Publicada: 19/06/2018 (19:20:43) . Atualizada: 02/07/2018 (11:03:31)
(Foto Ilustrativa)
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Se a cultura tivesse sido introduzida na vida das pessoas desde cedo, teríamos hoje um público mais assíduo nos teatros; então, não é o preço do ingresso, porque, nesse valor, mal se paga o teatro, o diretor, o figurinista, cenógrafo, iluminador, dramaturgo... Quem dirá o ator
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Vida de ator não é fácil. O teatro está na lista das atividades onde apenas uma minoria consegue tirar seu sustento dele. As pessoas em geral acham caro o ingresso para uma peça teatral, outros dizem que o salário do brasileiro não comporta o acesso a esse tipo de cultura, mas há uma contradição aí, porque essas mesmas pessoas costumam pagar a mesma coisa pelo ingresso para uma partida de futebol ou cinema. Sem reclamar. E, às vezes, até muito mais com bebidas em bares. Se passarmos a comparar com diversas opções de diversão, veremos que essa opinião não condiz com a realidade. Na maioria das cidades brasileiras, os cinemas lotam nos fins de semana; nos campos de futebol, então, nem se fala! Ali, os ingressos esgotam-se com semanas e até meses de antecedência, enquanto no teatro a plateia é rala, ainda que o ingresso seja barato. Na verdade, as peças que lotam os teatros são peças cujo elenco carrega nomes de atores consagrados. Mas tem muita coisa boa acontecendo nos palcos pelo país afora com atores desconhecidos e igualmente ótimos.
Pouco tempo atrás fui assistir a um monólogo, no Humaitá, “Eugênia”, que conta a história dos bastidores da corte. Era um projeto do Itaú Cultural, a entrada era gratuita, o texto e a atriz, embora desconhecida do grande público, eram maravilhosos, e apesar disso, e de ter sido na zona sul do Rio de Janeiro a plateia era igualmente escassa. Outro espetáculo de interpretação igualmente talentosa foi com gente daqui, de Barra Mansa, “À flor da pele”, com Laura Arbex, no teatro Gláucio Gil, em Copacabana. A plateia estava lotada, porém, se tratava de um teatro pequeno, e a maioria ali, como eu, entrou na lista amiga. Ou seja, pagamos o valor irrisório de quinze reais.
Mesmo aqui em Barra Mansa ou Volta Redonda, onde os atores são conhecidos do público, é uma saga conseguir ocupar os assentos. Há poucos dias fui assistir no teatro do Ilha Clube, espetáculo de humor com a Cia. Calegari. Elenco bom. Textos bons, e espaço igualmente pequeno, ocupado em maioria por pessoas conhecidas da Cia. E assim tem sido em espetáculos de diversos grupos daqui, entre eles, a Oficina de Artes Roriz, do Lucio Roriz; Cena (Centro Experimental de Novos Atores), de Bernardo Maurício; Cia. Teatral Arte in Foco, do Marcelo Soares; Cia. Teatral Liberdade de Expressão, de Patrick Thouin... Temos talentos nas nossas cidades, só não temos ainda público suficiente para prestigiar esses talentos.
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A julgar que o povo aqui no interior sai bastante à noite para bares e cinemas, não acho que seja exatamente o preço dos ingressos para peças teatrais, que não costumam exceder a quantia de R$ 15, que afastam o pessoal do teatro. Acho que é mais falta de costume mesmo. É o fato de não cultivarmos a cultura desde crianças.
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Porque se a cultura tivesse sido introduzida na vida das pessoas desde cedo, teríamos hoje um público mais assíduo. Então, não é o preço, porque, nesse valor de ingresso, mal se paga o teatro, o diretor, o figurinista, cenógrafo, iluminador, dramaturgo... Quem dirá o ator! Mas ainda assim, não obstante aos prejuízos, porque muitas das vezes o grupo tem que tirar dinheiro do próprio bolso, todos vão lá e fazem. Até porque pra ter esse “fazer” é preciso ter muita vontade, porque não é a escola que vai te ensinar a ser bom, é a sua persistência em querer fazer mais e mais a cada dia; não é só estudando que se aprende, é preciso aprender com a prática também. Enfrentar todos os leões. Não ignorar a concorrência. Ao contrário, se aliar a ela.
Compartilhar saberes e, principalmente, ter a humildade de não deixar parado em si mesmo esses saberes por medo do discípulo superar o mestre. Até porque vivemos em um mundo globalizado. Se você não ensina o que sabe por medo de ser superado outro, com mais humildade e consciência de que ninguém é cem por cento sábio, irá ensinar. E talvez melhor do que você, porque as pessoas começam a estacionar, a partir do momento em que acham que sabem tudo e que sabem mais do que todos.
Tratar bem o seu público também, porque sem ele você não é ninguém. Respeitá-lo, tendo o cuidado de levar para ele coisas bem produzidas, são também maneiras de não colocar em risco a sua credibilidade; também porque ele merece; ele saiu do conforto da casa dele para ver o seu espetáculo. Olha que honra! Um espetáculo só deve ser levado a público quando estiver bom para isso, porque se não for bom o único público que você terá será na estreia. E ele não voltará depois num próximo espetáculo seu. Então, a responsabilidade com a imagem do ator é muita. Os gastos são muitos também e começam já com os ensaios, com o tempo que se demanda para se preparar uma arte ao vivo. E tudo por uma temporada de dois fins de semana ou menos. Porque depois disso aí é que não se consegue público mesmo. Em suma, é preciso cultivar a cultura no povo e isso tem que começar pelo respeito e pela qualidade.
O ideal seria que um espetáculo numa cidade do interior tivesse pelo menos um mês de temporada, de sexta a domingo. E pelo menos cinco meses rodando as cidades do entorno, e que o espaço lotasse para se compensar os gastos. O ideal seria que os atores e toda a equipe por trás dele conseguissem sobreviver do seu trabalho e isso não irá acontecer de uma hora para outra; é preciso muita batalha, muitas montagens que leve ao público coisas que o interesse, dar tudo de você para o personagem que você está interpretando, para fazê-lo interessante para o público que foi assisti-lo. Sendo assim, Vamos caminhando, a passos de tartaruga, perdendo e ao mesmo tempo ganhando. Mas fazendo. Tentando incutir a cultura num povo que a “Pátria educadora” esqueceu-se de fazê-lo através da educação.