(Foto Ilustrativa)

Uma miga disse que álcool mata os vermes... No bar, pedi Vodka... Em casa, comi pimenta malagueta... Antes de dormir fui a revistar meus papéis e... Eu havia esquecido a folha com meus poemas antigos no mostrador do bar...

 

Na terça-feira decidi almoçar no Centro da cidade, peguei os livros e uma folha com velhos poemas. Depois de almoçar caminhei até uma banquinha e pedi um chocolate. Dei uma mordida suculenta e, antes de dar a segunda... Deuses! Vi que do lado direito, entre o chocolate e o papel, um vermezinho branco, parecia um parafuso, mas não era porque saltitava nervoso. Joguei o chocolate numa lixeira da Rua da Flores e cuspi o resto que tinha na boca. Nesse momento Irene, uma amiga, cumprimentou-me. Estava fazendo compras. Contei a situação.

- Bebe um pouco de álcool, disse ela. Álcool mata os vermes.

Nos despedimos e lá fui eu em busca de um bar. Encontrei um que dizia bar e restaurante. Deve servir, pensei. Entrei, havia pessoas almoçando. Fui diretamente para o balcão e olhei as bebidas alcoólicas expostas numa estante da parede, atrás dos atendentes.

- Vai almoçar? Perguntou uma garçonete.
- Não -  respondi decidida.
- Vou Beber.
- Quer um refrigerante...
- Não, dê-me uma medida de Vodka... 

Minhas palavras chamaram a atenção, a garçonete, os dois garçons e alguns fregueses que estavam perto e haviam escutado meu pedido, olharam-me. Uma senhora vestida de maneira clássica, com livros nas mãos, pedindo bebida alcoólica no horário do almoço deve ser algo incomum.

- Vodka?
- Vodka! - exclamei com voz firme. 

Bebi o cálice em dois tragos. Os vermes incômodos iam morrer. Fui até o caixa. A mulher olhou-me fixamente. Saí do bar caminhando meio bamba, pois raramente bebo. Meu medo continuava.  E se atacam o aparelho digestivo ou o sangue? Cheguei em casa. Em vão meu filho dizia que nada ia acontecer. Eu sabia que tinha uma solução. E a solução estava na minha geladeira. Seu nome era pimenta malagueta. Não tem verme que resista essa pimenta. Corri até a geladeira, abri-a. Peguei o frasco de pimenta e engoli três exemplares dos grandes... Com olhos lacrimejantes olhei para meu filho e gritei: Água! Água!

Antes de dormir fui a revistar meus papéis e... Eu havia esquecido a folha com meus poemas antigos no mostrador do bar. E se alguém os achasse? Quais eram mesmo esses poemas? Ah! Eram vários chamados Tormento. Tormento I, II, III... Procurei no computador. Não estavam lá...  Esses poderiam ser meus melhores poemas.  Eu havia perdido meus melhores poemas. Alguém poderia encontrar as folhas... E... Uma vez esqueci alguns poemas infantis em uma biblioteca e nunca mais foram achados. A solução era ir imediatamente ao bar. Meu filho me dissuadiu dizendo que bibliotecas são frequentadas por pessoas que gostam de ler e escrever e bares, pessoas que bebem. Ninguém pegaria as folhas. Assisti a um filme e deitei. Não conseguia dormir. Nunca teve tanto ruído na rua. Eu pensava nos poemas... Eu ganhei alguns prêmios, como o Estadual de Poesia de São José dos Pinhais e o Prêmio Internacional Missões de Poesia...  Semana passada mesmo recebi um certificado de Menção Honrosa de um concurso de Maringá...

Só consegui dormir depois das duas horas da manhã.

Quarta-feira levantei-me cedo e fiz os afazeres. Rapidamente. Minha vizinha me deu carona até o Centro. Corri ao bar e perguntei pelas folhas que havia esquecido. A moça do caixa as entregou. Eu li, bonitos os poemas, disse ela.

Sentei numa mesa. Quer vodka? - perguntou a garçonete - Aparentemente eu já tinha fama de bêbada no local.

- Não -  respondi - quero um refrigerante.

Emocionada comecei a ler meus poemas. Meu Deus! Que poemas! Não posso dizer que eram ruins, não. Não eram ruins, eram péssimos. Santo Céu! Eram para jogar no lixo mesmo. Por isso eu havia deletado e esvaziado a lixeira do computador. Esses poemas não mereciam serem lembrados... Eu mal dormi pensando neles. Lembrei daquela frase: “Todo o tempo passado foi melhor”. E parafraseando murmurei: Qualquer poema perdido é o melhor.