(Fotos: Reprodução)
Viviane Araújo deu show de originalidade interpretando a figura mítica da Maria Padilha
E tudo começou com as primeiras sementes germinadas numa época tão remota que os sons da fauna e da flora é que somente davam o tom da sonoridade discreta e logo na primeira colheita a felicidade foi tanta que o resultado do esforço tinha que ser comemorado. O Rei Pisistrato, da Grécia, resolveu oficializar os festejos desde que fossem devotados aos deuses Baco e Momo, haveria que ter a presença invisível das divindades para que se justificasse tal evento. No relógio do tempo vamos classificar por AC.
A festa continuou e o Egito, que ostentava um figurino super criativo, também tinha muito que comemorar, pois o deserto em volta do Rio Nilo se transformava num imenso campo fértil para a agricultura quando as cheias baixavam. As comemorações neste período eram bem incrementadas, festas teatrais, máscaras dos deuses Isis (deusa da magia) e Bastet (deusa da alegria e do prazer), entre outros. Automaticamente uma associação entre totens e deuses seria o carro chefe das festas primitivas que originaram o que vemos hoje através de várias óticas, mas se resumindo em uma só palavra alegórica: Carnaval.
Um detalhe: um enorme campo fértil para se plantar, comer e sobreviver atrai pessoas de vários lugares da região, daí que também nasce o fenômeno da diversidade. Imagina?
Todas essas pessoas reunidas para celebrar o fruto de um esforço e a garantia de mais alguns meses de fartura?
Neste clima, em Roma, dentro de uma imensa praça pública se misturavam os escravos, filósofos, juristas, comerciantes etc., para aquecer o clima da expansão do império, e cada vez mais frequentes eram esses encontros como se fossem por alguns momentos “Todos numa direção, uma só voz, uma canção” - (Canção de Eduardo Souto Neto).
Seguindo os Entrudos que vieram de Portugal, em 1846 o seu Zé Pereira (um simpático português), no Rio de Janeiro, pegou seu bumbo, se juntou aos tambores e zabumbas dos amigos e saíram pelas ruas da cidade pra fazer barulho. Imediatamente quem estava munido do mesmo sentimento da alegria do dever cumprido dentro de suas “colheitas” da sobrevivência entrou na folia e também se rendeu aos festejos. Nasciam os primeiros passistas carnavalescos.
Até 1899 muitas repressões morais impostas pela igreja católica dominante tiraram os mascarados entrudos de cena, por exemplo. Mas neste mesmo ano Chiquinha Gonzaga compôs sua primeira marcha carnavalesca - “Ô abre alas” - e quem realmente era da lira não podia negar.
Saltando na ordem cronológica, quem tiver a paciência de saber apreciar e compreender esta festa de expressão tão popular vai afastar as críticas e censuras e poder aprender um pouco com eles que há milênios deixaram suas manifestações escritas no tempo.
Contrariando quem entoa a metáfora que “atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”, não é bem atrás do elétrico que muitos vão. Apreciar de fora, ficar na frente e cantar os sambas em passos discretos também é uma forma de viver e de explicar seu papel de ritimista nos eufemismos da farra de Momo.
Mas nossa herança de valores culturais se deve muito a África. E a partir disso muitos já sabem a consequência maravilhosa para nós e péssima para alguns imbecis.
Muito se falou da ótima performance de Viviane Araújo no ensaio técnico do Salgueiro. A moça deu show de originalidade interpretando a figura mítica da Maria Padilha - personagem originária da Umbanda e do Candomblé, uma cultura vinda de onde? Dos escravos, dos negros que aqui chegaram da pior forma possível e hoje estão sambando na cara da sociedade dizendo ao que vieram. Admiro quem é porta voz desta coleção de crenças, respeito os sincretismos e todas as manifestações humanas das extensas visões de mundo que cada signo corresponde. Que ninguém me atire estranhezas quando eu cismar de incorporar na passarela Afrodite - A deusa do amor, que provavelmente é uma ancestral da nossa querida Pomba Gira. E viva a diversidade da aceitação!