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Alessandra Tubbs conta um pouco de sua ascendência cigana

Bailarina trabalha para desmistificação da cultura romá, dançando em praças e no zoológico; tem projeto de realizar um festival de dança, onde os protagonistas sejam os artistas de VR

Entrevistas  –  03/05/2015 11:41

Publicada em: 20/04/2015 (14:57:20)
Atualizada em: 03/05/2015 (11:41:56)  

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(Foto: Divulgação)

"Luto contra essas pessoas que colocam uma roupa cigana,
dizendo que dançam, mas de forma errada sem respeito à cultura"
 

> Alessandra Tubbs ganhou o Prêmio OLHO VIVO 2014/Categoria Dança
> Alessandra Tubbs divulga a cultura e danças ciganas na região

A incrível capacidade bem intencionada que o ser humano tem de assimilar outras culturas é que faz seu mapeamento comportamental um assunto muito interessante de ser conhecido. Alessandra Tubbs mantém o respeito por sua ancestralidade por meio da dança e conta pra gente um pouco de sua interessante ascendência cigana. Conheça mais o universo desta artista de A a Z. Confira! 

. Alessandra, existe um nome correto para a "dança cigana"? 

Na verdade o termo certo para cigano é Rom, que significa homem em romanês ou simplesmente chamá-lo pelo clã (Rom, Calon, Sintó). No caso da dança, seria dança romani. O Comitê Cigano Internacional organizado em Londres, em 1971, o I Congresso Mundial Romani, com delegados de 14 países, recebendo a colaboração do governo da Índia e do conselho mundial de Igrejas; nele, o termo genérico cigano foi rejeitado, passando a ser substituído pelo termo Rom. Assim, o Comitê Internacional Cigano passou a denominar-se Comitê Internacional Rom. Outras organizações nacionais e internacionais seguiram o exemplo. Uma resolução do Congresso condenou o uso de "todos os rótulos criados" para o nosso povo, com, por exemplo, "cigano", "zingeuner", "tsigan" etc. Além de uma bandeira e um hino internacional "Djelem Djelem". Nesse congresso, mais uma vez tratou-se da questão da indenização do Holocausto dos ciganos, mas o governo alemão se isentou da responsabilidade indenizatória, repetindo a afirmação absurda de Whrttemburg em 1951. 

. A história lá no começo... 

A cultura cigana teve sua origem na Índia, estudos científicos (mapeamento do DNA cigano) apontam que vieram da Índia, de um lugar conhecido como Rajasthão, que fica no deserto de Thar - Norte da Índia. Sua migração começou da Índia para a própria Índia, com os estudos avançados de mapeamento gênico, temos uma nova explicação para a migração cigana, dois grupos migraram, os dois foram para o norte da África (Egito) e de lá um grupo foi para a Europa pela Turquia e o outro grupo chegou a Europa pela península Ibérica. Durante essas migrações, algumas famílias sedentarizaram, outras continuaram a ser nômades. Essa é a grande questão para se entender a diversidade da cultura cigana. Cada país que eles passavam absorviam a cultura local e continuavam sua migração ou não. 

. A paixão pela dança. 

Minha paixão pela dança veio da minha mãe e minha tia que já dançavam, a dança é passada de geração para geração. 

. Inspirações para criar. 

Inspiro-me no cotidiano. Atualmente meu filhote, minha família tem sido minha inspiração! Gosto de trabalhar na natureza, o silêncio da mata me transcende e faz meu cérebro fervilhar de ideias! 

. Como é vista a arte cigana no Brasil? 

Vivemos num momento muito delicado, pois já não bastassem todos os preconceitos que os ciganos sofrem ainda tem sua cultura roubada e modificada. Na Região Sudeste, principalmente, temos de um lado (a maioria) grupos de não ciganos usurpando a cultura cigana, inventando uma cultura que não existe, visando sempre o lucro. Ganham muito dinheiro em rituais e danças que não existem. Do outro lado (a minoria), grupo de não ciganos (descendentes) ou ciganos que se preocupam com a etnia, preocupam em desmistificar a cultura e passá-la de forma correta.

