(Fotos Ilustrativas)
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Existe forte possibilidade de que no caso de uma exposição de comportamentos discriminatórios ser contínua para uma criança durante e até após o seu desenvolvimento ela provavelmente poderá reproduzi-lo com outras pessoas
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Atualmente muito se fala sobre discriminação racial, de gênero, religiosa e outras formas de segregação que invariavelmente colocam as pessoas em agrupamentos distintos. Os homens ao crescerem passam a perceber que são mais fortes fisicamente do que as mulheres, pessoas brancas notam distinções nas pigmentações na pele de outros indivíduos entre muitas outras diferenças que na prática não significam que sejam vantagens ou desvantagens de uns sobre outros. O problema é que ao crescerem a maioria dos indivíduos passa a associar equivocadamente essas diferenças como sinais de superioridade ou inferioridade entre os grupos que as possuem e os restantes.
Infelizmente essa associação não é aprendida na escola e sim trazida para dentro dos seus muros. Afinal, o único fato inquestionável é que qualquer criança ao nascer não traz com ela essa conduta discriminatória, e sim, a constrói a partir dos modelos as quais é exposta ao crescer e se desenvolver com as pessoas e familiares ao seu entorno. Para entendermos melhor esse processo, basta fazermos uma correlação da aprendizagem de quaisquer comportamentos com a atuação dos Neurônios em Espelho desde a mais tenra idade.
Explicando sucintamente, esses Neurônios estão em áreas específicas do cérebro e geralmente são ativados quando observamos alguém fazer algo e de imediato ensaiamos ou imitamos mentalmente qualquer ação que foi observada. Isso foi comprovado pela Neurociência bem recentemente.
Esse fenômeno ocorre sem necessariamente termos realizado fisicamente a mesma ação naquele momento, porém elas podem ser memorizadas e internalizadas e, assim, gradativamente, podem até modelar comportamentos sociais assemelhados em condições similares no futuro.
Desse modo, podemos começar a entender como determinados comportamentos se reproduzem naturalmente nas gerações que se sucedem. Afinal, desde bebês, repetimos mentalmente todas as ações que observamos as pessoas realizarem ao nosso entorno como, por exemplo, como aprendemos sorrir, conversar, caminhar, abraçar etc.
Partindo desse pressuposto, se considerarmos as atitudes, ações e discursos preconceituosos que uma criança pode ser exposta no seu desenvolvimento, o estímulo contínuo dessas áreas cerebrais podem, inclusive, justificar uma possível reprodução futura desses comportamentos. Como geralmente esse tipo de estímulo ocorre mais intensamente por meio de seus familiares ou outras pessoas à volta de uma criança, começamos a compreender melhor como ela pode assimilar e até começar a repetir alguns comportamentos dentro e fora do ambiente familiar bem antes da escola.
Isso obviamente independe se essas posturas são boas, ruins, socialmente aceitáveis ou até discriminatórias e nefastas. Ou seja, explica porque os bebês repetem nossas expressões e ações desde a tenra idade, como por exemplo, quando retribuem e sorriem para nós quando sorrimos para eles, quando fazem caretas quando fazemos esse tipo de expressão facial, ou ainda quando nos acenam quando acenamos para eles. Porém muitas outras ações também começam a ser aprendidas, durante seu crescimento, pois também são observadas e da mesma forma poderão ser internalizadas.
Então, podemos refletir sobre a forte possibilidade que no caso de uma exposição de comportamentos discriminatórios ser contínua para uma criança durante e até após o seu desenvolvimento ela provavelmente poderá reproduzi-lo com outras pessoas. Logo, as posturas discriminatórias podem ser resultantes do ambiente em que a criança cresce e a modela, portanto, as chances de evitá-lo para as gerações subsequentes são imensas, mas infelizmente não cabe unicamente à escola exercitá-lo.
O menino desde cedo deve compreender observando os exemplos dos adultos ao seu entorno que não existe superioridade dele sobre meninas e, sim, diferenças que não podem ser mensuradas, comparadas ou identificadas como algo que é melhor ou pior. Ou ainda que ele não é superior ao outro por causa da cor da sua pele, do seu corpo ou outros atributos fisiológicos, biológicos ou anatômicos, visualizando nas pessoas e familiares ao seu redor esse exemplo de comportamento de respeito às diferenças. Afinal, os diferentes tipos de discriminações não se constroem e muito menos se desconstroem apenas na escola.
Quem sabe o que os Neurônios em Espelho observarem com maior frequência não modelarão as atitudes e ações no futuro de nossos futuros adultos? Afinal, vivemos em um tempo no qual é bem verdadeira a frase: "sorria, você está sendo filmado", principalmente pelos seus filhos e outras crianças ao seu redor. E caso julgue interessante compartilhar essa reflexão, fique à vontade. Seus netos certamente também se orgulharão de você.
> Esse texto foi inspirado no livro "A (des) construção de uma pátria mestiça" disponível no Clube dos Autores