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Olhar Pop

Cláudio Alcântara

claudioalcantaravr@hotmail.com

Obras Subjetivas

Steven Julie, do neoconcretismo a características abstracionistas

Arquiteto e artista plástico de Piraí participa da 15ª Galeria Rio Sul

Entrevistas  –  09/06/2015 13:34

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(Fotos: Divulgação)

Em "Melancolia num dia frio" Steven mistura elementos, como os retângulos cinzas bem definidos,
com outros de traços mais livres, quase figurativos, porém estilizados e até mesmo geometrizados
 

> Confira o roteiro com as exposições que podem ser vistas na região

Steven Julie busca a contemporaneidade, porém vê em suas obras uma forte influência do neoconcretismo, com características abstracionistas, elementos geométricos, linhas rígidas e traços bem definidos, por vezes volumétricos. As inspirações são em artistas não só neoconcretistas como Lygia Clarck, Hélio Oiticica, Luiz Sacilotto, Volpi, Willys de Castro, Arcangelo Ianelli, Richard Serra, entre outros. Uma de suas obras, "Melancolia num dia frio", foi selecionada para a 15ª Galeria Rio Sul.

- O objetivo do evento é valorizar e divulgar o talento e a criatividade dos artistas da região, o tema este ano foi livre. Foram mais de 130 obras inscritas e uma comissão de curadores escolheu as 14 vencedoras entre quadros e esculturas. Os artistas selecionados, que vieram de diversas cidades do sul do estado, receberam troféus - diz o artista plástico que não se considera autodidata.

Ele explica que em sua formação acadêmica há cadeira que favorece o desenvolvimento das artes plásticas no profissional de arquitetura, e muitos se dispõem a dar continuidade, mesmo depois de formados.

- Toda obra é subjetiva e necessita do tempo certo para ser maturada e concretizada, porém na mente do artista nunca há apenas uma tela ou obra. O caminho entre o campo dos sonhos até a moldura é longo e passa por etapas como textualização da obra, rascunhos, testes com materiais e técnicas diferentes e nem sempre existentes, entre outras. Então o tempo de uma obra depende e varia devido inúmeros fatores, assim como há obras que podem nunca ser consideradas acabadas, dependendo da visão do artista - argumenta.

Em "Melancolia num dia frio" ele mistura elementos, como os retângulos cinzas bem definidos, com outros de traços mais livres, quase figurativos, porém estilizados e até mesmo geometrizados.

- Tecnicamente tento posicionar os elementos de acordo com a regra de composição dos terços (linha do horizonte, árvore e figura humana) e guiar o olhar do observador de acordo com o sentido de leitura ocidental, atraindo o olhar da esquerda para a direita até o ponto de interesse focal do elemento vermelho. Emocionalmente pode ser que o observador interprete que a obra transmita melancolia, dor interior e solidão com a representação de uma área cinza claro que pode significar um céu nublado, um elemento que pode representar uma árvore seca sem folhagens no inverno sobre um solo plano, podendo transmitir sensação de aridez, uma única figura de características humanas, porém estilizada e geometrizada, que pode sugerir a solidão. E toda sugestão de movimento presente na obra vem dos traços que podem significar folhagens soltas e um lenço vermelho sugerindo ação agressiva de vento frio. Mas perceba que meu discurso foi por inteiro sugestão, pois todos esses elementos e sensações podem ser adversos devido à interpretação diferente de cada observador.

Steven Julie conta que percebe a veia artística em vários integrantes de sua família, embora nenhuma delas foi desenvolvida, devido vários fatores sócio/culturais e geográficos. Mesmo assim, teve o primeiro contato com as artes ao ganhar uma coleção de livros com técnicas de desenho e pinturas aos 10 anos que muito o auxiliaram na técnica do "aprender a olhar" e posteriormente em sua formação profissional e artística.

- Antes de ser artista, sou arquiteto, mas não há como desvincular questões como estética, proporção e composição presentes em ambas as profissões, então acabam se entrelaçando de alguma forma. Mesmo tendo participado de aulas de História das Artes no MUBE-SP e ser um curioso sobre o assunto, minhas obras nada mais são do que resultado do exercício dessas questões em bases diferentes das fornecidas e praticadas pela arquitetura. Embora tenha participado de alguns eventos musicais de prestígio, como o Encontro de Corais de São Lourenço, enquanto acadêmico junto a um grupo de vocal erudito, esse lado artístico foi pouco desenvolvido. Porém, além da arquitetura e artes plásticas me atrevo dizer que me arrisco na literatura e possuo alguns textos, acrósticos, poemas e poetrixes que podem ser apreciadas em minha página

Confira a entrevista com Steve Julie 

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"O caminho entre o campo dos sonhos até a moldura é longo e passa por etapas
como textualização da obra, rascunhos, testes com materiais e técnicas diferentes" 

A ideia de se inscrever para participar da exposição da TV Rio Sul foi de pronto, assim que ficou sabendo? Ou precisou amadurecê-la?

Como tinha minhas obras, até aquele momento, no patamar dos hobies, mesmo com críticas favoráveis de amigos do meio, foi uma grata surpresa minha seleção para o evento ao qual me inscrevi nos útlimos momentos do prazo em edital, na noite do ultimo dia. 

Ser selecionado para a exposição vai mudar de forma sua relação com as artes plásticas? Pensa em se dedicar com mais tempo? Em desenvolver trabalhos para uma individual?

