(Foto Ilustrativa)
Lema de vida desse personagem real: “Treitou comigo, tá no coice!”
Tivemos aqui, um amigo, técnico de futebol amador e um sujeito bacana, mas que era uma verdadeira toupeira. Cujo lema de vida era:
- Treitou comigo, tá no coice!
Tem uma piada que diz: “Fulano, para burro só falta penas! Então, não falta nada, haja vista que burros não têm penas.” Mas, se burro tivesse penas, antenas, malhas, listras, qualquer coisa... este nosso amigo os teria todos. Pois bem, como não devo dizer o nome do amigo, doravante o chamarei de Cortiça, o Casca Grossa e contarei alguns episódios em que o nobre Cortiça atuou e de que fui testemunha ocular.
Político e tanajura
O filho de nosso amigo Cortiça passou no concurso da antiga Caixa Econômica Estadual e tomou posse lá onde o vento faz a curva, no umbigo do Judas...
Menino novo, despreparado pra vida; Cortiça preocupado, cidade com fama de terra de gente brava, daquelas em que o sujeito matava para ver o outro cair. O pai aciona todos os amigos influentes. Por telefone, bilhete, recado, pai-de-santo, sinal de fumaça... Pronto. O menino é transferido para a nossa terra e em segurança. Logo que se espalha a notícia, um político daqueles mais oportunistas chega para o nosso amigo e diz:
- Você viu, né Cortiça? Todo o esforço que fizemos para trazer seu menino para cá. Valeu a pena, mais um cidadão que volta para a nossa cidade. Espero que nas próximas eleições vocês se lembrem disto!
Cortiça, fanho e burro, que sabia que o tal político não tinha movido uma palha para transferir o rapaz, tascou de bate e pronto:
- Cê tá pensano que eu sô tanajura, que ocê infia um toco de pau na minha bunda e eu abro as´asa e saio fazendo barúio? Cê vai tomá sal pro rabo!
E mais uma dezena de impropérios que só o Casca Grossa conhecia.
Baile de gala
Cortiça, sentado à janela de seu quarto, cutucava o nariz (ô, nojento!) com o dedo. Sua vizinha, destas que perde o amigo, mas não perde a piada, cutucou-o (ao Cortiça) também:
- Aí hem, Cortiça, limpando o salão, vai ter baile hoje, né?
Casca grossa que é casca grossa, perde a amiga, mas não perde a deixa, rebateu:
- Não vai se assanhando não, viu? Que piranha não entra.
Revoltada que é revoltada, perde o amigo, mas não perde a chance de provocar uma contenda, avisou:
- Seu grosso, estúpido (num sei o quê, num sei que lá)... vou contar pro meu pai, viu? ... (num sei o quê, num sei que lá)...
Cortiça, valente e calmo que é valente e calmo perde o amigo, mas não perde a pose, provocou:
- Num adianta convidar não, que veado também não entra.
Clonagem
Cortiça, sentado na praça "fiscalizando a natureza" (sua única ocupação), quando passa a Maria Vai co´as Outras e olha em sua direção. O Casca Grossa já se arrepia e pergunta:
- Tá olhando´quê? Nunca me viu não?
Vai co´as Outras, não deixa por menos no quesito "cascagrossice":
- Porquêqui entre tantos feios eu ia olhá justamente pr´ocê? Vai ver se eu tô na esquina?
Cortiça, já emputecendo:
- Peraí que vô l´em casa buscar cabresto e bussal!
Vai co´as outras, também emputecida, retruca:
- Cê é fei´assim ou tá comendo carqueja? Sua mãe não te vende não, ô lubisone?
O Casca Grossa, já babando de raiva e cascagrossice:
- Vende não, mas leva sua mãe l´em casa, que meu pai faz outro igualzinho. Tomô, papuda!
O resto do diálogo, só louco para continuar escutando. E registrar? Nem com bula papal.
São pessoas reais, que convivem ou conviveram conosco e nos enchem de orgulho e saudade. São personagens reais que diuturnamente nos propiciam material para crônicas e contos. Sem eles não haveria como escrever.
Boa semana para todos, com muita gentileza e bom humor.