(Foto Ilustrativa)
Ainda temos muito a evoluir moralmente, e anseio com o dia no qual o respeito, a dignidade, a diversidade, o bem comum, estejam acima de nossos egoísmos cotidianos
Vivemos em mundo às avessas. “Um dia pretendo tentar descobrir porquê é mais forte quem sabe mentir”. Esse é um dos versos da canção “Eu Sei”, da banda Legião Urbana. Quem nasceu na década de 1980 ou antes, ou ainda simplesmente gosta de música boa, mas é mais novo, conhece. O fato é que isso também não é novidade. Desde as épocas remotas aqueles seres humanos que possuíam a habilidade de sobrepujar-se aos demais sobressaíam-se. Sejam como líderes do clã, guerreiros, mercadores, etc., aqueles que conseguem dominar alcançam um nível superior na hierarquia social. Mas o relevante detalhe diz respeito ao fato de que considerável parcela da população está completamente de acordo com esse modus operandi. Esse resquício de animalidade em nós é celebrado por um número significativo da população - se não a maioria.
Valores como a vitória a qualquer custo; o menosprezo pela derrota; a meritocracia desenfreada que desconsidera o contexto social; enfim, são inúmeras as ideologias que permeiam o simbolismo social e constroem a ideia de que o mais forte, o mais apto deve prosperar e que se uma pessoa não vence, não prospera na vida, ela é fraca e perdedora, desconsiderando a herança e os mecanismos de vulnerabilidade social que induzem o futuro do ser humano.
Fugir da lógica da animalidade é um dos maiores desafios que entrevejo para a humanidade. Paradoxalmente, um retorno à natureza é um guia para tal desiderato. Vejamos como o meio ambiente sobrevive em meio às adversidades: cooperando. O ser humano é simplesmente a espécie que não possui um predador natural, a não ser ele mesmo: “homem lobo do homem”. O ser humano, solto, livre a seu próprio destino em seu próprio reino da liberdade, como queria o grande filósofo alemão Immanuel Kant (1724 - 1804), tem demonstrado comportamentos mais animalescos do que muitos animais no estado de natureza. Basta assistirmos aos telejornais todos os dias para comprovarmos esse fato.
O eminente geógrafo negro brasileiro Milton Santos (1926 - 2001) afirmou um dia que os seres humanos ainda não atingiram plenamente o status de humanidade. Eu concordo. Às vezes acredito que, apesar de toda a nossa tecnologia, socialmente ainda estamos na pré-história. Ainda temos muito a evoluir moralmente, e anseio com o dia no qual o respeito, a dignidade, a diversidade, o bem comum, estejam acima de nossos egoísmos cotidianos.