(Foto Ilustrativa)
Momento animador: Temos as teorias
pedagógicas e possuímos a tecnologia
que nos permite implementá-las
A educação e a sua ligação com a escola é o resultado de uma construção social e histórica. Muito embora as primeiras escolas públicas tenham aparecido no século XVIII, foi no século XIX que se observou um aumento significativo no número de escolas e estudantes. As necessidades de mão de obra imediata capaz de dar resposta a processos simples, homogêneos e automatizados estiveram na base da massificação do ensino, nos moldes que ainda hoje conhecemos: uma sala de aula, um professor, vários alunos, o mesmo currículo.
As semelhanças entre os sistemas escolares tradicionais e os processos produtivos manufaturados são curiosas mas, de forma alguma, inocentes. A escola adotou modelos com base na padronização dos edifícios, dos horários, das regras, dos currículos, dos manuais (apostilas); privilegiou a hierarquização dos papéis e apostou na divisão das tarefas (um professor por área de saber num determinado período de tempo - a aula), tendo em vista um produto final homogêneo: o aluno. Durante décadas foi-se alimentando um processo de reprodução da cultura dominante por meio de um sistema de ensino unificado e aplicado indiscriminadamente por todos os professores, a todos os alunos e em todas as escolas. Estendendo o conceito para a gestão escolar, a realidade é exatamente a mesma. Um tipo único de escola permitia uma única estratégia educacional - um currículo geral, orientado para os mesmos resultados, e uma gestão mecanizada baseada em princípios comuns.
Subitamente, o mundo mudou. As certezas deram lugar às dúvidas e os modelos unificados e perenes foram abalados pela mutabilidade do conhecimento científico. À Revolução Industrial sucedeu-se uma Revolução Tecnológica assente na construção e partilha do conhecimento. A mudança foi de tal forma rápida e radical que o modelo instituído nas escolas deixou de responder aos desafios da atualidade; as taxas de abandono e o insucesso escolar tornaram-se preocupantes. Adicionalmente, a escola paralela e o poder atrativo dos dispositivos tecnológicos provocam no aluno a estranheza de estar sendo educado para um mundo de lápis e papel quando tudo à sua volta é digital e multimídia.
É nesse enquadramento que a tecnologia impõe-se como um recurso incontornável na educação. No entanto, e apesar de uma geração completa de gestores escolares, professores, e até alunos e pais verem a tecnologia como a solução final para os problemas do insucesso escolar, são necessárias algumas cautelas. As oportunidades e a vontade de mudança fizeram com que se passasse do quadro negro para o projetor de transparências, do videoprojetor para a lousa interativa. No entanto, a lógica tradicional e mecanizada de transmissão passiva de conhecimento prevaleceu na maior parte das nossas escolas. A análise da realidade escolar revela que a metodologia associada aos processos de ensino/aprendizagem manteve-se praticamente inalterada, fazendo com que a tecnologia seja vista agora aos olhos de muitos pais, professores e diretores como inútil, pouco rentável ou, por vezes, prejudicial.
Com tantos investimentos dispendidos em tecnologia educacional por todo o mundo, exigem-se resultados. Resultados visíveis e expressivos! O que faltou, então? Metodologia? Sem dúvida! Mas existirá falta de pedagogos? Certamente, não. No entanto, durante muito tempo a integração da tecnologia esteve desligada dos princípios pedagógicos necessários à sua utilização efetiva, ligado à ideia de que a tecnologia era suficiente para a mudança de paradigma educacional.
Gradualmente tem-se defendido a importância de uma ação consciente e sustentada no uso da tecnologia. Só desta forma é possível dar uso ao potencial da tecnologia no apoio à aprendizagem significativa, experiencial, colaborativa e multifacetada. Uma educação paralelamente ativa e interativa que promove tanto a autoaprendizagem (com a resolução de problemas e do acesso a múltiplos canais de informação e conhecimento) como a coaprendizagem (construção de conhecimento partilhado).
Consideramos que o professor continua sendo o elemento-chave nos processos de ensino-aprendizagem, tendo agora à sua disposição o conhecimento teórico e os recursos pedagógicos capazes de revolucionar a educação. Se, até hoje, numa educação orientada aos princípios da homogeneização, essas teorias não tinham aplicação, por implicarem invariavelmente a quebra do modelo de professor transmissor e aluno passivo, agora o caminho é bem diferente. A geração atual dispõe do conhecimento teórico e das aplicações tecnológicas que permitem otimizar os processos em função das estratégias metodológicas mais adequadas, das especificidades individuais e contextuais, dos estilos e ritmos de aprendizagem. A construção crítica e sustentada do conhecimento que se deseja promover na escola torna-se um objetivo cada vez mais concreto ao aproximar-se a sala de aula da realidade, ao favorecer a experimentação e aplicação prática dos conceitos e saberes, ao estimular a observação, a análise e a simulação de fenômenos.
O momento é realmente animador: temos as teorias pedagógicas que nos ensinam a trabalhar de forma efetiva e possuímos a tecnologia que nos permite implementá-las. Falta apenas o último passo: trabalhar e recolher os resultados de um ensino inovador e de qualidade, numa escola revolucionada!
> Fernanda Nogueira, licenciada em ciências da educação pela Universidade de Coimbra e doutorada em didática e formação pela Universidade de Aveiro