(Fotos: PoeArt Editora)
“A poesia mostra ao homem outros sentidos da existência, integra-o na plenitude de sua cultura”
(Gilberto Mendonça Teles)
Conforme anunciamos, temos a honra e a alegria de publicarmos a entrevista com o notável escritor/crítico literário Gilberto Mendonça Teles, o qual tivemos como homenageado da “V coletânea século XXI” de 2014, dentre outras colaborações em nossas publicações. A PoeArt vai editar “Caixa-de-fósforos, volume II”, livro de poemas/dedicatórias do também professor Gilberto Mendonça, no decorrer de 2019, quando completa 20 anos da primeira edição. Assim abrimos mais um ano literário da editora de Volta Redonda. E em breve, a edição do nosso livro de número 50. Trata-se da “V coletânea viagem à escrita”, que trará homenagem ao ilustre poeta Carlos Nejar.
Confira a entrevista com Gilberto Mendonça Teles
Diante da crescente relevância das mídias digitais, que novo cenário se desenha para a literatura brasileira?
Não estou preocupado com o “novo cenário” que, a meu ver, em matéria de literatura, deve ser o mesmo, desde que nos situemos no pensamento do dinamarquês Julius Petersen, “para quem não existem mais do que quatro gerações num século”, percebidas em neo-, moderno, pós-moderno e, como já se ouve na França, hipermoderno. No mais, uma questão de prefixo.
A constante crítica de que somos um país de poucos leitores interfere de alguma forma em sua atividade?
De jeito nenhum. Primeiro, a crítica dos jornais não costuma ser correta. Segundo, nem a pesquisa universitária no que diz respeito à sociologia literária. Não é preciso numerar mais nada para dizer que a função do verdadeiro escritor é escrever e esforçar-se para ver os seus livros nas livrarias. O mais são nuvens, disse o Poeta. Um dia chove e nasce alguma coisa nova.
O que a literatura de mais satisfatório lhe proporciona?
Além da alegria de cada livro novo, de poesia e de crítica, muitas coisas me vieram da literatura: Sou professor universitário há 60 anos, período em que trabalhei em várias universidades brasileiras e em seis estrangeiras; estou sempre convidado a falar em centros culturais; recebi vários prêmios, ademais do “salário indireto”, que é o prazer do convívio com pessoas cultas.
Encontro: Gilberto Mendonça Teles e este colunista
Qual é, a seu ver, a função da literatura na sociedade?
No meu livro “Defesa da Poesia, v. I, 2017, Senado Federal”, lá está na p. 57, que a poesia mostra ao homem outros sentidos da existência, integra-o na plenitude de sua cultura, mostra-lhe a ênfase no visível, abre-lhe as janelas do invisível, ampliando assim o seu imaginário e restituindo-lhe afinal a ilusão de sua divindade, porque lhe dá o poder de criação pela linguagem.
Um crítico literário deve analisar apenas um poema ou a obra como um todo?
O estruturalismo francês de 1950 pôs em voga no ensino secundário um tipo de análise, que alguns professores brasileiros copiaram e vivem exibindo em nome da obra do poeta. Toma-se um tema (às vezes uma simples palavra) e gasta-se uma aula inteira sem mostrar a relação entre o poema e o livro e entre este e a obra completa. Foge a poesia, mas brilha a retórica do crítico.
Fale um pouco de “Caixa-de-fósforos, volume II”, livro de poemas/dedicatórias que teremos a grande missão/honra e alegria de editá-lo no decorrer de 2019, quando completa 20 anos da primeira edição.
Como escrevi na “Nota” da edição de 1999, “É claro que este livro tem a ver com a ‘Viola de bolso’, de Drummond, ou com o ‘Mafuá do Malungo’, de Bandeira, assim como ambos se filiam aos ‘Vers de circonstance’, de Mallarmé. E os do poeta francês se ligam a toda uma tradição dos vers de societé, sub-espécie de versos leves e ligeiros que fazem parte da vida social de todo poeta”.