(Foto Ilustrativa)
O espectro pestilento da Covid-19, agora presente com a variante Ômicron, tem revelado e acelerado processos que se encontravam bem avançados, antes do coronavírus sacudir o nosso mundo
Longe de trazer ou propagar pessimismos ou alarmismos, nesta nova exposição de ideias, objetivo rapidamente ressaltar questões essenciais do nosso momento presente: A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) não acabou e o seu espectro persistente desvela a crise política, ética e sanitária dos Estados contemporâneos. O que a variante Ômicron pode causar ainda não está claro, mas pode-se evidenciar que o efeito espectral típico de uma peste destrutiva descortinou a realidade: A resposta dos Estados em geral ao espectro da variante passa por atitudes e posturas nacionalistas de controle sanitário, revelando o medo à abertura ao outro e a dificuldade de uma ação de solidariedade, coordenada e conjunta em prol de todos.
Estados europeus, por exemplo, que sempre se arrogaram por sua eficiência na promoção de políticas públicas de saúde, demonstram a sua falência no enfrentamento do “espectro pestilento da Covid-19”, além de transparecerem cada vez mais nacionalismos tacanhos, repelindo e rejeitando de tal modo os “outros”, considerados ameaças em potencial. São tachados de inimigos contra a saúde das sociedades civilizadas. A África do Sul e o continente africano em geral foram e ainda são tratados como “terras selvagens” e fora da Humanidade, perspectiva marcante do Colonialismo e que alimenta os nacionalismos extremados e tacanhos.
Quero esclarecer que não sou contra as medidas de prevenção. São tão importantes quanto as ações de vacinação. Trago a discussão para esta coluna, referente à forma como responderam e estão respondendo os Estados democráticos ao espectro da peste que nos ronda: exclusão, isolamento e culpabilização do Outro, enquanto uma ameaça biológica. Persiste-se dessa forma em um tipo de isolacionismo, ignorando a nossa condição de estarmos todos convivendo no mundo. Não há como se isolar ou provocar isolamentos, principalmente em um acontecimento emergencial, envolvendo esta pandemia que nos assola desde 2019. Assim sendo, por sua própria natureza, a pandemia revelou, tanto do ponto de vista de saúde, quanto político, ético e econômico, a necessidade de colaboração e cooperação mundial.
A realidade nua e crua é que não existe uma solução apenas nacional para os perigos colocados pelo vírus. Faz-se necessária uma resposta global conjunta e planejada. Obviamente, um determinado Estado pode por um tempo conseguir controlar o vírus dentro de seu território, mas ao ser confrontado com uma variante surge a ameaça de sua propagação contínua. Afinal, o vírus não tem passaporte ou nem mesmo reconhece os controles de imigração e das fronteiras.
O espectro pestilento da Covid-19, agora presente com a variante Ômicron, tem revelado e acelerado processos que se encontravam bem avançados, antes do coronavírus sacudir o nosso mundo. Um deles refere-se ao crescimento de divisões e conflitos nacionais, escancarando a falência dos valores sociais, políticos e principalmente éticos que ainda embasam discursos humanistas, que agonizam não por causa da Covid-19, mas devido a viroses mais antigas, próprias da nossa humanidade demasiadamente humana.