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Olhar Pop

Cláudio Alcântara

claudioalcantaravr@hotmail.com

Outra Fase

Douglas Malharo se dedica ao seu terceiro CD

Cantor e músico faz show neste sábado, na festa de aniversário de 1 ano do restaurante Dom Malharo

Entrevistas  –  04/04/2014 19:03

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(Fotos: Divulgação)

"Hoje me dou ao luxo de tocar somente em locais
que valem a pena como teatros, por exemplo"

Doze anos se passaram desde que Douglas Malharo saiu de Volta Redonda e retornou a Minas Gerais. Atualmente, dedica-se ao seu terceiro CD, cuida com seus sócios das empresas Studio Pilates Zen (no Rio de Janeiro) e Restaurante Dom Malharo (em Minas Gerais), que completa 1 ano neste sábado, 5. Suas sócias são Djanira de Paula e Paula Andree. É também o idealizador do projeto que beneficia inúmeras pessoas, o "Sopa, Roupa e Sonhos", que existe há sete anos com ajuda de parceiros.

Com 22 anos dedicados à música (sendo dois deles morando nos EUA), Malharo foi secretário de Cultura em sua terra natal, Santa Rita de Jacutinga (MG), diretor artístico por mais de cinco anos do Lapa 40 Graus, fez formação acadêmica em produção fonográfica (Faculdade Estácio de Sá), cursou na Faculdade UniRio (Tepem I, II e III), fez produção de shows e eventos (IATEC), cursos de empreendedorismo (Empretec - Sebrae), harmonia e percepção (Cigam), oficina de arranjo (Ian Guest) e Formação em guitarra (IMRV e Danbury Music Hall - CT NY USA). 

Veja uma apresentação do artista

Confira a entrevista com Douglas Malharo 

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"Já cheguei a dar uma força para alguns artistas da região,
mas o feedback deles não é de troca e sim cada um por si"

Quanto tempo faz que você está fora de Volta Redonda? Por que resolveu sair da cidade?

Como o tempo passa rápido... Faz 12 anos desde que resolvi fazer faculdade de música no Rio, além de outros cursos nessa área. Sempre achei a veia artística de Volta Redonda muito forte em relação à música. Mas devido ao meu estilo único de tocar e nunca tocar a música igual ao compositor, acredito ter sido visto como "o diferente" por todo o tempo de estadia em Volta Redonda, afinal, sou de Minas Gerais. Na época, nos bares da região eram muito segmentados da música pra dançar (duplas como Julinho & Gutemberg, Tony Madeira e Figurótico etc. faziam o maior sucesso ) e eu já compunha e curtia música para apreciar. Quando minha versão de Tom Jobim começou a tocar na única rádio de MPB da região, a 96 FM, aí que as coisas ficaram mais complicadas em relação ao ciúme da classe. Devido a esses e outros aspectos, resolvi me dar oportunidade de começar do zero no Rio, para a minha sorte, pois se todos apoiassem, estaria até hoje nos bares da vida, que realmente é um ambiente onde não cabe mais em minha concepção de felicidade. 

Como foi essa experiência? E como tem sido a receptividade do público ao seu trabalho fora de Volta Redonda?

Nos primeiros dois anos no Rio era complicado, tinha de voltar para a região aos fins de semana para tocar, pois no Rio o mercado não te recebe de braços abertos. Daí comecei a tocar em outras cidades, como Angra dos Reis, Barra do Piraí e shoppings do Rio. Depois de voltar dos shows no exterior por sete meses e depois mais seis, investi em equipamento e comecei a entrar em projetos no Rio, como o Outrossim, na época do compositor Jorge Vercillo, mais matérias no interior e mais distante ficava a volta, a vida no Rio era dura, mas muito prazerosa e de bons conhecimentos. A receptividade foi aumentando ao ponto de tocar em todos os shoppings e vários bares que se interessavam por uma música especial e sempre reinventada pelo artista. 

Como está seu repertório base hoje em dia? Cite algumas canções que são muito bem recebidas pelo público. Quantas músicas em média você faz por noite? Aceita pedidos do público ou seu repertório vai fechadinho? 

Na verdade não mudei quase nada em relação às versões da MPB, claro que minha técnica se fez maior após 22 anos de música. Hoje me dou ao luxo de tocar somente em locais que valem a pena como teatros, por exemplo. Devido minhas duas empresas, que paralelamente construí com minha família e minha mulher Djanira de Paula no Rio, há 11 anos, e o restaurante em Minas Gerais, Santa Rita de Jacutinga, 40 minutinhos de Volta Redonda (estamos comemorando seu primeiro aninho), me dou esse luxo de selecionar os locais onde quero me apresentar. Nunca aceitei pedidos do público, até porque não costumo escutar rádio e sempre me inspirei nos vinis que coleciono e isso me eliminou de certos bares, mas sempre me viram como um artista e não um músico qualquer, isso vale toda a trajetória. Já me considero vitorioso por estar até aqui hoje e tudo que veio da música, e ainda há muito por vir. 

De que forma a sua música mudou? Como você lida com ela hoje em dia? Esse amadurecimento foi tranquilo?

