(Foto Ilustrativa/Pixabay)
“Ah, Rapaz, se ocê num é capaz de tirar a vaca d´água, eu sô capaz de tirá a água da vaca.”
Meu pai sempre foi espirituoso, ligeiro nas respostas, do tipo que não é afeito a levar desaforos para casa, características que, em muitos casos, eu gostaria de ter herdado.
Certa vez, estando a negócios na comunidade de Lapinha, uma região montanhosa e de muito vento, num dia de chuva fina e fria, ele despreparado de agasalhos; em tempo de congelar, escondeu-se da ventania atrás da igreja, tentando acender um pito, quando um dos moradores do local lhe pergunta:
- Cumé que sua graça mesmo, moço? - E o Velho Turrinha não deixa barato:
- Ah, Rapaz, todo moiado, nesse frio e de ressaca, eu lá vou ter graça? Tenho graça nenhuma não.
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Havia um confinante nosso, moço arrogante, que, não me lembro por qual motivo, se desentendeu com o velho e deixaram de se falar.
Na divisa entre as fazendas havia uma represa que servia a ambos, no nosso caso, fornecia água para tudo e no caso do outro, apenas como bebedouro do gado. Uma das vacas do dito cujo deu de morrer justamente nas margens da lagoa.
Meu pai, vencendo a ojeriza que sentia do sujeito, vai a sua casa e lhe diz para dar um jeito de tirar a vaca da água. O moço lhe responde rispidamente que não tinha como fazê-lo e que o velho “dess´eus jeito”. O pai apenas respondeu:
- Ah, Rapaz, se ocê num é capaz de tirar a vaca d´água, eu sô capaz de tirá a água da vaca.
O moço apenas riu grosso, pigarreou, balançou a pança, fazendo pouco. O Velho Turrinha chamou dois camaradas para trabalhar e, no dia seguinte, arrombaram a lagoa. Pior para o vizinho que teve de comprar uma “nesga” de terra, a um preço muito além do que valia, para que o seu gado tivesse acesso à água.
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Velho Zé Maia, apesar de contemporâneo do meu avô, era sogro do Bisa Modestino (Seu Modesto, com mais de 80, se casou com a Vó Chica, recém-saída da puberdade), e por isso era meio que um bisavô do meu pai. E era de uma franqueza exagerada, sobretudo se o assunto era café. Todos que lhe eram servidos ele reclamava que estava morno. Numa tarde de verão, sol de rachar, meu pai o vê no alto do morro, em sua velha égua da orelha quebrada, descendo “a passo” na direção de nossa casa.
Na roça sempre tem uma panela de água no primeiro suspiro do fogão, o Velho Turrinha aviva o fogo, põe o bule de café em banho-maria juntamente com uma caneca de alumínio. Quando o parente “apiado” da égua, abancado na varanda e depois dos cumprimentos de praxe, aceita o café que lhe foi oferecido; o pai, retirando com ajuda de um garfo a caneca do banho-maria, despeja-lhe o café escaldante e, usando um prato à guisa de bandeja, serve-lhe a bebida. Quando esse sorve aquele líquido fervendo, cospe para todo lado, toma fôlego e grita:
- Toim de Chico, esse num quentô. Danô!
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