rocha@gmail.com

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