Minha música é uma grande mistura de tudo que escutei e selecionei como diretriz e nesse aspecto eu sou bastante eclético. Como no início era somente guitarrista de bandas, isso me levou a escutar muitos instrumentais e artistas solo apurando a harmonia. Se falando de composições, vou de Cartola, Djavan, passando pelos grandes poetas da atualidade como Vander Lee, e sem contar a fase de ouro do pop, como Lulu, que faz anos que não compõe nada de bacana ao meu ponto de vista. Hoje em dia lido com minha música de uma forma bem prazerosa, afinal, a leitura entrou em minha vida nos últimos dez anos e, devido também ao bom relacionamento de 18 anos com minha mulher, os temas sobre amor são infinitos e o amadurecimento de cada dia é o que se torna o real significado da palavra amor. 

Mudou o seu gosto musical? Ou mudou o gosto do público?

Nunca mudei meu gosto musical, mas nunca tive ídolos, escutei e sempre tirei o que achava bacana de todos os artistas. Realmente não tenho preconceito com nada, escuto, relevo e o que mais me interesso é pela vida e trajetória da pessoa, isso é o que fica pra sempre, a fama passa rápido, mas a batalha e o brilho nos olhos ficam pra sempre. 

Que análise você faz do cenário musical nacional e internacional hoje em dia?

Estou bastante preocupado, afinal, tudo está se transformando em algo descartável... E com isso o ser humano perde a oportunidade de evoluir através da arte, não digo somente no aspecto de música, mas em todos os sentidos. Hoje em dia, a arte que mais me chama atenção são as representações dos atores cada vez melhores, mas em relação aos artistas acredito que a fama e o lado financeiro estão deixando todos muito perdidos, e não acho que isso seja culpa da mídia. Minha única referência de hoje é o Djavan, que raramente está na TV e imagino que esteja mais perto da natureza. O único artista o qual compraria um CD hoje seria o dele, pois é minha referência até esse momento.

Curto muito ficar sozinho e longe do mundo nos momentos de folga, acho tudo muito chato no meio artístico, muito mesmo. Afinal, fiquei durante quase seis anos como diretor artístico de umas das casas mais famosas do Rio (Lapa 40 Graus) e foi desesperador a forma que assisti à música nos bastidores. Tudo muito falso e momentâneo, muito triste, música assim não funciona em minha trajetória. 

Mesmo de longe, você acompanha o que anda rolando aqui em Volta Redonda no que se refere à música? Qual o seu ponto de vista sobre o que temos hoje?

Como disse, sempre achei o nível artístico bem bacana na região sul fluminense, mas o que vejo são mais e mais artistas só pensando em colocar mais gente pra dançar apenas com letras chiclete e vazias, e essa não é muito minha praia em relação à arte. Já cheguei a dar uma força para alguns artistas da região, mas o feedback deles não é de troca e sim cada um por si. Muito triste esse posicionamento, a maioria se acha super estrelas intocáveis. Imagina depois da fama... A arte perde com isso... Somos todos tão pequenos ainda perante o todo, não devemos nos supervalorizar mais do que um médico ou professor das escolas, não curto artista que se sente "o todo poderoso" (risos). 

Pensa em voltar a fazer shows aqui?

Sim, em lugares e projetos que admiram o artista e não a pegação, a cerveja, as modas. 

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Dom Malharo fica em Santa Rita de Jacutinga, 40 minutos de Volta Redonda

Como nasceu a ideia do restaurante? E o que você preparou para a festa de 1 ano?

Cozinho desde os meus 10 anos. Devido à batalha da minha mãe como professora, tinha que cuidar da minha irmã e sempre ajudei nos afazeres domésticos e com isso, o cheiro, as lembranças da infância me fizeram me aproximar da culinária, fazendo cursos. É uma forma de relaxar, pois cozinha é amor. Nela você pode envenenar uma pessoa ou levá-la até perto de Deus, assim como a música. Eu agradeço a Deus todos os dias por poder sentir o cheiro, o gosto, o prazer dos alimentos e principalmente por poder comprar e degustar o que imagino naquele dia. Existem muitos ainda passando fome no mundo. Nos alimentarmos de forma digna é acima de tudo uma benção. Daí surgiu o Dom Malharo, um local feito pra família e para a arte no meio do verde. A surpresa? O Dom tem pratos especialmente elaborados por mim e que fazem parte do seu menu, são preparados com muito amor, de forma bem artesanal ainda. 

Projetos. O que vem por aí?

Estou compondo músicas para o meu terceiro CD. Curtindo os mais de dez anos do Pilates, curtindo o primeiro ano do Dom e tendo uma qualidade de vida que sempre sonhei em relação a valorizar o que realmente importa.

Depois de trabalhar como secretário de Cultura e Turismo em 2013 em minha cidade natal, resolvi deixar o cargo por não ter tido carta branca nos meus sonhos para o povo de lá. Em 2017 estarei de volta para ajudar de uma forma mais estratégica e menos poética em relação à política, afinal, me deu tanto prazer quanto estar em cima do palco. Poder ajudar e ver nos olhos a coisa linda que pode ser a política. A politicagem é que acaba com os sonhos... E politicagem eu não topo, afinal, somos todos iguais e sempre seremos.

Serviço

> Douglas Malharo - Faz show dia 5 de abril, às 21h, no Dom Malharo. Visite o site do artista.

Edição impressa

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Por Cláudio Alcântara  –  claudioalcantaravr@hotmail.com

1 Comentário

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  • Andrea Narciso

    Ele canta muito merece muito sucesso!!!