(Foto: Divulgação)
História foge da fórmula: mocinho + mocinha = passar um milhão de dificuldades para ficar juntos
A sina de um leitor nos tempos do Instagram é lutar para resistir ao impulso de não sair por aí comprando todos os livros que decidem marcar presença em todas as páginas literárias que encontra. Eu, porém, desisti da luta, e depois de passar semanas vendo “Eleanor & Park” em todos os lugares virtuais possíveis, decidi lê-lo.
Pois bem. Foram três longos dias. No início, um choque. A história começou bem diferente do que eu tinha imaginado: um romance no tempo dos meus pais, pra lá dos anos 80, com uma personagem principal absolutamente fora dos padrões de beleza estabelecidos pela sociedade, um ônibus escolar completamente absorto no mundinho de filme adolescente americano e uma história de vida mui peculiar que ameaça dar as caras.
Seguidamente, o enredo particular de cada personagem vai se revelando nas brechas entre encontros no ônibus e empréstimos de gibis. Eleanor é a primeira filha dos cinco de Sabrina. Seus pais são separados e ela acabou de voltar para a casa da mãe, que dividem-na com o padrasto, um homem muito muito bipolar, que é praticamente o bicho papão, anteriormente expulsou a moça de casa (o que explica a volta) e só faz gritar e colocar medo na própria Eleanor e nos seus irmãos. Park, um adolescente de classe média, é vidrado em rock e sempre lê gibis. A princípio, apresenta um preconceito quanto a Eleonor, por causa das roupas surradas e masculinas da moça - uma vez que sua família mal tinha dinheiro para a comida - mas acaba por revelar sua boa índole.
Basicamente, a história trata da queda dos preconceitos de Park e do processo de aceitação de Eleonor para com ela mesma, através do amor que nasce entre os dois. Ele descobre que ela é muito mais do que as roupas largas e fora de moda, e ela percebe que é linda e que pode ser amada, mesmo com toda a dificuldade que passa.
O final: gostar ou não gostar, eis a questão...
Não posso dizer que gostei do final. Mas também não posso dizer que odiei. No instante em que terminei o livro, fiquei esperando o resto da história, num processo de negação, tentando dizer pra mim mesma que tava faltando uma parte. Um pouco depois eu senti raiva. Mas agora eu to pensando em “Uma Aflição Imperial”, de “A Culpa é das Estrelas”, e como a Hazel, imaginando que ele termina assim porque a autora (usuária assídua da maldade para com os leitores) quis conferir verossimilhança à obra. Porque a vida e as histórias que a gente escreve na vida terminam e começam quando elas bem entendem e essa coisa toda...
Pra ser sincera, me decepcionei um pouco com o livro. Criei uma imagem para ele na minha cabeça antes de tê-lo nas mãos. Esperei um romance daqueles que a gente não consegue largar, e que em cada capítulo acontece uma coisa diferente e te faz querer dormir com o livro, comer o livro, abraçar o livro, tomar banho com o livro, pra ver se ele se incorpora à vida real, mas não foi assim.
No entanto, contraditoriamente e à sua maneira, o estilo do livro me prendeu. Não de um jeito desesperador, mas de um jeito que me fez torcer para que as coisas dessem certo na história. As narrações que intercalavam o ponto de vista da Eleanor e do Park, o fato de que eles se apaixonam gradativamente, a maneira como a Rainbow faz a Eleanor ser a mocinha amável, mesmo que ela não seja dona do corpo perfeito e não tenha muitos amigos... De algum jeito, o livro se tornou especial pra mim. Foi uma leitura que valeu a pena, não por ser aquele clichê esperado em todo romance: um mocinho e uma mocinha que passam um milhão de dificuldades para ficarem juntos. Foi uma leitura que valeu a pena porque tem personagens com uma história de vida que faz a gente repensar a nossa; porque tem um casal que se apaixona através da leitura; porque parece tão de verdade que te cativa a ponto de você se sentir confidente daqueles dois. E é por isso que ele mereceu essa resenha cheia de amor.
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Frente & Verso
. Obra: Eleanor & Park
. Editora: Novo Século
. Autora: Rainbow Rowell
. Número de páginas: 328