(Foto: Divulgação)
"Música e literatura são dois galhos da mesma árvore; a palavra é muito
importante pra minha música e o ritmo é muito importante pro meu texto"
Roberta Vitorino
Humberto Gessinger, que durante anos foi o líder e vocalista do Engenheiros do Hawaii, contrariou a máxima de que roqueiro bom morre jovem, ou passa a vida cantando as mesmas músicas, sem inovar. Aos 51 anos, ainda não teve escrita sua biografia como a de muitos músicos de sua época, mas virou escritor e escreve sobre si (nos livros, blogs, Twitter, Facebook), teve a capacidade de se reinventar, compõe sem parar, faz novas parcerias, ousa em novos instrumentos. Por isso, além dos que acompanhavam a antiga formação dos Engenheiros do Hawaii, Humberto traz pros seus shows um público novo. Em Volta Redonda, apresenta nesta sexta-feira, 29, "Insular", no Porão Hall, após 30 anos de estrada. No show, Humberto toca baixo, teclados, acordeom, guitarra e harmônica, acompanhado por Rafa Bisogno na bateria e percussão e Esteban Tavares na guitarra e violão. O show promete músicas dos Engenheiros, Pouca Vogal e do recente "Insular". Em entrevista por e-mail ao OLHO VIVO, ele diz que "a sensação de tocar para a galera de várias gerações nos quatro cantos do país é a melhor possível". Afinal, os fãs sabem, Humberto é uma ilha, "há ilhas e milhas daqui".
Confira a entrevista com Humberto Gessinger
Vou começar falar sobre uma característica sua que é bem interessante, que é o contato que você tem com os fãs através das mídias sociais, através de Twitter (twitcams), Facebook e seu blog. Como isso foi se estabelecendo e quais os benefícios disso tanto para você quanto para o fã? Essa foi uma forma que você encontrou de enfrentar o mercado e se aproximar desse novo público mais jovem e antenado de outra forma?
Olhando em retrospectiva, eu vejo que mesmo antes de ter estas ferramentas digitais à mão eu já era assim. Buscava uma conexão mais direta com que está realmente interessado na minha arte/ofício. As novas ferramentas só facilitaram o que eu já fazia. Falo direto para quem tá interessado na minha arte/ofício. Lanço meus discos, livros DVDs quando quero e como quero. Tenho vários parceiros para cair na estrada, possibilidade de vários formatos. Um número maior de pessoas começa a entender qual é a minha onda... Isso é muito bom. É natural que a música rompa barreiras de tempo e espaço, mas às vezes a gente esquece disso, né? A sensação de tocar para a galera de várias gerações nos quatro cantos do país é a melhor possível. É o que me faz seguir na estrada.
Como é o Humberto na intimidade com os fãs? É difícil lidar com o assédio? Isso causa um desconforto?
Acho que é um sinal de respeito em relação ao fã não tentar bajulá-lo, fugir do agrado fácil, manter-se fiel às intuições artísticas. Eu como fã, não quero que a prioridade dos meus ídolos seja me agradar. Quero que eles façam o som que o coração mandar, correndo riscos. Obviamente agradar é ótimo, mas que seja consequência de uma busca interna e pessoal. Mas tenho tido sorte, a galera que me acompanha entende as explorações de terreno artístico que faço.
Como é seu processo de composição? Deve ser bem natural, acredito, até porque você sempre improvisou bastante durante os shows nas próprias músicas, mudando letras na hora do show. Muita leitura? Lê basicamente o quê? Como surgiu o Humberto escritor?
Composição não respeita calendário. Por sorte, ideias pintam em qualquer lugar. Eu sempre tive bom poder de concentração, um bom ouvido para a voz interna por mais barulhento que esteja o ambiente externo. A palavra escrita é anterior à palavra cantada na minha vida. Escrevo desde sempre. sempre gostei muito de ler e escrever. Por isso a transição de disco para livro foi natural. Música e literatura são dois galhos da mesma árvore. A palavra é muito importante pra minha música e o ritmo é muito importante pro meu texto.
Sei que suas influências foram e são muitas, mas destaque as principais e mais importantes durante sua carreira.
Na música, tendo a apreciar mais o viés da composição. Caetano, Chico, Gil, Joni Mitchell, Roger Waters, Dylan… Nas letras, meus ídolos são mais dispersos, ainda não consigo enxergar influências muito diretas.
Você se enxergou como ídolo de uma geração? E se enxerga como referência, quando canta e leva uma mensagem através de uma música?
É sempre misteriosa, subjetiva, a relação com o público. Prefiro não analisar muito. Sou imensamente grato por esse carinho. Não penso no público como "consumidores" e não me vejo como um "produto". Talvez este seja um dos motivos da fidelidade e da renovação. Só tenho a agradecer sempre que me lembro de quanto carinho recebi e continuo recebendo do público, quando penso na chance que tive e tenho de tocar com músicos fascinantes.
Uma pergunta talvez polêmica: Como foi a relação dos Engenheiros do Hawaii e do Humberto com as outras bandas de sucesso dos anos 80/90 como Legião e Capital Inicial (entre outras)? Não parecia haver afinidade (embora vocês tenham participado de um Tributo a Renato Russo anos depois). Era por conta de regionalismo, de comportamentos diferenciados ou influências (ou de tudo um pouco)?
Acho que cada artista, com sua obra, cria um mundo próprio, uma ilha. O bacana é conectar estas ilhas, criar pontes entre elas, sem que cada ilha/artista perca o que tem de mais particular. Fazemos parte da mesma geração da MPB, da qual me orgulho muito.
Sobre "Insular", que dá nome ao DVD e a turnê, o que os fãs de Volta Redonda podem esperar do show? Como é feita a montagem do set list?
O DVD é a base do repertório. Tocaremos as músicas que estão nele, as gravadas no show de BH e as gravadas na serra gaúcha. Além dessas, rolam alguns clássicos da minha carreira. Comigo, no palco, estarão Rafa Bisogno (bateria) e Rodrigo Tavares (guitarra) e a mesma estrutura de cenário e luz da gravação em BH.
Sobre as recordações guardadas durante os anos na estrada, há alguma de Volta Redonda? Ou espera levar alguma melhor do próximo show?
Sempre foram muito legais as passagens por Volta Redonda. Sou muito grato pelo carinho e espero que se repita.
> Porão Hall - Rua Miguel Couto Filho, 12, no Jardim Amália I, Volta Redonda.