(Foto: Divulgação)
“Se eu fiquei milionário com poesia? A resposta é:
Sim. Milionário da graça das musas...”
Toda palavra sobre Mano Melo que eu queria escrever nesta epígrafe já foi dita por grandes admiradores e colegas de profissão e fé na vida. Basta o leitor pesquisar na internet ou ter as sortes que tive: Primeiro conheci seus poemas, as famosas criaturas, e no momento certo conheci o criador. Fui muito bem recepcionada por ele no seu trabalho e em sua casa. Derrubei os mitos de que os grandes gênios são inalcançáveis ou “difíceis”. Toda obra que você conhece, ou a partir de agora vai passar a conhecer, desse grande artista poderá constatar que não são gratuitas e sim verdadeiras de sentido.
Quem chegou primeiro? A estrada ou o poema?
- Elisa, creio que a poesia, mas é difícil separar, porque a poesia é a própria estrada.Quando fiz estas viagens físicas, foi um período de jogar fora bagagens acumuladas e experimentar novos conhecimentos. De uns tempos pra cá, como a motivação maior de viajar é o trabalho, então existe este orgulho e este impulso de levar meus poemas para plateias distantes, espalhar as palavras pelo mundo, ao vivo e a cores. O que é sempre muito gratificante.
Autores e influências...
- O autor que mais me influenciou, durante certa época, foi Pessoa. Ainda hoje leio muito ele. Mas depois de certo estágio as influências ficam incorporadas, nos libertamos, ganhamos nosso próprio estilo. Porém, ler Pessoa é sempre muito estimulante. Sou Pessoano de carteirinha, desde menino.
A primeira vez e voz...
- A primeira vez que falei para uma plateia foi ainda pré-adolescente, num desses programas de auditório de rádio que haviam na época. Entrei num concurso e ganhei primeiro lugar. Daí, sempre que tive oportunidade, não desperdicei.
Você acha que os saraus são bons motivos para se formar leitores?
- É um bom motivo, sim. Aglutina pessoas. Tem também o lado social, de trocar ideias, conhecer pessoas, a parte da festa, que também é muito importante.
Talento rima com vaidade?
- Todo artista é um tanto pavão, né? Claro que quando fechamos um poema e sentimos que existe alguma beleza ficamos envaidecidos. E quando nos apresentamos no palco e sentimos que as palavras tocaram o público também nos envaidecemos. Isso é natural e saudável. Agora, tem artistas que se deixam inflar demais, por isso ficam se achando. E quem se acha vive se perdendo...
Um escritor pode sobreviver sem editora?
- Creio que sim. As editoras no Brasil estão cada vez mais concentradas em multinacionais. Portugueses e espanhóis estão comprando tudo, mas agora eles estão em crise e se ferraram. Eles investem a preço de ouro em best sellers internacionais e todo o marketing é feito em cima disso. Para um autor brasileiro, o lucro é 10% sobre o preço da capa, 40% é da livraria, 50% é da editora. Muito mais lucrativo é fazer edição por conta própria e vender no corpo a corpo. Você perde em propaganda, em divulgação. Para mim, é menos problemático porque vendo em shows. Não sei como é com poetas que não utilizam esse recurso. Veja a lista dos mais vendidos publicados em jornais. Categoria ficção, quase 100% é de autores internacionais. De vez em quando surge um Paulo Coelho ou um Veríssimo. Brasileiros que estão vendendo muito são os que escrevem autoajuda.
A pergunta que nunca te fizeram e você acha que ainda vão te fazer?
- Se eu fiquei milionário com poesia. A resposta é: Sim. Milionário da graça das musas...
Você está preparando mais alguma obra?
- Amanhã recebo a visita de um editor que quer lançar um livro 50 poemas escolhidos pelo autor. Creio que vai dar pé. É uma editora pequena, a Sapere, de um amigo entusiasta de poesia.
- Como admirador de Fernando Pessoa, você concorda que realmente o poeta é um fingidor?
- Creio que isso é apenas um recurso poético de Pessoa. Mas o poeta trabalha essencialmente com dois elementos: memória e imaginação.
Serviço
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