(Foto Ilustrativa)
Deplorável: Essas criaturas, imundas e maltrapilhas,
já não sabem mais o que é estar vivo ou morto
Como transformar a realidade nua e crua do que vejo todos os dias, no meu Caminho da Índias, num cenário um pouco melhor e em cenas menos agressivas? Será que existe alguma solução para esses zumbis que ficam sentados numa faixa de calçada enorme, numa rua imunda e mal cheirosa, a fumar o crack a qualquer hora do dia, bem na cara de quem passa? Não são mais pessoas. Bichos, talvez? Talvez não. Porque os animais possuem sentimentos.
Essas criaturas, imundas e maltrapilhas, já não sabem mais o que é estar vivo ou morto. Eles perderam consciência. E, acima de tudo, a dignidade para uma droga que todo mundo sabe que não dá chance de retorno. São todos magros. Homens, mulheres, crianças, travestis, prostitutas, gays, lésbicas, velhos, aleijados. Uma magreza esquelética. Se já perderam dignidade, que dirá a fome. Noção do tempo também já não existe mais. Noção de nada. Tem mendigo que eu vejo na Zona Sul que agora está jogado na sarjeta da Central.
Tem algum jeito para eles ainda?
Todo dia, ao passar por eles, rogo para que eu fique transparente e invisível para que não me vejam, não me toquem. Um horror? Mas é o que passa pela minha cabeça ao cruzar com eles do outro lado da via. Podem estar nus ou vestidos. Tanto faz. Fazem o que tem que ser feito, seja onde estiverem. Eles abaixam as calças e se agacham. Cena deplorável para quem vê. Daquelas que não saem fácil da cabeça. E eu me pergunto sempre. Será que tem algum jeito para eles ainda? Porque, eles me incomodam. E muito.
Eu, no meu egoísmo, preferia que não existissem e não enfeassem, ainda mais, as ruas de um centro da cidade esquecido por Deus e pelo Eduardo Paes. Construções centenárias de um Brasil que lembra Paris e Lisboa. E que estão decadentes como as pessoas que ali habitam nos dias atuais. Será que uma passeata em plena Presidente Vargas, clamando por um "Veta Dilma" poderia mudar essa realidade podre? Ou a chegada à presidência do STF de um negro, que, no seu discurso de posse, criticou a Justiça do próprio país, por ser ela tão desigual.
Dentro da minha bolha, o maior milagre que eu desejo a todas essas criaturas é que eles saibam que é Natal.