(Foto Ilustrativa)
Somos do bem mas não temos boa
vontade com nosso próprio ato de ser
Publicada: 09/12/2016 (17:30:52)
Atualizada: 18/12/2016 (10:31:29)
Ter bondade é ter coragem - este verso da canção de Renato Russo sempre me acompanhou durante anos. À medida que a maturidade me alcançava no caminho, mostrava um cenário diferente relativo ao estágio em que me direcionava e consequentemente havia uma interpretação diferenciada da música.
Somos convidados pelo mundo a mostrar para ele mesmo nossa cota de socialização com o semelhante. Aplicamos o ato de ser bom desde quando chegamos aqui na terra (que dá certo alívio saber da efemeridade de nossa permanência). Somos boas crianças quando aprendemos as regras, bons adolescentes quando aplicamos as regras e bons adultos quando conseguimos transmitir esse código para as outras gerações que estão chegando.
Aprendemos a praticar boas ações quando nos sensibilizamos com o que está fora de ordem ao nosso redor. Mas nem sempre isso significa que nossa inclinação para a bondade é genuína. Nem sempre somos corajosos para assumir o desapego ao ego do reconhecimento. Queremos ser reconhecidos sim. E não é apenas com a exclamação verbal do agradecimento por parte do favorecido de alguma atitude que oferecemos. Muitos querem elogios sociais, placas do não esquecimento, nomes iluminados em neon. Nos lembramos sempre da capacidade da auto propaganda ideológica mas nos esquecemos do alvo em questão: o nosso público. Aqueles que queremos “usar” para ser o produto de nosso protagonismo. E a lista de cardápio é imensa: Temos crianças com câncer (essas são as mais frágeis), flagelados, miseráveis da baixa autoestima, analfabetos funcionais da sobrevivência, famélicos do junk food, esquecidos do tempo etc.
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A vida oferece na vitrine cenários que esperam nossa benevolência, nossa melhor característica que nos faça relevar o comportamento ao pódio. Situações que nos façam inflar o peito e arrotar a defasada frase que não convence mais ninguém: Somos do bem.
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Somos do bem mas não temos boa vontade com nosso próprio ato de ser, meus amigos. Fácil elucidar com um exemplo hipotético quase real: Eu não quero que determinadas pessoas daquela comunidade tenham acesso a uma renda melhor porque preciso delas para serem meu elo de comunicação com o mundo. Preciso suprir suas carências para que eu ganhe um destaque nacional. Para mim é mais importante esta estagnada dependência do que meu aporte para que eles cresçam.
Talvez seja esta a coragem que falta em muitos de nós. A coragem de admitir que se continuarmos agindo assim seremos muito mais fracos do que aquelas pretensas pessoas “carentes” que usamos para a promoção pessoal que serão agraciadas com nosso gesto de “caridade” em praça pública.
Que façamos o bem sem olhar a quem, mas que saibamos primeiro enxergar quem somos de verdade (essa é a verdadeira diferença que há de ser feita) para não sermos da turma do mal que sempre atrasa o significado de nossa existência.