(Foto Ilustrativa)
O tempo passa: Abrace a novidade que é crescer e
a novidade de envelhecer; envelhecer com verdade
Você acha seus pais velhos?... Pois é... Mas chega um tempo em que você vai ter a idade que eles têm hoje. Passa muito rápido. Ainda ontem você tinha 10, 11 anos; um lar perfeito, dominado pelo amor, e sonhava com seus 15. Os 15 é só um momento mágico. Neles, você ainda é mais família. Mas é só um momento que te parece que o mundo inteiro tem 15 anos. E de repente, vapt-vupt... Passa como todos os momentos. Você descobre então que não quer ter 15. E começa a sonhar com os 18. Ah, os 18! A liberdade... Aquela sensação de que você vai ganhar e mandar no mundo... Você não vai precisar de permissão para ir às festas; melhor ainda: você "acha" que não vai precisar de permissão. Você vai ouvir música alta; que se danem os outros! O mundo gira em torno do seu umbigo! O direito do outro termina onde começa a sua vontade.
Mas aí você descobre que 18 é pouco. Dezoito não te dá a liberdade que você queria. Então, se você for no mínimo um pouquinho estudioso, você sonha com a faculdade. Mas nem sempre porque é estudioso; às vezes você acha que faculdade é sinônimo de liberdade. Você vai poder tudo. Nossa! E então você quer alcançar os 21. Claro! Com 21 anos você é dono do seu nariz! Super dono do seu nariz! Seus pais e os amigos dos seus pais são bregas. Coroas. Velhos... Só servem mesmo para pagarem a faculdade e darem lá uma mesada. Você vai poder assumir que não é mais virgem e tirar essa culpa da consciência. E vai poder fazer sexo sem se sentir culpado... Mas aí de repente, passam-se os 21, 22, 23...
A vida te tira do ninho quentinho e te joga sem dó nem piedade para um mundo de fraude. Você trintou... A vida te lança às cobras, jacarés e tubarões... Você sente medo. Mas tem que ir. Com medo mesmo. Você gostaria de voltar atrás. Ter seus 15 novamente. Mas descobre que isso não é mais possível.
Então você quarentou... Só você é responsável por suas escolhas; se dá conta de que os amigos de verdade são poucos. A maioria eram "colegas". Alguns "colegas" até ficaram, mas são "colegas". Só "colegas".
Aí você cinquentou... E poucos foram aqueles com quem pela vida afora você contou. Em dado momento você se vê sozinho. E se dá conta de que amigos vão e vem. Como diz a música, “são aves de verão”. Alguns ficam apenas por algumas estações. Chega a hora de você não querer mais amigos casuais. Você descobre que não quer mais beber ou dançar para impressionar pessoas, e que não está afim mais de agradar para se manter no meio. Que se dane o meio!
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Você descobre que com a velhice vêm as doenças, as impossibilidades corporais de ser autossuficiente. Você precisa dos outros. Tem medo de não ter ninguém com quem contar. A solidão começa a assustar. Ainda que você seja daqueles que gostam de estar sozinhos. Então, ao invés de ganhar o mundo, você quer voltar novamente para o seu mundo. E nem sempre isso é mais possível. Às vezes você tem que tocar pra frente. E você se lembra de alguns momentos quando seus pais tinham a idade que você tem, quando suas novas amizades são cinquentões como você.
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E aí não tem como fugir: você envelheceu. Tem que encarar esse fato, porque contra fatos não há mesmo argumentos. Hoje o coroa brega é você. O coroa brega que não entende de nada. Aí você entende que algumas pessoas são perda de tempo, que você fez exatamente como seus filhos estão fazendo, que seus pais e seus irmãos são ótimos e que você não gostaria de ser jovem novamente, se fosse com a cabeça do jovem que você foi antes.
Você entende que agora a contagem é regressiva. Você não tem mais um ano de vida, você tem menos um ano a cada ano que passa. E você enxerga finalmente que a vida foi curta demais. Que precisaria de outra vida, outro tempo. E entende também o pouco tempo que te resta e que tem que aproveitá-lo da melhor maneira. Você se "descoisifica". Descobre que o "ser" está muito acima do "ter" e passa a enxergar com os olhos da alma quando descobre que entre o “nascer” e o “morrer” existe o “envelhecer”. Nem tudo foi perfeito, mas entende que nunca tudo será perfeito e que para viver bem você tem que abraçar a causa do momento presente. Ser feliz do jeito que dá. Se ainda não o fez, abrace a novidade que é crescer e a novidade de envelhecer. Envelhecer com verdade.