(Fotos: Divulgação)
“A ETÉ é uma editora que não tem medo de arriscar na diagramação e que tem um tratamento com o texto respeitoso e franco. Criamos uma rede que tem desde o serviço de mentoria, para auxiliar a própria escrita do texto, até a produção do lançamento do livro”.
O nosso segundo bate-papo com artista cultural é com...
Jordão Pablo de Pão - Escritor, pesquisador de Memória Literária e gestor público. Autor de "Cáustico" (2023), "Doce Maresia" (2021), "Café Quente" (2019) e "O Mar do Meu Velho" (2018-9), além de mais de duas dezenas de livros artesanais e fanzines. Editor e revisor de texto, cofundador da Editora ETÉ. Integrante da Academia Niteroiense de Letras. Coordenador da Niterói Livros, da Prefeitura de Niterói.
Confira a entrevista com Jordão Pablo de Pão
Soube que acabou de lançar mais uma obra solo, “Cáustico”. O que o leitor pode esperar dessas páginas literárias?
Isso mesmo! “Cáustico” está saindo do forno e está sendo muito bem recebido, para minha surpresa. É um livro bastante diferente dos outros três que lancei. Esse inaugura uma forma de composição de obra que chamo de “literatura navalhar”. Dizem que viver é andar numa corda bamba solta no espaço. Para os grupos sociais que são violentados constantemente, viver é andar em uma navalha no espaço. Se pisar leve, não tem sustentação. Se pisar forte, corta o pé. Se cair para o lado, é corpo aberto no espaço. Dessa forma, “Cáustico” entrega uma literatura da dor que leva à reflexão, nada mais do que o que já conhecemos vivendo nesse país de hoje.
O título sugestivo lembra a conhecida “soda cáustica” que é algo que corrói, dilacera, destrói... Tem algo a ver com isso, de alguma forma?
Exatamente! A sensação de corrosão decorre exatamente desse processo de desconstrução das verdades conservadoras interiores. A gente sabe que existem regras e propensos de comportamento. Mas a gente também sabe que nenhuma regra é geral ou inequívoca quando se trata de ser humano. Acontece que a gente foi formado para pensar em possibilidades algumas, que normalmente tem a ver com a realidade que a gente experiencia. Mas existem muitas pessoas no mundo, consequentemente muitas possibilidades de condução dos enredos da vida e das emoções. A minha literatura, nessa obra, bebe, em grandes goladas, de um copo que está em decomposição.
Quantos livros já lançou? Qual a emoção de ser escritor e lançar obras e perceber o interesse de seus leitores?
Lancei três livros, além de mais de duas dezenas de fanzines e livretos artesanais. Sou um experimentador do suporte literário. A escrita já me salvou, já me auxiliou na mudança de personalidade, todos os dias auxilia meu trabalho de construção ética e de caráter. Entregar algo tão seu ao público, como “Cáustico”, faz com que eu redimensione sempre a minha capacidade de aprender, de influenciar pessoas, de ser canal de arte. A literatura nos ajuda a nos salvar. E sabemos que esse é um tema para além do corpo. Dialogar a partir das minhas obras com o público transforma o mundo.
Além de escritor, também possui uma editora, a ETÉ. Quando teve a ideia e por que resolveu ter sua própria editora? Foi antes ou depois e lançar o primeiro livro? E qual a razão do nome, curto, mas não facilmente compreendido?
A ETÉ surgiu de um feliz encontro. Eu, A.J. Tolissano e Elis Barroso passamos por experiências muito boas e muito ruins em outras editoras. Eu só publiquei com editoras que entenderam meu objetivo artístico. As que não souberam tratar meu material ou minhas convicções, eu dispensei. Mas ficam traumas. Entendi que meus sócios seriam as pessoas certas para fazerem a diagramação de “Cáustico”, que eu iria produzir por conta própria. Mas eles me confrontaram, foram os primeiros a me pedirem a oportunidade de apresentar uma contraproposta ao material - sim, quando eu penso em um livro, já crio capa, como vai ser o miolo, quais serão os textos auxiliares, etc. Para minha surpresa, eles me entregaram o projeto que hoje os leitores têm em mãos: contemporâneo, ousado, urbano, como o que está no meu texto. Nós três queremos levar essa experiência ao mercado editorial de São Gonçalo e do mundo: uma editora que não tem medo de arriscar na diagramação e que tem um tratamento com o texto respeitoso e franco. Criamos uma rede que tem desde o serviço de mentoria, para auxiliar a própria escrita do texto, até a produção do lançamento do livro. Estamos, agora, trabalhando para desenvolvermos nossa cadeia de distribuição, já que sabemos que o meio de venda dos livros é extremamente voraz e injusto. Aliás, a justiça e a sinceridade que guiaram a escolha do nome da editora: pensamos em algo que representasse o que a arte é para nós (orgânica, verdadeira, justa, humana) e buscamos uma palavra no tupi, que traz essa carga de valorização da história de nosso território.
A editora tem objetivo de atingir autores independentes? Tem algum gênero ou público-alvo mais específico que é mais direcionado?
A editora está aberta a todo diálogo sobre publicação. Logicamente, queremos a sobrevivência do projeto, por isso precisamos de dinheiro. Mas queremos compor o catálogo oficial da ETÉ com obras que verdadeiramente colaborem para a difusão e a democratização do acesso a uma literatura consciente. Não estou falando somente sobre obras sociais, mas sobre a necessidade de o autor se debruçar sobre seu ofício, tendo consciência do que e como vai ser publicado. Nosso objetivo é pensar junto. Toda obra e todo autor podem nos procurar para um diálogo franco e aberto.
Quais os seus contatos para quem quiser entrar conhecer o escritor Jordão Pablo de Pão e a Editora ETÉ?
Para conhecer o que venho produzindo, pode acessar o meu site.
Para falar diretamente comigo, jordaopablo@gmail.com
Para conhecer o trabalho da ETÉ, pode acessar o site da editora.
Estou muito animado em poder partilhar experiências de publicação que tenham a cara do material do autor, e não apenas livros-formulário. Ah, e podem sempre me convidar para um café e bolo quente, de vó, com cheiro de casa. Gratidão pela oportunidade da entrevista.