(Foto Ilustrativa)
Uma semana cheia de boas escolhas
A crucifixão
Uma amiga de família, em estado de segunda viuvez, uma renca de filhos de cada matrimônio, netos, estava de namoro com aquele que a deixaria viúva pela terceira vez - decerto a dona era ascendente da menina veneno. Comeu, morreu! - e engravidou. Na roça dos anos 70, aquilo era coisa de emprenhar raposa e ainda sobrar coisa. Pois bom, meu avô, uma espécie de Freud misturado a juiz de paz e conselheiro, chamou-a na responsabilidade:
- Com efeito Maria, a senhora nest´idade, viúva, vó de netos! Comeno a merenda antes do recreio? Cê num tem juízo, não? Tá doida ou doido mijô ni sua cabeça?
No que a nossa candidata a triúva, responde com a cara de cachorro que quebrou panela:
- Sabe o quié, Sô Chico. Eu tava l´em casa barriano uma parede, mode a festa do Divino e ele chegô de mansim, cumo num qué nada. Eu num pudia pô a mão suj´de barro na camisa dele, branquinha que só´cê´veno. O quê qui´esse povo ia pensa de nós? Intão ele aproveito e concificô eu.
Sobre saber viver
O amigo Abel de Clemente (ou Calemente, como era conhecido na Tapera do em antes) era compadre de meu pai e um incorrigível bom vivant. Morava entre os distritos de Córregos e Tapera, que distam pouco mais de 10Km, e em todos os dias, fosse o clima ou estação que fosse, impreterivelmente ia aos dois. Bater papo com os amigos, tomar umas branquinhas e curtir a vida, que é curta demais para se preocupar.
Certo dia estava o meu pai carreando nas proximidades, puxando umas toras do mato para construção de uma ponte, quando avistou o Abel a caminho do povoado antes do meio-dia. Louco para acompanhar o compadre, mas sem poder, brinca com o amigo:
- Que vida boa´é´essa,hem, cumpadre Abel? Indo pra rua n´ua hora destas!
Ao que o Abel, sabiamente, retruca com esta pérola filosófica de um homem que realmente encontrou o sentido da vida:
- Cumpadre Tom de Chico, pra morrê na miséria o qu´eu tenho dá e sobra. - E continuou no embalo macio do trote da besta rumo à Tapera.
Razão da escolha do Seu Modesto
Quando ficou viúvo meu bisavô (que era boêmio, gostava de viola e de uma boa cachaça) dispensou os encantos de uma viúva compatível com sua idade, fazendeira e sem filhos, por uma mocinha com um terço da sua idade, ou menos. Chamado às falas pelos amigos, que o mandaram tomar juízo, vaticinou:
- Prefiro guentá pulo de potra, que peido de égua véia.
Uma semana cheia de boas escolhas, lembrando que a vida é curta e bom humor e gentileza é o que de melhor tem nesta senda.