(Fotos: Divulgação)
Sua frase célebre resume a potência dos trabalhos que entregou em meio século de produção fotográfica: “Uma fotografia se completa com o olhar do outro”.
Em 30 de junho de 2021, Januário Garcia nos deixava aos 77 anos, vítima da Covid-19. Fotógrafo e ativista, dedicou parte da sua trajetória profissional e pessoal à luta antirracista e em prol dos direitos humanos.
Formado em Comunicação Visual, Garcia tinha um olhar peculiar para a sociedade. Seus trabalhos no campo da fotografia permeavam a cultura negra e carregavam a simbologia da diversidade cultural e étnica do Brasil desigual. Januário Garcia era considerado um ícone do movimento negro contemporâneo.
Nascido em Belo Horizonte (MG), ainda adolescente foi para o Rio de Janeiro e lá iniciou sua jornada profissional, explorando de maneira magistral o fotojornalismo e as múltiplas possibilidades dentro da fotografia publicitária.
Januário Garcia dedicou cinco décadas à profissão de fotógrafo. Realizou exposições fotográficas no Brasil, México, Canadá e nos Estados Unidos. Em 1975, iniciou sua atividade fotográfica voltada para a luta do movimento negro no Rio de Janeiro, sua ferramenta de participação e de grande contribuição para a luta antirracista.
Além de fotografar, Januário escreveu artigos para revistas e concedeu entrevistas relevantes para inúmeros periódicos, em rádios e TVs sobre a Cultura Afro-Brasileira. Seu patrimônio visual e instrutivo foi explorado em diversos jornais dentro e fora do país.
Publicou livros referentes ao tema da negritude e da conscientização do valor e da riqueza cultural do negro no Brasil. Levou representatividade e pluralidade nacional através de imagens que ajudaram a construir seu primoroso acervo no campo da fotografia artística. Passou por veículos jornalísticos importantes, como “O Globo”, “O Dia” e “Jornal Do Brasil” (JB).
Capas consagradas na música
Foi produzindo fotos para capas de álbuns (LPs) de artistas da música popular brasileira que Januário Garcia ganhou notória visibilidade. Fotografando grandes figuras da música nas décadas de 70 e 80, transitou pela produção fotográfica publicitária, criando uma estética particular voltada para a indústria fonográfica. Sem dúvida alguma, foi sua maior marca em décadas de produção de imagens.
Em uma época sem internet, as capas dos discos também contribuíam para alavancar as vendas. Para se ter a real importância da produção de Januário Garcia na música, nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso, Belchior, Raul Seixas, Tim Maia, Fagner, Fafá de Belém e Leci Brandão levam a assinatura fotográfica de Garcia em seus discos.
Além das extraordinárias capas, nos brindou com registros dos bastidores de grandes shows em diferentes lugares do país. Durante anos, documentou e gerou fotos inéditas do Carnaval carioca, de cultos e da religiosidade de matriz africana, além do cotidiano nas periferias das grandes cidades. Sua frase célebre resume a potência dos trabalhos que entregou em meio século de produção fotográfica: “Uma fotografia se completa com o olhar do outro”.
A ausência de Januário Garcia no cenário nacional é irreparável. Com um olhar sempre ativista e documental voltado para a cultura negra, deixa um extenso legado de valorização, afirmação e articulação sociopolítica do povo negro na contemporaneidade.