Sem dúvidas a premiação mudou o modo que me relaciono com meu trabalho, me incentivando a buscar mais profundamente nesta vertente e transformando meu ponto de vista à minha produção artística, desta forma me sinto mais comprometido no desenvolvimento de uma produção maior. Ter o reconhecimento do trabalho é a meta de qualquer profissional, e uma mostra individual sempre é o objetivo de um artista. Embora o reconhecimento e as críticas positivas estejam acontecendo cada dia com maior frequência, acredito que minha obra precise de amadurecimento e maior desenvolvimento, que somente o estudo, a prática e produção podem fornecer, e estou disposto a isto. 

Como é o seu processo criativo? Dedica um tempo para isso, no sentido de disciplina? Ou quando surge a inspiração?

As imagens surgem em momentos dos mais inusitados, um passeio pela rua, uma conversa com amigos, até mesmo uma cena na TV pode se tornar uma ideia para uma obra, por isso é sempre importante estar com um pequeno bloco de anotação e lápis a mão, mas só começo uma obra quando já tenho a ideia e posso ficar dias sem pegar no lápis. Como venho das "exatas", sou um tanto perfeccionista e chego a me frustrar quando algo não sai como previsto. 

Conhece os trabalhos dos artistas locais? Gosta de algum em especial?

Como me mudei para a capital paulistana quase recém-formado, minha afinidade com a cena artística da região sul fluminense ficou comprometida, porém admiro muito as obras do artista também premiado em edição anterior da Galeria Rio Sul chamado Daniel Mariano e suas telas contemporâneas e coloridíssimas com figuras da cultura pop, e claro não posso deixar de citar minha mentora e responsável por me apresentar ao mundo das artes, a escultora carioca Márcia Tunes, residente há 26 anos em Piraí. 

A questão dos espaços para expor. Como você analisa, regionalmente falando? E em Piraí, sua cidade?

Entre as cidades do Vale do Paraíba, erguidas durante o Ciclo do Café, Piraí, antiga vila de Sant´Anna do Piraí, destaca-se pela grandeza de sua história, marcada pelos antigos casarios dos Barões do Café. Piraí tem um dos melhores carnavais da região, uma cultura imaterial nacional, o Piraí Fest, festival de gastronomia, e muitos outros eventos culturais. Nos últimos anos, Piraí passou a ganhar mais destaque no cenário regional e até mesmo nacional. Acredito que a maior falta é interesse e apoio, tanto pela administração pública quanto privada. Temos hoje a Casa de Cultura de Piraí, um belíssimo prédio restaurado onde funcionoiu a antiga delegacia e casa de detenção do município. É claro que grandes obras necessitam de ambiente controlado para a ideal exposição, mas para divulgar, valorizar e popularizar a arte e cultura basta o interesse de se fazer. É considerado de grande importância associar a cultura à formação de uma sociedade, promovendo iniciativas conjuntas que valorizem nosso patrimônio e deem respostas sócio-econômicas às políticas públicas, em inúmeros os setores. O desenvolvimento de estratégias de ação é prioritário para consolidar o patrimônio cultural e artístico, em especial em regiões de reconhecida importância histórica e ciclos econômicos que representaram uma determinada época de desenvolvimento, com suas respectivas heranças sócio-culturais. Arnaldo Niskier, ex secretário de Estado e Cultura do Rio de Janeiro , fundamenta a interiorização da arte e cultura afirmando: 

"É de suma importância a interiorização da ação cultural, incentivando a criação de núcleos municipais de cultura nas mais diversas e longínquas prefeituras, ativando pólos regionais de integração e interação, respeitando a diversidade, valorizando as manifestações espontâneas e promovendo iniciativas locais de reconhecido valor e tradição". 

Qual ou quais seriam os caminhos para tornar mais popular o acesso às artes plásticas?

Infelizmente em nossa realidade não há o apelo popular para esses eventos. Vejo que primeiramente devamos pensar na base, em nossas crianças, na formação do olhar crítico. A instrução, a educação formal, não basta a ninguém, ela dá as ferramentas para a busca das informações, porém nada vale se não a complementa uma formação cultural mais ampla, se não dá a quem a usa o acesso ao patrimônio reunido. Este patrimônio se faz nas galerias de arte e nos centros de cultura e arte, cada vez menos meras instituições de guarda e exposição de objetos raros. Acredito que precisamos levar a escola à arte e e arte à escola com maior frequência do que se apresenta. 

Projetos. O que vem por aí?

Produção! No segmento das artes plásticas tenho muitas ideias, algumas séries inacabadas e novos trabalhos que podem formar novas séries, como os volumétricos e colagens que quero explorar. Preparo também uma série de fotos, sempre trabalhando a geometria e a veia abstrata construtivista. Estudo propostas de representações em São Paulo. Na arquitetura tenho meu escritório Espaço Previsto Arquitetura, com foco em edificações e interiores corporativos, residenciais e hospitalares atuando no eixo Rio/São Paulo. 

> Veja aqui outras obras de Steven Julie  

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Serviço
 

> 15ª Galeria Rio Sul - Até 23 de junho. Visitação: de segunda a sexta-feira, das 9 às 22h, e aos sábados, das 8 ao meio-dia. Corredor Cultural da Associação Educacional Dom Bosco, na Avenida Coronel Professor Antonio Esteves, no Campo de Aviação, em Resende.

Edição impressa

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Por Cláudio Alcântara  –  claudioalcantaravr@hotmail.com

1 Comentário

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  • Edivane Lage

    É um prazer fazer comentários sobre o profissional Steven Julie. Ele que trabalhou comigo, como estagiário de arquitetura na Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Piraí. Um amigo, companheiro, parceiro. Sempre foi muito bom, criativo. O admiro!
    Que Deus o abençoe, meu amigo Steven! Um beijo no seu coração