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Crônicas de Humor e Entrevistas Poéticas

Isabel Furini

isabelfurini@hotmail.com

Opinião Inamovível

O pequeno Oscar

A coroa e o jovem entraram no prédio rindo e falando alto; descabelados; os olhos inchados e avermelhados pelo sono e o vinho da noite anterior

Colunistas  –  06/08/2022 16:45

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(Foto Ilustrativa)

O porteiro espalhou pelo prédio inteirinho que a coroa do 32A estava namorando o rapaz do 16B

 

Quando o conheci, era um nenê rechonchudo de faces coradas. Lembro-me de uma tarde em que Oscar estava com diarreia. A mãe trouxe o nenê para brincar com meus filhos e pediu licença para trocar a fralda. Eu ajudei e até coloquei talco no bumbum dele. 

Meses depois, mudamos para outro prédio. Mas as crianças foram colegas de escola até a sexta série. Os anos passaram. Estivemos muito tempo sem ter notícias de Oscar até que, em 2005, decidi morar sozinha. Aluguei uma quitinete mobiliada no centro de Curitiba. Meu filho caçula me ajudou a levar as malas. Íamos entrar no elevador quando reconhecemos Oscar. Era ele!.. Tinha a mesma carinha rechonchuda, as bochechas vermelhas e o cabelo encaracolado. Estudava na Faculdade de Belas Artes e trabalhava na área de informática. Ficaram mais de uma hora conversando enquanto eu organizava o armário. Depois foram jantar com duas garotas loiras que moravam no terceiro andar.

No domingo, eram 20 horas, quando meu celular tocou. Meu filho me convidou a comer pizza. Oscar também iria. Como é proibido estacionar na Avenida onde está localizado o prédio, meu filho disse que ficaria esperando na ruazinha do lado direito. Interfonei para Oscar. Cinco minutos depois, desci e fiquei esperando-o. O porteiro fez algumas perguntas costumeiras. Está gostando do prédio? Viu que linda vista do 11° andar? Até que Oscar desceu. Cumprimentei-o com um beijo na bochecha e saímos juntos.

Fomos para a casa de meu filho, pedimos a pizza, brindamos com vinho, conversamos, demos muitas risadas e até assistimos a um filme de terror... Eu fiz pipocas e como já era tarde, quase 2 horas da manhã, dormimos lá. Eu, no quarto de hóspedes, e Oscar, no sofá da sala.

Na manhã seguinte, levantamos cedo, meu filho estava apressado porque não podia chegar atrasado ao trabalho. Oscar e eu, sonolentos e sem café da manhã, descemos do carro na mesma ruazinha. Meu filho continuou para o trabalho. Entramos rindo e falando alto. Descabelados. Os olhos inchados e avermelhados pelo sono e o vinho da noite anterior. De repente, vi que o porteiro ficou em pé. Olhando-nos. Eu fiquei acanhada. O elevador chegou e Oscar, talvez para quebrar o gelo, disse:

- Eu vou pela escada... Bom, Isabel, nos vemos à noite.
- À noite? - murmurou o porteiro. 

Fingi não ter ouvido e entrei rápido no elevador. Antes de fechar a porta, olhei para o porteiro... E vi o sorriso cínico. Ele espalhou pelo prédio inteirinho que a coroa do 32A (eu) estava namorando o rapaz do 16B. A situação era constrangedora. Várias vezes expliquei a situação. Ele ficava em silêncio, com cara de safado. Os vizinhos olhavam para mim... Com aquele olhar estranho. As mulheres me cumprimentavam e, nem bem eu virava as costas, murmuravam.  Uma noite, ao voltar das aulas, entrei no elevador e me vi, frente a frente, com a fofoqueira do 125 A. A cinquentona fez barulho com suas inúmeras pulseiras ao apertar o botão do 12º andar. E, olhando-me fixamente, lançou a pergunta:

- Você está namorando aquele rapazinho... Oscar?

Eu neguei. Ela, sem escutar, continuou:

- Eu acho tão lindos os relacionamentos anticonvencionais. A morena do 35B também namora um rapaz mais jovem, mas ninguém no prédio sabe... Diga a verdade, você já viu o Oscar nu?

Não importava o que eu falasse. Ela já tinha sua opinião inamovível.

-  Já viu ele nu? - voltou a perguntar.

Então, com raiva, olhei nos olhos da fofoqueira e respondi:

- Dona Dulce, não só vi Oscar nu... Eu até coloquei talco no bumbum dele. 

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Por Isabel Furini  –  isabelfurini@hotmail.com

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