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Conhecimento-Saber

A relação entre alteridade e educação na atualidade

Infelizmente, o docente objetificado pela estrutura social atua objetificando o discente, incapaz de reconhecer sua alteridade

Colunistas  –  25/09/2021 06:57

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(Foto Ilustrativa)

A alteridade possui o valor pedagógico de nos desafiar a rever, criticar e defender um outro modo de ensino, fundado no acolhimento

 

Indubitavelmente, a educação já foi e de certo modo ainda é pensada e objetivada, enquanto a instância guardadora, criadora e principalmente reprodutora do humanismo, além de promotora do desenvolvimento das habilidades intelectuais no campo das ciências e da criatividade nas dimensões das artes. Não se pode esquecer que também apresenta a função de construir as bases da sociabilidade das relações do viver no cotidiano. Em nossa atualidade, parece extremamente utópico e até ingênuo resgatar o sentido de uma práxis de educação humanista para além de formulações teóricas, visando fazer do humano algo distinto de meras essências abstratas, livrá-lo dos conceitos fundados no anonimato do ser e formar indivíduos mais humanizados e menos coisificados.

Contudo, em nome de determinados humanismos, guerras e destruição de vidas foram perpetuadas e assim continuam. Em nome de princípios e ideais humanistas, alicerçando a barbárie ideológica e política, promoveram-se massacres e genocídios, fatos ainda muito comuns em nossa atualidade. Penso que a filosofia e a educação se aliando podem atuar como forma de desmistificar as formulações enganosas e completamente equivocadas dos humanismos que não conseguiram impedir e não impedem, e que inclusive motivaram e motivam o extermínio de vidas e a perda do sentido do humano.

Para refletir rapidamente a respeito das considerações expostas acima, destaco os esforços presentes da filosofia de *Emmanuel Levinas, propondo uma nova orientação para o fazer teórico, a ação moral e as práticas educacionais. Esse pensador foca primordialmente a relação de conhecimento-saber como uma forma de relação do “mesmo ou do eu com o outro”. Esse é sempre reduzido ao mesmo, tolhido de sua condição de alteridade. Nessa acontece necessariamente a objetivação do outro e sua redução ao mesmo identificador e nivelador de toda diferença. O que Levinas nos indica é que o outro é radicalmente diferente em relação a mim e aos outros, portanto, não pode ser objetificado, a não ser numa envergadura violenta ou no estabelecimento de uma relação de poder marcada pela dominação. Infelizmente, essas são situações muito comuns na relação docente/discente, onde de alguma forma o docente objetificado pela estrutura social atua objetificando o discente, incapaz de reconhecer sua alteridade. Essa forma de relação não considera o existir humano e as relações inter-humanas, causando danos impactantes em termos práticos e éticos.

Levinas recusa que o outro/alteridade seja constituído pelo eu/mesmo. É, portanto, na possibilidade de uma relação com o outro que o eu me constituo como humano. O outro se apresenta como alguém que tem a sua própria identidade e não a identidade construída pelo eu cognitivo. Agora ele aparece como um convite ao estabelecimento de uma relação social e não como um objeto que pode ser feito tema, portanto, objeto. Assim sendo, a alteridade possui o valor pedagógico de nos desafiar a rever, criticar e defender um outro modo de ensino, fundado no acolhimento ao estrangeiro e na abertura ao ensinamento proveniente da alteridade, como condição ético-crítica do saber e responsabilidade na construção de humanos mais responsáveis pelo respeito à diversidade e às diferentes formas de existência no mundo que só se abre como tema na medida em que reconhecemos que o outro é sinônimo de maestria. Dessa forma, o princípio de toda orientação pedagógica-ética vem do outro. Citando Levinas: “só o absolutamente estranho nos pode instruir”. (2000, p. 60)

> Levinas, E. Totalidade e infinito: ensaio sobre a exterioridade. Trad. José Pinto Ribeiro. Lisboa: Edições 70, 2000. 

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Por Rogério Luís da Rocha Seixas  –  rogeriosrjb@gmail.com

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