Publicidade

RH

Crônicas de Humor e Entrevistas Poéticas

Isabel Furini

isabelfurini@hotmail.com

Coisas da Modernidade

Amo Joanita

Entenda-me, por favor, amor, entenda minha paixão pela Joanita e não me julgue mal. Eu sei que ela não é muito inteligente, mas ela é tão linda

Colunistas  –  06/10/2024 18:31

11607

 

(Foto Ilustrativa)

...Aí chegou a Joanita, tão meiga, tão simpática, com esse corpinho de modelo de televisão... Sei lá, a paixão nasceu como o fogo, rapidamente e ardente. Muito ardente.

 

- Você deveria compreender que amo Joanita. Sim, Joanita, nossa diarista, mas você parece iludir-se, não quer ver a realidade! -  gritou.

Olharam-se em silêncio. E o silêncio era desagradável, talvez porque os olhos começavam a ficar úmidos e brilhantes.

- Entenda-me, por favor, amor, entenda minha paixão pela Joanita e não me julgue mal. Eu sei que ela não é muito inteligente, mas ela é tão linda! Não sei porque você me olha desse jeito... Como se, de repente, tivesse visto um espectro. Nosso amor foi embora.

Houve um silêncio desconfortável. Logo continuou:

- Eu disse “nosso amor”? Não existe mais nosso amor. Há anos que estamos casados, mas tudo é rotina. Tudo. Tomamos o café da manhã, e comemos o pão que compramos na mesma padaria há mais de 30 anos.  Todos os dias assistimos televisão. Qualquer programa, tudo é bom para nós: novelas, séries policiais, desenhos animados. Parece que já perdemos o gosto pelas coisas belas. Mas aí chegou a Joanita, tão meiga, tão simpática, com esse corpinho de modelo de televisão... Sei lá, a paixão nasceu como o fogo, rapidamente e ardente. Muito ardente.

O velho sentou-se. Olhou Maria desesperado e gritou:

- Maria, Maria, estamos casados há 38 anos e eu não sabia que você é gay.
-  Ah! Velho. É a primeira vez que me apaixono por uma mulher. E não sou gay... Entrei na modernidade, querido, eu sou bissexual. Quero experimentar de tudo antes de morrer. Experimentar... Não sei... Amor a três.

Os olhos do velho iluminaram-se… - Você, Joanita e eu? - Perguntou com fio de voz.

- Por que não, querido? Isso quebraria a monotonia e eu nem precisaria do divórcio.

No dia seguinte o casal de idosos acordou cantando e foi tomar o café da manhã em uma confeitaria chique no centro de Curitiba. 

 

Por Isabel Furini  –  isabelfurini@hotmail.com

Seja o primeiro a comentar

×

×

×