(Fotos: Divulgação)
“Criei alguns universos embasados na nossa brasilidade. Assim passei a abordar temas como Brasil colônia, folclore, lendas urbanas e super-heróis nacionais”.
O nosso sétimo bate-papo com artista cultural é com...
Eberton Ferreira - É designer gráfico, editor e quadrinista independente. Atua no mercado literário desde 2015, quando lançou sua primeira revista impressa através de um selo editorial próprio (na época Fanzineston). Em 2017 foi premiado pela ABRAHQ (Academia Brasileira de Histórias em Quadrinhos) como melhor roteirista pela série “Causos” - sobre as origens do folclore com base em pesquisa histórica. Atua em feiras literárias percorrendo várias cidades da região sudeste (Rio / São Paulo / Minas). Realiza palestras sobre empreendedorismo e brasilidade no ramo de quadrinhos em escolas de ensino fundamental e faculdades. Atuou como produtor cultural auxiliando na elaboração do evento Nitcomics em 2019 na cidade de Niterói / RJ. É fundador do coletivo QG (Quadrinhos Gonçalenses), que visa incentivar as produções de HQs por artistas da sua cidade, São Gonçalo.
É CEO do Estúdio Ton, que oferece serviços de designer em geral, criação de personagens, desenvolvimento de roteiros, animação, dublagens, edição de vídeos e de áudios, elaboração de artes para social mídia, motion designer, ilustração, capas para livros, desenvolvimento de quadrinhos, coloração digital e consultorias de arte para empresas, além de agregar valores culturais através dos quadrinhos, incentivando o colecionismo e participando da formação de novos leitores.
Confira a entrevista com Eberton Ferreira
Você produz, cria, escrevendo e desenhando histórias em quadrinhos, que é uma literatura muito interessante e chamativa para todos os públicos, embora seja considerada por alguns como uma espécie de “literatura menor”. Como é a repercussão de suas obras?
Desde que eu me entendo por gente gosto de quadrinhos. Sou de uma geração que cresceu sendo incentivado a ler HQs e isso se enraizou em mim desde bem pequeno. Porém a iniciativa por criar minhas próprias histórias a partir do gosto pela nona arte, acho que é algo que nasce com a gente, aflorando em mim a partir dos 8 anos.
Já adulto e me inserindo no mercado nacional, criei alguns universos embasados na nossa brasilidade. Assim passei a abordar temas como Brasil colônia, folclore, lendas urbanas e super-heróis nacionais. Contudo, apesar do preconceito com relação à nona arte ainda ser forte (relembrando inclusive o episódio lamentável onde os “intelectuais” atacaram o Maurício de Sousa ao se candidatar a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras), tenho conseguido despertar muito o interesse dos leitores e a repercussão dos meus quadrinhos nas feiras literárias tem sido crescente.
Por quais experiências tem passado como criador de personagens, heróis e vilões, em tempos e adaptação para o cinema da Marvel?
Há um preconceito de parte do público que conhece os trabalhos nacionais, por achar que o gênero de super-herói não é culturalmente viável para o Brasil e, em contrapartida, também há a questão de que muitas criações são realmente mais do que inspiradas em produtos estrangeiros. O público está começando a entender sobre a questão de que o gênero super-herói não é exclusividade de um país ou outro, mas que faz parte da cultura mundial e que, se bem trabalhado, pode proporcionar momentos de diversão mesclados com conhecimento.
Os heróis nacionais têm uma longa estrada de publicações, apesar do fato não ser de conhecimento do grande público. No meu ver são tão importantes culturalmente quanto os personagens estrangeiros são para os seus países. Cada qual com a sua representatividade e de acordo com os períodos políticos, econômicos e sociais, claro que mesclados com as influências externas, mas tendendo a possuir suas próprias características.
Atualmente estamos tendo um novo boom do gênero aqui no Brasil, talvez influenciado pela indústria do cinema estrangeiro que vem evidenciando os personagens gringos já faz mais de uma década nas telonas... Prevejo, de forma otimista, que o mercado tenda a licenciar esses personagens nacionais para filmes, séries, animações e games.
Como escritor e quadrinista, quais obras já lançou? Você mesmo sempre desenhou suas histórias criadas? Como foram as experiências com a literatura por onde passou e com a recepção dos leitores?
Tenho quatro séries principais:
Causos (4 volumes e 1 livro mestre de RPG), onde narro as aventuras de um desbravador português e seu amigo indígena tupiniquim, onde investigam crimes brutais que irão se transformar nas origens do folclore.
Rede de Carne (2 volumes), onde o leitor se depara com um grupo de psicopatas atuando principalmente no Estado do Rio de Janeiro comercializando carne e órgãos humanos. Seus atos acabam originando várias lendas urbanas que conhecemos hoje.
Xamã (5 volumes) narram a história de origem de um super-herói indígena capaz de dar forma física aos espíritos da Terra e de ser o próprio Folclore encarnado.
Os Se7e (saga completa com 7 volumes) é considerado o maior crossover nacional, mostrando o encontro entre 161 personagens pertencentes ao universo de super-heróis BR.
Em algumas das minhas séries eu faço desde as pesquisas, roteiro, arte, arte-final e edição. Em outros casos alguns artistas colaboram com suas artes para que eu consiga produzir as revistas com mais agilidade.
Antes da pandemia (novo coronavírus/Covid-19) eu estava em tudo quanto era evento... Sejam os de pequeno, médio e grande portes. Do tipo anime, geek ou literário lá estava eu atrás de uma mesa ou em um estande vendendo meus quadrinhos para pessoas ávidas por conhecerem novidades. Porém com a pandemia nos “restringimos” e recorri às redes sociais utilizando de meios próprios para criar um engajamento maior, convertendo as vendas em sites de financiamento coletivo e no site do meu estúdio. Atualmente uso ambas as experiências para continuar tendo contato com a literatura e com o público.
Seu público principal são os adolescentes e jovens ou os adultos também curtem suas obras, já que não são fechadas para essa faixa etária? Quais os próximos projetos, seja como escritor ou editora?
Em primeiro lugar eu adoro a nossa mitologia. No período em que iniciei minhas criações com quadrinhos, por volta do ano de 2010, o folclore brasileiro passava por longo hiato... Estava realmente abandonado! Então senti a necessidade de mostrar para o público que nossas raízes culturais não são somente destinadas ao público infantil, pelo contrário, nossas criaturas surgiram dos causos de terror contados ao redor de fogueiras nos interiores e quis fazer esse resgate apresentando aos jovens e adultos o gênero com nova roupagem.
Em relação aos projetos, estou desenvolvendo as continuações das minhas principais séries (“Xamã”, “Rede da Carne” e “Causos”) ao mesmo tempo em que trabalho paralelamente em outras histórias. Todo ano promovo campanhas de lançamentos no Catarse e para saber das novidades basta ficar ligado nas minhas redes sociais.
Quais os seus contatos para quem quiser conhecer mais de perto o Eberton Ferreira, escritor e editora?
Todas as minhas redes sociais, sejam a do artista Eberton ou do selo editorial Estúdio Ton, estão disponíveis aqui.