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Duelo

Cobra a gente mata é bem matada, num machuca ou ispanta só

Colunistas  –  05/01/2020 09:34

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(Foto Ilustrativa)

Quando levantei a cara, no fim do Beco da Sinh´Ana, óia se num era a pustema do sujeito, ele, aquele, vino pros meus lado co´um trem na mão

 

Na cara dele, eu oiei. Em dentro dos´óios. Modos que ele soubesse: medo dele eu num carregava. Tinha era enjeriza. Muita. Aliás, medo é coisa que nunca carreguei. Meu picuá é piquininho e só cabe uns poco treins e meus petrechos de pitá. Temor assoda a gente, amufina. E num é bão conseieiro e nem nada.

Ele, aquele, o muxibento, é caboco istúrdio. Vive ne sombra de mulher e gosta de se gabá de que é home de peso e medida. Bocudo e de boca porca. Véio besta, o Jão Manco (ele, aquele, o fiédazunha) que puxa duma perna - coice de vaca que destroncô a tremela do jueio, lá dele, que o deixô assim. Sujeito bobo, catiadô de marra, metedô de cara, disinquetadô de famíia dus´outro. Sonso, sambanga. Um cutelo e frajelo pros dele.

- Rai´xente. Ai dele se me pisá no calo. Pranto nele a lapiana, até no cabo. Até onde custô meu dinheiro. Fass´uma misera.

Ansdeonte mi´oiô de banda, de meia jota, cô´a cara de tatu de cimitério. Firmei no estribo da besta Risoleta, balanguei as rédea, parpei na garruchina e na viana e apurei o faro. Rupiei. Modos que, de cavalo veiaco a gente tem sempre d´isperá um coice, de boi sonso, uma cabeçada e de sujeito que num presta, trapincolages. Fez poco e passô de banda, assim como se num fosse qu´ele.

Esbarrei na porta da venda de Sô Tote, disapiei da Risoleta e, conforme entrei, já dei meia vorta. O dianho, ele, aquele, tava lá no barcão co´a cara de quem tá cum rei na barriga. Até quebrei pau no ovido pro dono da venda que me sodô. Trevessei a rua e entrei na venda de Bidi. Pidi uma canjibrina e um botinm de porva preta. Dispejei um tiquim de porva na cachaça, mexi bem co´a ponta da curvelana e virei de um golo só. Nem num quemô na goela. E exprico: “Modos de dá coragem e tanto pra brigá, num tem nada mió do que bebê pinga com porva.” - Bidi raiô cumigo:

- Se ocê tá quereno arenga, vai caçá outro lugar pra fazê disorde. Aqui num tulero bagunça. - Dei só um muxoxo, ranquei da gibera uma nota de cem e falei arto e grosso:

- Decá meu troco. E em cobre vivo e nota de paper que num quero sabê de nico, prá vazá do buraco do borso e eu perdê meus priscos. - Bidi murchô. Num tinha troco pra tanto. Mandei apontá na caderneta e cuspi no chão. Modos de mostrá qu´eu num ando com cisma e nem mamei em mulher morta.

A pinga temperada com a porva e o zinabre da faca subiu direto, zonziou meu coco. Na saída trupiquei numa taba do suaio e só num rachei no chão porque bati a testa no peito do disgramento, ele, aquele, que tava intrano na venda. Garrei no portal e falei com raiva: “Arreda qu´eu tô passano”. Montei na besta e saí de passo, que, treis vez de cadeia é sinar de forca.

Imbiquei Risoleta pros lado lá de casa e morguei o corpo em riba da sela, modos de batê a binga e acendê o toco de pito. Quando levantei a cara, no fim do Beco da Sinh´Ana, óia se num era a pustema do sujeito, ele, aquele, vino pros meus lado co´um trem na mão. Sei lá se era um pau de lenha ou uma foice do cabo curto. Sei que alí tinha trem. Pensei: “Bão! Ness´istradinha só cabe eu e minha mula, que qui´esse fiedamãe tá caçano? Ess´trem num vai prestá.” E... topemo no mei do beco. Ranquei da garruchinha, toquei nas fuça do infiliz, bem nas venta, escanchelei os dois cão e puxei o gatíio. A HO só fez “trac, trac”. Mascô a fiedazunha. Mas foi o que foi priciso. Dess´ora indiante o tar do sujeito, ele, aquele, corre de mim que nem o diabo da cruz. E eu, que num sô bobo e nem nada, corto vorta é grande pra num passá nem perto dele. Afinar, cobra a gente mata é bem matada, num machuca ou ispanta só... 

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Por Francisco Ferreira  –  francisco.ferreira2606@hotmail.com

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