Uma pessoa que não conheça a cultura e a dança cigana fica vulnerável a conhecer o lado errado, e tirar conclusões erradas. Aqui em Volta Redonda luto contra essas pessoas que colocam uma roupa cigana, dizendo que dançam, mas de forma errada sem respeito à cultura. A dança é pouco valorizada no Brasil, eu mesmo trabalho com a dança e cultura cigana sem patrocínio ou qualquer incentivo financeiro, tanto do setor privado, quanto do público. 

. Projetos futuros. 

São vários projetos: Quero continuar meu trabalho de desmistificação da cultura romá, dançando em praças e no zoológico. Quero ir à Romênia estudar a fundo a cultura cigana Romena e quero montar um festival de dança, onde dê preferência aos artistas da cidade, pois os outros festivais particulares que aconteceram não deram espaço aos artistas da cidade, preferiram chamar artistas do Rio e do litoral sul fluminense. 

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De A a Z
 

Agradecimento - A Deus e a minha família. Sem eles não conseguiria fazer nada! 

Beleza - Apreciar e admirar as pequenas coisas, como uma borboleta saindo do casulo. 

Criatividade - Ter a mente aberta, estar em comunicação com o cosmo. 

Dança - Minha essência, minha vida! 

Esperanças - Força que move cada indivíduo. 

Filhos - Fonte de inspiração e amor! 

Gênese - Minha família descende dos ciganos Romnichals (ciganos oriundos da Irlanda - Reino Unido). O sobrenome Tubbs é cigano. Meu trisavô veio para o Brasil fugido das perseguições no Reino Unido e lutou na Guerra da Cisplatina no Sul do Brasil, onde ganhou terras no Rio Grande do Sul, parte da minha família ainda mora em Gravataí (RS). Duas gerações depois, meu avô veio para o Rio de Janeiro e constituiu sua família aqui. Sou casada com meu primo em quinto grau, o que torna fácil manter as tradições ciganas e passá-las para o meu filhote. 

Hábitos - Necessários, precisamos dele para executar tarefas simples do dia-a-dia. 

Inteligência - São habilidades e competências. Cada indivíduo tem a sua. 

Justiça - Os ciganos, no Brasil, deveriam ter seus direitos de cidadão respeitados. Vejo vários casos, como o que aconteceu recentemente em Minas, que queriam tirar a neném da mãe cigana porque ela não sabia trocar as fraldas. 

Lugar - Meu lar com minha família, seja ele onde for. 

Momento inesquecível - A maternidade. 

Natureza - Grande mãe nos acolhendo e ofertando energia. 

Orgulho - De ser uma Fettermann Tubbs, de ser descendente de ciganos. 

Prêmio OLHO VIVO - Uma grande iniciativa para divulgar os artistas da região. A partir do prêmio pude conhecer pessoas maravilhosas e prestigiar vários artistas da região. 

Quiromancia - Tradição, as ciganas vão à rua para fazer a drab (leitura das mãos) e o dinheiro que elas recebem é para ajudar nas contas de casa. 

Religiosidade - Individualidade, cada cigano tem sua religiosidade, respeitando suas tradições. 

Sabedorias - Ouvir histórias e conhecimentos dos mais velhos. 

Tempo - Relativo, depende do seu estado psicológico. 

Urgências - São prioridades que cada indivíduo deve ter, no meu caso, educação e base familiar para o meu filho.

Viagem - Renovação de energia. Precisamos nos mover, sair da inércia, de forma a reciclar conhecimentos. 

Xodó - Receber um carinho do meu marido ou do meu filho. Ter amizades sinceras e duradouras. 

Zzzzz - Me dá sono pessoas que se dizem totipotentes, ou sejam, sabem tudo. Cada um desenvolve habilidades e competências que lhe trazem prazer. Não sabemos tudo, aprendemos o tempo todo. 

> Contato: companhiaalandalus@gmail.com

Por Elisa Carvalho  –  elisacarvalho.br@gmail.com

1 Comentário

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  • Márcia Vieira de Aguiar

    Parabéns Alessandra! Com Vc aprendemos sobre a verdadeira Vida do Povo Cigano, nos apaixonamos pela Dança...Vc nos inspira a cada apresentação...nos proporciona momentos que ficarão p/ sempre marcados em nossas vidas... Vc merece nossos aplausos!!! Obrigada!!!