(Foto: Divulgação)
“Há mais poetas que leitores. O pior são os/as que se autoproclamam poetas, numa frugalidade espantosa. Bons/as poetas só podem tirar vantagem desta onda que estimula mediocridades (há uma indústria por trás disto), salientando-se por real talento”.
Rose Calza é livre docente em Literatura Comparada (HDR - Habilitation à Diriger des Recherches), Université de Provence - Aix - Marseille (Centre D´Aix), France; doutora em Comunicação e Semiótica, PUC-SP; roteirista (telenovelas, teletemas, “Você Decide”) TV Globo, RJ; escritora, poeta. Publicou:
“Contemporary Brasilian Theory” (org.), San Diego, USA, 1995;
“O que é Telenovela”, Col. Primeiros Passos, Ed. Brasiliense, 1966;
“Entre Pedaços” (poesia), Ed. Sette Letras, RJ, 1997;
“Cheetah” (multilivro), Ed. Giostri, SP, 2016.
Tem seus poemas publicados - poema selecionado em antologia poética, como:
Prêmio Off Flip de Literatura, Selo Off Flip, Paraty, SP, 2022;
“Poesia Agora Primavera”, Ed. Trevo, SP, 2022;
“Histórias de um Tempo em Versos e Prosa”, Ed. Inde, SP, 2022;
“As Valkyries Visitam o Brasil - IX Antologia Cultive”, Genebra, Suíça, 2022;
“Poemas Satíricos e de Maldizer” / “Haicais e Tankas”, Ed. Persona, Curitiba, PR, 2022;
“Verso & Prosa - Coletânea” / “Mulherio das Letras na Lua - Coletânea de Poesia 1”, Ed. In-Finita, Lisboa, Portugal, 2021;
“Luz de Teus Olhos”, EHS Edições, Recife, PE, 2021;
Em revistas, como “Liter/Arte”, via Isabel Furini, Argentina; Revista Nordestina de Literatura e Arte Sucuru, número 18, 2022; Revista Parananha Literário, Rio Grande do Sul, 2022, entre outras.
Confira a entrevista com Rose Calza
> Fale um pouco de seu início como poeta. Quando começou a ler poemas e quando começou a escrever poemas?
Antes, a leitura de gêneros como romance, crônica, o conto (especialmente), eram de minha predileção e ocupavam o espaço de minha biblioteca, mas acredito que minha troca/mudança da USP (onde trabalhava em minha tese de mestrado sobre Almeida Faria/o neorrealismo português) para a PUC-SP - para o curso de Comunicação e Semiótica (com base no pensamento científico peirceano) foi decisivo gatilho e start para escrever poemas. Orientada por Décio Pignatari, tinha diante de mim o mundo explodindo pelas novas techs (a transformação do analógico ao digital), o que me abriu para novos paradigmas, outros valores estéticos, possibilidades de linguagens/simultaneidades/descontinuidades dentro da excentricidade do cotidiano. E desejei, a partir de aí, ser uma multiartista transssemiótica, extasiada diante do signo, e como consequência, com a ourivesaria do trabalho com a palavra.
> Como é seu processo criativo? Para escrever um poema, por exemplo, você parte de uma palavra? De uma imagem? De uma vivência? De acontecimentos?
Se o poema é a impressão intelectualizada transformada em emoção, sinto que escrever tem que ser algo de novo fôlego, que afete a sensação e a consciência do mundo. É a emoção bruta pela qual primeiramente me interesso. Em meu trabalho como roteirista, com meu eterno caderno de notas, disfarçadamente (em um restaurante), já cheguei mais perto de um casal discutindo a relação, para captar o sentimento letal daquelas agressões que seriam mornas se eu as imaginasse no conforto de meu escritório. No mais, tudo me interessa, literatura e... Catálogo, bula de remédio, lista telefônica, manual de instruções.
Há algo sempre que a heurística impulsiona no intuito de remover cistos/clichês cristalizados de atitudes e pensamento. Não sei quem fala em mim quando eu falo/escrevo, e mais acentuadamente todo o tempo pareço estar andando descalça em vidro quebrado, interceptada por vozes que me fazem levantar da cama, interromper o sono para escrever algo que se anunciou em minha mente, como um estampido. Há um garimpo semiótico automático, instalado no motor de minha cabeça, selecionando palavras, imagens, sons, textura, tecidos, toques, cores. Vivo continuadamente em área de risco, à mercê de espasmos de sinapses, descarrilamentos neurais...
> Como analisa a sua própria obra? Fale de seu estilo e de sua voz poética.
Não tenho um estilo definido. Sinto que me desloco de ambientes gamer/nerds a alcovas desejadas em cantigas de amor e amigo. A dinâmica da realidade é plural demais. Temos que explorar o direito e o avesso do existir, longe de uma única visão de mundo.
> Como cria os títulos de seus poemas? Você escolhe alguma palavra do poema, procura inspiração em outros textos ou os títulos surgem na sua cabeça?
No corpo do poema há sempre uma palavra/imagem/ideia central que se insinua para ser valorizada, como agregadora de complexidades. Outros textos, memórias, porém, podem, no recall, estabelecer a profícua relação de intericonicidade.
> Você gosta de interpretar poemas? Como se sente declamando?
Está aí uma vivência pouco explorada. Tenho medo de uma interpretação piegas que arruíne a beleza do texto.
> Este momento é bom ou ruim para os poetas?
Acho que há mais poetas que leitores. O pior são os/as que se autoproclamam poetas, numa frugalidade espantosa. Bons/as poetas só podem tirar vantagem desta onda que estimula mediocridades (há uma indústria por trás disto), salientando-se por real talento.
> Fale de seus projetos para o segundo semestre de 2023.
Tenho dois livros para finalizar: “A Garota que Não Gostava do Nome” (multilivro) e “Eu (amo) es” (poesia). Mas procrastino. Tenho que me disciplinar.
> Confira todas as crônicas e entrevistas da Isabel Furini